Sob críticas, Lava Jato faz de Lula protagonista de nova fase da operação
Empreendimento no Guarujá teria sido usado pela OAS como pagamento de propina
O ano começou oficialmente para a Lava Jato com a 22ª fase da operação, batizada de Triplo X, deflagrada nesta quarta-feira. A força-tarefa investiga se a empreiteira OAS lavou dinheiro fruto de propina envolvendo o escândalo de corrupção via negócios imobiliários - a cúpula da empresa já foi condenada por formação de cartel. No entanto, um personagem secundário nas ações de hoje roubou a cena: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Isso porque um dos empreendimentos sob suspeita é o Solaris, no Guarujá, conjunto de prédios de alto padrão tríplex, onde a mulher de Lula, Marisa, tem um investimento. De acordo com as apurações preliminares, uma das unidades do prédio seria reservada para a família do petista, e outra para João Vaccari Neto, ex-tesoureiro da legenda preso pela Lava Jato. É a segunda vez este ano que o nome do ex-presidente aparece vinculado à operação. Desde a fase anterior, que mirou um amigo do petista, o pecuarista José Carlos Bumlai, aumenta a expectativa e as especulações de que ele seja oficialmente enredado no esquema.
Inicialmente a torre começou a ser construída pela Bancoop (Cooperativa Habitacional dos Bancários de SP) – que já teve Vaccari como presidente – mas foi posteriormente transferida para a OAS. O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima afirmou que “se houver apartamento lá que esteja em seu nome [de Lula] ou negociado com alguém da sua família” será investigado, “como todos os outros”. “Temos indicativos do uso desses apartamentos para lavagem de dinheiro”, afirmou. O delegado Igor Romário, da Polícia Federal foi enfático ao dizer que “todo o empreendimento está sob investigação”, não apenas alguma unidade específica. Em nota o Instituto Lula afirmou que o ex-presidente “jamais ocultou que esta [sua mulher, Marisa], possui cota de um empreendimento em Guarujá, adquirida da extinta Bancoop e que foi declarada à Receita Federal”. Leia a nota na íntegra abaixo.
A Lava Jato se expande mais uma vez quando é alvo de ofensiva dos advogados de defesa. Na semana passada, mais de cem advogados, incluindo criminalistas responsáveis pela defesa dos principais acusados, como Marcelo Odebrecht, assinaram um manifesto publicado na imprensa no qual acusam os investigadores do caso de violar os direitos dos acusados e de promover “vazamento seletivo” de informações sigilosas. O ex-presidente Lula também fez críticas à operação. Em conversa com blogueiros, disse que "o grande prêmio para os delatores é envolver o Lula".
Nota do Instituto Lula
"Dona Marisa Letícia Lula da Silva adquiriu, em 2005, uma cota de participação da Bancoop, quitada em 2010, referente a um apartamento, que tinha como previsão de entrega 2007. Com o atraso, os cooperados decidiram em assembleia, no final de 2009, transferir a conclusão do empreendimento à OAS. A obra foi entregue pela construtora em 2013. Neste processo, todos os cooperados puderam optar por pedir ressarcimento do valor pago ou comprar um apartamento no empreendimento. À época, Dona Marisa não optou por nenhuma destas alternativas esperando a solução da totalidade dos casos dos cooperados do empreendimento. Como este processo está sendo finalizado, ela agora avalia se optará pelo ressarcimento do montante pago ou pela aquisição de algum apartamento, caso ainda haja unidades disponíveis. Qualquer das opções será exercida nas mesmas condições oferecidas a todos os cooperados."
Além do empreendimento, a 22ª fase também apura se a empresa Mossack Fonseca, uma offshores com sede no Panamá, se encarregou de abrir companhias semelhantes em paraísos fiscais para que investigados da Lava Jato pudessem ocultar ativos e lavar dinheiro. Pedro Barusco e Renato Duque, ex-diretores da Petrobras que assinaram acordo de delação premiada, teriam operado junto com a Fonseca. No total, foram cumpridos seis mandatos de prisão temporária, em São Paulo, Santo André, São Bernardo do Campo (SP) e Joaçaba (SC).
Uma das pessoas presas é a publicitária Nelci Warken, que foi ligada à Mossack. Ela também seria proprietária de um apartamento no Solaris e de contas no exterior, mas a força-tarefa acredita que ela seja uma “laranja” no esquema. “Não há indicativo de que ela tenha condições financeiras de manter o imóvel ou a offshore no exterior”, disse o procurador Lima. Ricardo Onório Neto e Renata Pereira Brito, da Mossack Fonseca, também foram detidos. Dois mandados de prisão contra suspeitos que se encontram no exterior ainda não foram cumpridos. O delegado Igor de Paula afirmou que “a Mossack é bem mais ampla do que o caso Lava Jato”, uma vez que a empresa “tem demanda, porque a demanda de dinheiro sujo no Brasil é farta e precisa ser lavado”. A reportagem não conseguiu entrar em contato com os advogados das três pessoas detidas.
Vazamentos
No início do ano vazamentos de informações da investigação citaram os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Fernando Collor de Melo (PTB-AL) e a atual mandatária Dilma Rousseff. Além dos quatro, o chefe da Casa Civil da petista e homem-forte em evidência no Governo, Jaques Wagner, também aparece em delações premiadas. Até o momento, apenas o petebista é alvo de acusações formais por parte da Procuradoria-Geral da República, mas existe a expectativa de que a menção a nomes ligados ao Governo possa colocar mais lenha na fogueira da crise política, em um momento no qual o Planalto parecia respirar ares mais tranquilos após um 2015 massacrante.
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