Barcelona deixa o Real Madrid atordoado: 4 a 0 no Bernabéu
O Barça arrasa seu grande rival e a torcida do Real pede a demissão de Florentino Pérez
Um Barça excelente e livre abriu em Madri uma ferida profunda e inquietante para a equipe do Real, derrotada no esporte e jogando em casa. Todos os blancos saíram em má situação do clássico: o técnico, os jogadores e o presidente, Florentino Pérez, a quem as pessoas pediram a demissão no intervalo e em vários momentos do segundo tempo. Na sequência final, com a arquibancada principal do estádio já vazia, o volume musical sufocou o vozerio. As vaias anteriores contra a diretoria resultaram em um feito insólito. A torcida, tão desconcertada diante da movimentação do Barcelona, já não sabia para onde apontar e atirou para todos os lados. Ninguém se salvou e ninguém recebeu mais aplausos do que Iniesta. Os torcedores do Real têm bom gosto. Como entre os deles não havia a quem defender, os espectadores acabaram por se desafogar com uma vaia a Isco, retrato do descontrole, com um chute por trás em Neymar que lhe valeu a expulsão.
Real Madrid, 0 - Barcelona, 4
Santiago Bernabéu: 80.000 espectadores.
O Real se organizou à vontade nos bastidores, como até agora não havia feito o técnico. No grande dia, Rafa Benítez foi Carlo Ancelotti, saiu do núcleo do italiano e despachou para o banco Casemiro, sua principal aposta. Aliviada a enfermaria, era preciso fazer eco aos atores principais, aos da grande passarela. Em resposta, viu-se um Real mumificado, trêmulo, sem pulso, deslocado. Tudo diante de um Barça que lhe tirou a bola e o ânimo. E pior ainda: com Messi na sala de espera até o 3 x 0, satisfeito com a enésima jogada bem sucedida de Luis Suárez e Neymar, duas máquinas. Se ao ridículo acrescentarmos a arte de Iniesta, o timing de Busquets e o nível de Sergi Roberto...
Impossível para este Real desarticulado, sem um pingo de Cristiano, cujos únicos avanços foram dois duelos frustrados por Bravo quando a partida já parecia amadora, com o goleiro chileno em alta e os visitantes com pouca gana diante de Keylor Navas. Também não houve sequer uma migalha de Bale, um rastro de quem já foi. Hoje poucos vestem a camisa. Um final escandaloso para o Real. No Bernabéu o fogo já está sendo atiçado, veremos onde isso vai dar.
Em campo só apareceu de leve um Real descolorido, à mercê dos barcelonistas, que se apresentaram com quatro volantes e não com três pontas, como de costume. Deu na mesma: o Barça cantou uma canção de ninar para seu rival, batendo um papo com a bola e protegendo seus espaços, sempre com manobras azuis-grenás pelo gramado. Os blancos, diante da dificuldade, se precipitavam quando ganhavam alguma vantagem, que foram bem poucas, e não tinham raça para apertar o adversário. De um bate-papo tranquilo com a bola veio o primeiro gol. Em meio a esse futebol que o distingue, avançou Sergi Roberto. O garoto venceu a defesa morna adversária e se conectou a Luis Suárez com olho clínico, que armou um disparo estupendo, definitivo, com a lateral externa do pé. Um toquezinho a mais e Sergio Ramos o teria encurralado.
Ao ato inicial do uruguaio se associou Neymar, que decidiu atormentar seu compatriota Danilo, em uma tarde calamitosa. Pela lateral esquerda do ataque culé [apelido dos torcedores do Barcelona] também emergiu um Iniesta imperial, esse que joga com um termômetro nas chuteiras: agora despisto um inimigo, depois paro por aqui e mando para lá. Foi dele a roubada de bola de Modric que resultou em uma assistência com precisão de cirurgião para Neymar, que furou Keylor pela esquerda – em dias como esses, Keylor não faz milagres. O Real defensivo de Benítez se destacou pelo incomum vacilo de Varane e o sofrimento de Danilo. Enquanto houve esforço, desse Madrid ofensivo autoproclamado pelo treinador para o público, só restaram traços com duas jogadas de Marcelo e James, recém chegado ao segundo tempo. O Real perseguia moscas sem esperanças.
Benítez não corrigiu nada depois do intervalo, mas o Barça, pilotado por Iniesta e Busquets, bem amparado por Piqué e com dois picadores à caça, compreendeu que ainda precisava dar um passo a mais. Nem nos piores momentos convém confiar no Real: diz a lenda, não o presente. Então os rapazes de Luis Enrique resolveram se garantir. Outra vez Iniesta à frente. Outra grande jogada, uma parede com Neymar que o brasileiro lhe devolveu de calcanhar e que o meia fechou com um míssil à esquerda de Navas. O Bernabéu era uma caldeira, exceto para os torcedores azuis-grenás. Só eles tinham motivos para a festa, com sua equipe líder, com seis pontos de vantagem sobre o grande rival, com Messi de volta e já jogando com bom ritmo e Arda e Vidal a ponto de estrear.
Para o Real, um desengano colossal, maculado pelo PSG, fulminado em Sevilla e atropelado pelo Barça. Não há dúvida de que o desequilíbrio esportivo e institucional, com um treinador que já não soa tão autêntico depois de vacilar no jogo de hoje, um Cristiano perdido ultimamente e o presidente questionado como nunca. O futebol vai e vem, mas hoje o Barça voou e o Real come as próprias entranhas e já não sabe onde isso vai dar. Jogadores? Não param de chegar. Técnicos? Entram e saem, entram e saem. E daí?
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.