O candidato do PMDB a prefeito do Rio encalha em gabinetes de crise
Pedro Paulo se complica com novos detalhes de escândalo de violência doméstica
A corrida eleitoral do PMDB para seguir governando a Cidade Olímpica a partir de outubro do ano que vem está sendo decidida mais em gabinetes de crise do que em inaugurações de grandes obras. Candidato de consenso do maior partido do país e aliado da presidenta Dilma Rousseff, o secretario municipal Pedro Paulo Carvalho enfrenta há mais de um mês uma mácula no currículo difícil de contornar: ter agredido, em pelo menos duas ocasiões, sua ex-mulher, Alexandra Mendes Marcondes.
Embora até o próprio Pedro Paulo tenha cogitado desistir da candidatura, o prefeito Eduardo Paes, cogitado pela sigla para disputar o Planalto em 2018, mantém a aposta e fala da agressão como um assunto privado do seu fiel aliado. “Não há plano B”, disse este domingo em entrevista a O Globo. O PMDB também reiterou seu apoio e não cogita outro nome para a sucessão de Paes. “As notícias envolvendo o seu nome já foram esclarecidas e não são motivo de preocupação do PMDB-RJ”, disse o partido em nota.
O primeiro golpe do qual Pedro Paulo teve de se esquivar, antes de ser um rosto amplamente conhecido pelos cariocas, foi em outubro, quando a revista Veja divulgou um boletim de ocorrência e um laudo médico onde se documentava uma agressão do secretario à ex-mulher em 2010. Segundo foi relatado na época, Alexandra teria descoberto a traição do marido no apartamento familiar e a discussão acabou na delegacia. A mulher denunciou ter recebido socos e pontapés de Pedro Paulo e um médico legista certificou que ela perdeu um dente em decorrência das agressões.
Pedro Paulo demorou a fazer frente às acusações. A Prefeitura respondeu a publicação com uma declaração da ex-mulher, assinada em cartório, onde negava tudo e reconhecia ter inventado o episódio. Mas a bola foi crescendo e o secretario resolveu reconhecer o que ele chamou de “episódio superado” em várias entrevistas. Nas conversas com os jornalistas Pedro Paulo assegurou que foi um único caso de violência, que a discussão fugiu do controle. O mea culpa apresentava um homem reconhecendo o erro e pedindo perdão, mas o episódio não tinha sido o único. Menos de uma semana depois, um novo boletim de ocorrência, de 2008, apareceu. Nele, Alexandra relatava como Pedro Paulo a chamava de “piranha” enquanto lhe aplicava socos no rosto e no corpo na presença da filha de então dois anos.
A imprensa local relata que Pedro Paulo ocultou esse segundo episódio até de seus aliados, crente de que ele nunca viria à luz. Após uma noite em claro refazendo a estratégia, o secretario convocou os jornalistas para um coletiva de imprensa na última quinta-feira, no mesmo horário em que uma multitudinária marcha de mulheres começava no centro do Rio reivindicando pautas feministas. A ex-mulher Alexandra o acompanhou, e se expôs para defender o ex-marido: “Ele não é um cara agressivo”. Alexandra afirmou que os jornalistas tinham convertido a vida da família em um inferno. E Pedro Paulo justificou-se: "Quem não tem uma briga dentro de casa? Quem não tem um descontrole? Quem não exagera numa discussão? Fomos um casal como qualquer outro. Quem não passa isso? Quem às vezes não perde o seu controle? Agora não achar que isso possa ser uma coisa normal na nossa vida...” Para completar o quadro, os atuais parceiros do ex-casal assistiam a tudo da primeira fila.
A insistência de Paes de manter Pedro Paulo na candidatura é vista como um tiro no pé por vários analistas. "Por que Eduardo Paes está insistindo tanto? Ele não tem muita opção, ele quer um continuador do projeto dele. Mas ele não está avaliando algo muito importante, essa candidatura naufraga em um momento em que as feministas estão colocando suas pautas nas ruas. Do ponto de vista das mulheres, esse episódio atingiu mortalmente a candidatura. Paes foi bastante infeliz ao querer separar o público do privado, a vida privada de um homem público é também pública", avalia a socióloga política e professora da FGV, Dulce Pandolfi.
O PMDB confia em que o tempo diluirá o caso. Não será agora, mas durante o ano que resta até as eleições e confiando no sucesso da organização dos Jogos Olímpicos. A aposta por Pedro Paulo foi fruto de uma acirrada negociação com o presidente da Assembleia Legislativa do Rio, o todo-poderoso Jorge Picciani, que apostava por seu filho Leonardo Picciani para substituir a Paes. A articulação do feudo peemedebista acabou promovendo Leonardo a diretor de orquestra da bancada peemedebista em Brasília e o irmão dele, Rafael Picciani, a secretário de Transportes de Paes. Picciani acabou aceitando, assim, a condução de Paes da própria sucessão. Hoje nenhuma alternativa é consenso no partido, o que, segundo a Folha de S. Paulo, será o principal salva-vidas para o secretario Pedro Paulo se manter à tona.
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