Angus Deaton, Nobel de Economia por estudos da pobreza e do bem-estar
O matemático escocês é muito crítico às políticas de austeridade aplicadas pela Europa
A Real Academia de Ciências da Suécia premiou nesta segunda-feira o professor escocês-americano Angus Deaton (Edimburgo, 1945) com o Nobel de Economia em reconhecimento a “sua análise sobre o consumo, a pobreza e o bem-estar social”. Deaton é catedrático da Universidade de Princeton (Estados Unidos). Matemático de formação, é talvez o melhor conhecedor da economia de áreas rurais na Índia, para onde foi por se tratar de um lugar tão diferente de sua Escócia natal. Deaton conseguiu, além disso, relacionar as opções individuais com os indicadores agregados, pondo em contato o mundo da microeconomia com o da macroeconomia e ajudando a transformar seu estudo e compreensão.
O júri assinala que o trabalho do estudioso britânico teve “grande influência” sobre as políticas implementadas nas últimas décadas no campo da pobreza e ajudou, por exemplo, a determinar que grupos sociais sofrem mais com o incremento da pressão fiscal sobre bens de consumo básico como os alimentos. “Para elaborar políticas econômicas que proponham o bem-estar e a redução da pobreza, primeiro devemos compreender as decisões individuais de consumo. E Deaton contribuiu, mais que ninguém, para melhorar esta compreensão”, acrescenta.
Em 2011, Deaton –membro da Academia Britânica, da Academia de Artes e Ciências dos Estados Unidos e da Sociedade Econométrica e presidente da Associação Norte-americana de Economia– ganhou o prêmio Fundação BBVA Fronteiras do Conhecimento em Economia e Finanças. Atualmente se concentra no estudo dos determinantes da saúde tanto em países pobres como em nações desenvolvidas, assim como na medição da pobreza em todo o mundo.
O professor escocês de 69 anos, que se define como keynesiano, foi uma das vozes mais críticas contra a austeridade nos últimos anos. “Todos queríamos ser felizes, mas uma grande parte do mundo está hoje preocupada porque os programas de austeridade que muitos países padecem nos deixarão infelizes, talvez por muitos anos”, escreveu o laureado em um artigo publicado no EL PAÍS em março de 2012. Nele atacava as políticas de austeridade, adotadas sobretudo na Europa. “Reduzem a renda, cortam benefícios e destroem empregos”, sentenciava no texto.
Além da medição da pobreza e da desigualdade, a obra de Deaton gira em torno de duas grandes áreas: a distribuição de renda dos consumidores entre diferentes bens e serviços e a poupança e consumo do conjunto da sociedade. Sobre as decisões individuais de consumo, Deaton propôs o Sistema Quase Ideal de Demandas (AIDS, na sigla em inglês), um método “flexível mas simples”, segundo suas próprias palavras, para avaliar como a demanda de um determinado produto depende do preço de todos os bens e serviços e da renda do consumidor. Essa contribuição se tornou uma ferramenta padrão em seu âmbito de estudo.
No campo da poupança e do consumo agregado, Deaton demonstrou, segundo a Academia sueca, que “a análise dos dados individuais” de renda e consumo é “essencial” para explicar os padrões que logo se percebem nos dados macroeconômicos. Sua análise serve, explica a decisão, para “explicar a formação de capital e as magnitudes dos ciclos empresariais”.
Em sua última obra, The Great Escape, publicada em 2013, Deaton fala de como, no mundo moderno, um grande número de pessoas escapou da pobreza e da morte prematura que eram norma séculos atrás. Nessa publicação o catedrático de Princeton não só relata os avanços do bem-estar, como também menciona as sociedades que não conseguiram aderir a essa etapa de bem-estar, uma situação pela qual, acredita, são mais culpados os maus governos do que a falta de recursos.
É o segundo ano consecutivo em que esse prêmio é concedido a um único candidato. No ano passado, o laureado foi o francês Jean Tirole. A Academia sueca alerta que, tecnicamente, o prêmio “não é um Nobel”, já que é a única das seis condecorações que não foi designada em seu legado pelo magnata sueco Alfred Nobel, que estabeleceu a premiação em seu testamento em 1895.
Apesar disso, tem a mesma dotação, 8 milhões de coroas suecas (3,6 milhões de reais) e é entregue junto com as demais condecorações em 10 de dezembro, aniversário de falecimento do inventor da dinamite, em uma dupla cerimônia em Oslo, para o Nobel da Paz, e em Estocolmo, para o restante.
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