Nove restaurantes baratos em Lisboa
De uma antiga cantina de freiras a um terraço sobre o Tejo, opções deliciosas
Apenas Espanha e Chipre superam Portugal em número de restaurantes por habitante. E em Lisboa novas casas abrem constantemente, como, entre outras, hamburguerias gourmet, kebabs e lounges de vinhos a três euros a taça com vistas espetaculares. Felizmente o país e sua capital continuam sendo o último reduto gaulês da identidade gastronômica, o último refúgio contra a homogeneização cultural (e culinária) que assola o continente. E para apreciá-lo, apresentamos nove restaurantes muito genuínos sem sair de Lisboa.
01 Chinês clandestino
Mouraria
Não esperem uma placa na entrada, o estatuto legal do estabelecimento é motivo de discussão entre locais e forasteiros, mas todos o chamam de “o chinês clandestino”. Fica na rua Beco Barbadela, perto da praça Martim Moniz, nas profundezas do bairro da Mouraria, e é o rei dos restaurantes chineses de Lisboa; fica lotado mesmo em dias de semana. Na parte de cima se pode fumar, o vinho é barato e a comida é mais do mesmo, mas muito boa.
02 Cabaça
Bairro Alto
Pequeno, normalmente barulhento e muito português. Não aceita reservas: quem chega antes anota o nome com uma caneta em um papel amassado e gorduroso, pede uma garrafa de vinho da casa –adequado apenas para estômagos piratas– ou de alguma referência da adega e anima a espera bebendo na rua até ser chamado à mesa.
O cardápio do Cabaça (rua das Gáveas, 8) é bastante variado, mas a estrela indiscutível é o naco na pedra, ou picanha na pedra; basicamente carne de vaca crua em pedaços grandes ou fatiada, servida em uma pedra abrasadora e que cada comensal cozinha a seu gosto e capricho na própria mesa. Poucos restaurantes são capazes de superar a quantidade de batatas fritas servidas por cabeça.
03 Bela Sintra
Baixa
Na Baixa de Lisboa é difícil comer bem e barato. Restaurantes com guarda-sóis se espalham por todos os lugares atraindo turistas e disparando os preços, enquanto os estabelecimentos tradicionais escasseiam cada vez mais. Há algumas exceções, mas considerando as dimensões (diminutas) dos estabelecimentos, os preços, a qualidade dos pratos e a simpatia do proprietário... o Bela Sintra (rua Conceição, 44) é um verdadeiro oásis nesse bairro central e popular. Não se oriente pelo letreiro da porta –que diz Pastelaria (doceria)– porque o interior propõe, de fato, uma oferta variada de cozinha portuguesa. O famoso bonde 28 passa na porta, portanto de Prazeres, a oeste da cidade, como dos bairros da Graça e da Alfama, no leste, é fácil chegar ao restaurante Bela Sintra em menos tempo do que se leva para dizer “carne de porco à Alentejana”. Abre durante o dia todo (até as 19h) e é um lugar perfeito se queremos homenagear a gastronomia lusa fora de hora.
04 Cantina das Freiras
Chiado/Cais do Sodré
Apesar de ser popularmente chamado de Cantina das Freiras, seu nome verdadeiro é Associação Católica Internacional ao Serviço da Juventude Feminina. Até quarenta anos atrás, só podiam entrar ali raparigas que traziam seu almoço, que era permitido esquentar nos fogões da cozinha. Hoje é um restaurante com uma vista fabulosa do rio Tejo e a margem oposta a Lisboa. Tem mais: você não vai encontrar melhor cozinha a esses preços em toda a cidade.
A cantina abre de segunda a sexta-feira, oferece um serviço de bufê que não tem nada a invejar de qualquer outro restaurante à la carte. Tampouco há alguma placa na rua para localizá-lo: é preciso encontrar o número 1 da Travessa do Ferragial e subir ao segundo andar. Você será recebido por freiras sérias e discretas que o convidará a desfrutar do terraço, para muitos, uma das sete maravilhas da cultura lusa.
05 O Cervejaria O Ramiro
Intendente
Considerado um dos melhores restaurantes de frutos do mar de Lisboa, seus preços continuam muito acessíveis. Fundado por galegos em 1956 e dirigido pelos filhos dos primeiros proprietários, alguns pratos da Cervejaria O Ramiro (avenida Almirante Reis, 1) são bastante elaborados, mas o mais pedido pelos fregueses são frutos do mar frescos cozidos apenas com sal: perceves, caranguejos, camarões, amêijoas, mexilhões... As melhores glórias do mar preparadas com muito amor galego. Também não aceita reservas e na maioria dos dias é preciso fazer fila, mas a espera vale a pena.
06 Recreativa Dos Anjos
Anjos
De terça a sexta-feira, entre uma e três horas da tarde e, depois, a partir das oito da noite (enquanto durarem os estoques), a Recreativa Dos Anjos (rua dos Anjos, 17), conhecida como RDA 69, oferece a cozinha vegana mais grata ao paladar e pelo melhor preço da cidade. Na verdade, é uma cantina cooperativa pertencente a um clube recreativo igualmente administrado de forma comunitária e altruísta. Sempre há voluntários servindo o primeiro e o segundo prato, mas uma vez terminada a refeição, cada comensal lava seu prato e talheres na pia comunitária.
O único inconveniente é que fecha às segundas-feiras e sábados, mas aos domingos abre seu forno a lenha para o público e qualquer pessoa pode assar seu próprio pão, bolos ou compartilhar as receitas da vovó com outros entusiastas da cozinha em forno tradicional.
07 Farol
Cacilhas (Setúbal)
Quando chegamos à Praça do Comercio ou ao Cais do Sodré e olhamos para além do Tejo, o que vemos já não é Lisboa, mas a península de Setúbal. Aqui se encontra o Conselho de Almada e, dentro dele, a freguesia de Cacilhas. Na balsa (apelidada de cacilheiro) chegamos a este curioso bairro em cerca de 15 minutos. E na outra margem fica um dos melhores restaurantes da região para comer peixes e frutos do mar procedentes dos viveiros locais. No Farol (largo Alfredo Dinis, 1, Almada), a mais antiga cervejaria de Setúbal, hoje um restaurante familiar, o salmão na brasa, o linguado e o caranguejo, que aqui se chama “sapateira”, são os reis do cardápio.
08 e 09 Ponto Final e Atira-te ao Rio!
Cacilhas (Setúbal)
E já que estamos na “outra banda” do Tejo, podemos descobrir no fim do passeio Cais do Ginjal –um velho muro cheio de antigos guindastes enferrujados, velhos armazéns cobertos de grafites e esqueletos de edifícios –duas boas opções para comer ou até mesmo tomar o primeiro gin-tônica da tarde. Ambos oferecem um peixe muito bom e uma cozinha muito portuguesa, mas mais moderna do que a do Farol. O melhor do Ponto Final e do Atira-te ao Rio é a vista de Lisboa, da ponte 25 de abril e, principalmente, o pôr do sol, cuja luz você não encontrará em nenhum outro mirante de Lisboa.
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