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Brasil vive o pesadelo de não ir à Copa

O futebol do “país tropical” parece ter imitado o presidente da CBF: não foi a Santiago

Elias e Miranda após o jogo.
Elias e Miranda após o jogo.Martin Mejia (AP)

Tem muito jogo pela frente, mas a seleção canarinha, sob o grito de olé dos chilenos, só reforçou a sensação de muitos brasileiros: ficar, pela primeira vez na história, fora de uma Copa do Mundo. Segue o pesadelo dos 7x1. Com esse “sonho intranquilo”, o time de Dunga voltou do Chile mais cedo na Copa América. Agora retorna ao país de Neruda com uma feição mais mal-assombrada ainda. O terror coletivo se tornou explícito em cada face, sob o close das câmeras, depois da peleja.

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O futebol do “país tropical abençoado por Deus e bonito por natureza”, como na lírica genial de Jorge Benjor, parece ter imitado o Del Nero, presidente da CBF: não foi a Santiago nesta noite. O cartola-mor, depois das prisões dos capos da jogatina suja feitas pelo FBI, não cruza o raio-x dos aeroportos.

E o que o 11 dunguista fez em campo? Jogou na moral da covardia de acreditar em um empate. Até o roupeiro mentalizou esse empate passado e repassado pelo técnico. As transmissões da tevê brasileira, que acabam mimetizando de certa forma essa vontade, tornaram ainda mais abertas o clamor por um 0x0 contra o eterno freguês.

Faltou imaginação. Nossa rima mais pobre no momento na política e no futebol: falta imaginação na situação, no inconsciente golpista (vulgo memória histórica!) da oposição e ainda mais na seleção. Eis o estadão das coisas, meu caro Wim Wenders — só pra zonear com o título de um dos seus filmes aqui nos trópicos.

Todo brasileiro tem moral para falar também tecnicamente. Bora nessa. Tudo bem, se a onda era esperar, esperar, esperar e jogar no contra-ataque, por que aquele menino Oscar que não acerta um passe final e parece que até virou inglês de tão cool, no sentido de frio, não no sentido de bacanudo? O Hulk também só me lembrou os tanques do tempo dos milicos.

William jogou alguma bola, Elias sentiu saudade do Tite, seu ótimo técnico do Corinthians, mandou a bola e não seguiu atrás dela, ficou proibidão, para continuar na crise superlativa do “ão”, nossa paupérrima e exclusiva rima da língua portuguesa.

Em vez de organizar a fantasia, temos um técnico que administra a covardia e pensa no jogo como uma guerra pragmática. Assim fomos este ano ao Chile, assim voltamos. Neste 2x0 nem deu tempo, como naquele fim de relacionamento amoroso, meu caro Chico Buarque, de devolver o Neruda que o brasileiro nunca leu. Foi pouco.

Xico Sá, escritor e jornalista, é comentarista do “Redação Sportv”, e autor de “Os Machões Dançaram” (editora Record).

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