Brasília entra em ebulição com a nova fase da Operação Lava Jato
Às vésperas do recesso, investigação de políticos adia calmaria aguardada pelo Governo
A sequência implacável de derrotas que os Governo Dilma Rousseff acumula neste ano no Congresso Nacional terá seu primeiro refresco a partir desta sexta-feira, quando os parlamentares entram em recesso por duas semanas. Mas a aguardada calmaria projetada pelos governistas para os próximos dias em Brasília não deve se estabelecer, graças à mais recente etapa da Operação Lava Jato. Um dia após policiais federais apreenderem três carros de luxo na casa do senador e ex-presidente da República Fernando Collor, o presidente do Senado, Renan Calheiros, ele próprio também investigado no escândalo, informou que pretende questionar a ação policial no Supremo Tribunal Federal (STF).
"Os Poderes precisam, mais do que nunca, estar voltados para as garantias individuais e coletivas", disse Renan, questionado sobre a fase Politeia da Lava Jato. O peemedebista disse que pretende conversar acerca do assunto com o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, e que o Senado, onde uma dúzia de parlmentares são alvo da Lava Jato, "estuda" ingressar com uma ação no Supremo por conta das buscas da PF. No início da noite, Lewandowski reagiu. Por nota, informou que determinou que a Secretaria Judiciária do STF forneça cópia integral dos autos aos advogados dos parlamentares investigados, para “assegurar a estrita observância das garantias constitucionais, em especial a da ampla defesa”.
Nessa queda de braço, que envolve ainda ataques de parlamentares ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pode acabar sobrando para o Governo, pois os parlamentares afetados pela investigação enxergam a mão do Palácio do Planalto nas ações da PF — apesar dos evidentes danos de toda a questão para os planos de Dilma. Estariam planejando retaliar com a criação de novas comissões parlamentares de inquérito, entre elas a que pretende investigar o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Em depoimento prestado à CPI da Petrobras nesta quarta-feira, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, garantiu que jamais atuará "no sentido de controlar ou direcionar as investigações" da PF. Cardozo aproveitou o depoimento para destacar a “honestidade” e a correção da presidenta Dilma, acrescentando ter certeza de que "nenhum fato relativo à corrupção, desvio de dinheiro ou improbidade chegará perto da presidente". Horas antes, ao comentar a crise econômica durante agenda em Santa Catarina, Dilma disse que "é preciso humildade para reconhecer que se passa por dificuldade, mas também é preciso coragem e dignidade para poder superar as dificuldades".
Temer e 2018
Seu vice-presidente, Michel Temer, não parece, contudo, na mesma sintonia que a mandatária. Em meio à tensão política, Temer, que é o atual articulador político do Palácio do Planalto e cujo partido pode ser determinante no desfecho da crise, preferiu mirar para o futuro. Disse, durante evento do PMDB, que seu partido pretende lançar um candidato à presidência em 2018: "Nós estamos abertos para novas alianças, com todos os partidos. Apenas o que está sendo estabelecido é que o PMDB quer ser, digamos assim, cabeça de chapa em 2018". No mesmo evento, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, outro investigado na Lava Jato e à espera dos desdobramentos da investigação, endossou a vontade peemedebista de se separar do PT no futuro: "O PMDB sabe que, em 2018, quer buscar o seu caminho, que não é com essa aliança", disse Cunha, que impôs as maiores derrotas parlamentares do segundo Governo Dilma.
Diante do quadro, o cientista político David Fleischer, professor da Universidade de Brasília (UnB). acredita que a Politeia, na verdade, "piora muito o cenário para Dilma". "Ela acha que ia ter duas semanas de folga, para respirar com o recesso do Congresso, mas parece que essa operação não vai deixar. E ela ainda tem medidas a aprovar por lá [como a desoneração da folha de pagamento, adiada para depois do recesso], e já vem demonstrando muita irritação, inclusive com notícias de cobranças ao ministro da Justiça sobre a Lava Jato", analisa o professor. Na prática, o Governo terá de encarar que a folga das próximas semanas será cancelada.
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