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Crise no Governo Dilma pode empurrar o PT para nova cisão

Militantes das correntes de esquerda podem dar origem a uma terceira debandada

Gil Alessi
A presidenta foi criticada até por Lula.
A presidenta foi criticada até por Lula.Roberto Stuckert Filho/PR

A situação do Governo de Dilma Rousseff, que sofre com baixos índices de aprovação está imerso em uma crise econômica e parece cada dia mais se curvar às pressões do PMDB no Congresso, pode empurrar o Partido dos Trabalhadores para uma nova cisão, de acordo com especialistas. Na história recente, a legenda, que vive sua própria crise atormentado pelo escândalo da Petrobras, já passou por um processo parecido outras duas vezes: em 1992, quando uma de suas correntes internas foi expulsa e deu origem ao PSTU, e em 2004, ano em que uma nova debandada de militantes deu origem ao PSOL. No final de abril, a Esquerda Marxista, uma das correntes mais radicais do partido, já aprovou em assembleia sua saída do PT.

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“Em 2005, durante um momento de crise provocada pelo mensalão, as alas moderadas do partido quase perderam as eleições internas”, explica Oswaldo Amaral, cientista político da Unicamp e autor do livro As transformações na organização interna do Partido dos Trabalhadores entre 1995 e 2009 (Alameda Editorial). Este grupo principal que lidera a legenda desde 1995 – conhecido como Construindo um Novo Brasil – é considerado “à direita” dentro do espectro político do PT. “Em momentos de crise, como agora, o bloco que comanda o partido acaba sendo alvo de muitas críticas das correntes de esquerda”, explica. Segundo o professor, dificilmente estas tendências mais radicais conseguirão ganhar as eleições internas do partido, e isso pode provocar novas cisões na legenda, como ocorreu no passado.

No Congresso do partido, realizado em junho, o abismo entre as lideranças petistas e seus militantes ficou claro: enquanto os políticos culpavam a mídia pela crise da legenda, boa parte dos militantes pedia uma alteração na política de alianças e uma guinada governamental para a esquerda.

O PSOL foi criado por dissidentes do PT que se diziam insatisfeitos com o que chamaram à época de “fisiologismo” do partido e com as “amplas alianças” estabelecidas pela coordenação da legenda. Mas hoje as críticas à atuação não partem só da esquerda política: o próprio ex-presidente Lula atacou o partido, que segundo ele só estaria interessado em “cargos”. “O Lula é um político. Ele está preocupado em se desvincular do Governo, já que ninguém quer ficar perto de um Governo com baixos índices de popularidade”, explica Amaral.

Ao lado de José Dirceu, o ex-presidente foi um dos artífices do processo chamado de modernização do partido: "Nos anos 90 houve um encontro onde o Lula chegou a chorar porque foi feita uma critica dura dos militantes pelo partido ter aceitado dinheiro de empresa", diz Amaral. Até então o dinheiro de empresa era malvisto. "Mas à partir de 94 as lideranças viram que só com doação de militante e venda de bandeirinha não conseguiriam vencer a eleição. O Dirceu comandou esse processo, de aproximação com o empresariado".

Basicamente são três fatores principais [que podem afastar os militantes], de ordem econômica, ética e política”

Parlamentares do próprio partido também têm criticado o Governo e principalmente o ajuste econômico implementado no segundo mandato de Dilma. O senador Lindbergh Farias tem criticado abertamente o ministro da Economia, Joaquim Levy. No mais recente pronunciamento, pediu que o Planalto se mire no exemplo da Grécia do esquerdista Syriza, que tenta resistir a um plano de austeridade.

O fogo-amigo não vem só de Lindbergh. Pouco tempo depois, foi a vez da Executiva Nacional do partido, reunida em São Paulo no dia 25 de junho, divulgar uma resolução na qual defende redução da meta de superávit e reversão da alta de juros, pilares da política econômica de Levy. O diretório central também mirou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e chegou a cogitar convocá-lo para dar explicações sobre o que militantes consideram "vazamentos seletivos" da operação Lava Jato.

Para o coordenador da área de Ciências Políticas da PUC-Rio, Eduardo Raposo, vários motivos podem empurrar militantes situados “à esquerda” dentro do PT para fora do partido. “Basicamente são três fatores principais: de ordem econômica, ética e política”, explica o professor. De acordo com ele, as correntes mais radicais dentro da legenda criticam a condução da economia e os ajustes do ministro Joaquim Levy: “Para alguns militantes a política de ajuste fiscal é uma coisa de direita, já foi dito inclusive que ajuste fiscal é coisa de tucano”.

Do ponto de vista ético e político, a crise provocada pelo escândalo de corrupção na Petrobras investigado pela operação Lava Jato é outro golpe que afasta do partido alas historicamente mais ligadas a movimentos sociais. Raposo afirma que o mensalão já representou um duro golpe à imagem do PT por abalar uma de suas principais virtudes, que era a ética. Neste cenário, “as novas investigações afastam ainda mais o partido de suas origens”.

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