Brasil e EUA: hora de transcender o estranhamento diplomático
A abertura do mercado norte-americano à nossa carne bovina in natura é dado positivo
O encontro da presidente Dilma Rousseff e o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, reforçou entendimentos e compromissos conjuntos que já vinham sendo debatidos entre os dois países nos últimos meses. O comunicado firmado pelos dois chefes de Estado prevê cooperação mútua em áreas como educação, ciência e defesa, mas as iniciativas relativas ao comércio e investimentos bilaterais merecem destaque. A intensificação comercial bilateral com os Estados Unidos, maior destino das exportações brasileiras de bens manufaturados, é de extrema relevância para o Brasil.
O trabalho de aproximação e troca de intenções já havia sido iniciado em março deste ano, quando o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), Armando Monteiro, liderou comitiva do governo que deu início a propostas concretas para o incremento das relações comerciais. Em abril, o encontro entre Dilma e Obama às margens da sétima Cúpula das Américas, realizada no Panamá, refletiu a intenção de estreitamento, sobretudo comercial.
No documento conjunto veiculado nesta terça, os presidentes destacaram avanços na área de facilitação de comércio, avaliação de conformidade e interesse em temas de convergência regulatória. Além do mais, houve o compromisso de compartilhamento de práticas público-privadas em busca de avançar em termos de competitividade e diversificação da pauta comercial de ambos os países.
Um dado positivo, uma vez que o distanciamento político teve um alto custo econômico para o país, que frequentemente perde oportunidades comerciais com os Estados Unidos para outras nações emergentes. Hoje o Brasil tem um déficit comercial de US$ 8 bilhões com os norte-americanos. Para além do favorecimento do fluxo de exportações brasileiras para aquele destino depois desta aproximação, está o fato da provável diminuição de custos e prazos para as operações de comércio exterior com a assinatura de um acordo bilateral que contemple iniciativas de facilitação de comércio.
Para a indústria e comércio, para além da promessa de aprimorar os esforços com o objetivo de aumentar os investimentos bilaterais, Dilma e Obama expressaram a intenção de assinar um Memorando Bilateral de Intenções em Padrões e Avaliação de Conformidade a fim de pautar as atividades industriais dos países em um documento formal com harmonização de padrões técnicos comuns.
Outro resultado comercial importante foi a abertura do mercado de carne bovina in natura norte-americano para as exportações brasileiras. Com efeito, após mais de quinze anos de negociações, foi anunciado, nessa segunda-feira (29), a abertura desse importante mercado pela ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Kátia Abreu. Uma vitória há muito tempo aguardada pelo setor pecuário.
Vale lembrar que no último dia 25 foi aprovada a renovação do Sistema Geral de Preferências (SGP) norte-americano que beneficia centenas de empresas médias no Brasil. Dada a importância das preferências tarifárias concedidas a inúmeros setores exportadores brasileiros para os Estados Unidos, esse também foi um avanço para muitas empresas brasileiras, que essa semana operam mais tranquilas.
Fato é que o Brasil só tem a ganhar com a reaproximação política e econômica com os Estados Unidos. Agora, inclusive com a perspectiva de um novo governo democrata em 2016, é o momento de transcender o estranhamento diplomático dos últimos anos, concretizar e sofisticar os acordos comerciais e regulatórios já desenhados, além de aproveitar as grandes janelas de oportunidades de investimentos e exportação de produtos de maior valor agregado que devem resultar da revitalização das relações bilaterais.
A visita de Dilma acontece em um momento de extrema relevância para o país. Em meio à desaceleração econômica, ao ajuste fiscal, a investigações de casos corrupção, a um conturbado contexto político interno marcado por uma crise de governança em potencial e a índices de aprovação presidencial em declínio, a visita ganha especial importância.
Ao que tudo indica, a viagem presidencial a Washington foi bem sucedida também em seu intuito de restaurar a confiança dos investidores externos na economia brasileira. Agora é esperar para ver se o entusiasmo presidencial permanece.
Renata Amaral é Doutora em Direito do Comércio Internacional por Maastricht University (Holanda) e pela Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc) e consultora em Comércio Internacional da Barral M Jorge Consultores.
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