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Manifestantes do dia 12 confiam mais em Bolsonaro que em Marina Silva

Pesquisa feita na Paulista revela descrença geral nos partidos, nos políticos e na imprensa

Manifestantes na Paulista.
Manifestantes na Paulista.NELSON ALMEIDA (AFP)

Os manifestantes que participaram dos manifestações anti-Dilma do último domingo na Avenida Paulista demonstram baixa confiança em geral nos políticos, mas não deixam de sinalizar algumas preferências. Perguntados em quem "confiam muito", o militar reformado e deputado federal Jair Bolsonaro sai na frente de Marina Silva, ambientalista candidata a presidente nas últimas eleições. A preferência foi apontada por uma pesquisa coordenada por Pablo Ortellado, professor do curso de Gestão de Políticas Públicas da USP, e Esther Solano, professora de relações internacionais da Unifesp. O levantamento foi feito durante a manifestação de domingo, com 571 pessoas.

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De acordo com o estudo, 19,4% confiam muito em Bolsonaro, e 14,7%, em Marina Silva, enquanto o governador paulista, Geraldo Alckmin (29,10%), é o melhor posicionado no quesito, com 29,10%. Alckmin ganha de seus companheiros de partido: o senador por São Paulo José Serra (24%) e o senador e ex-candidato à presidência Aécio Neves (22,60%) _outros 48,8% dizem que confiam pouco no mineiro, que tenta se aproximar das lideranças dos protestos. Dilma Rousseff (96,7%) e Lula (95%) tiveram o maior percentual de falta de confiança dos manifestantes.

O estudo revela a descrença dos manifestantes nos partidos, políticos e na imprensa. De maneira geral, 73% não confiam nos partidos, 70% não confiam nos políticos e 57% confiam pouco na imprensa. “Isso significa uma descrença meio que geral”, diz Pablo Ortellado.

Fotomontagem publicada por Bolsonaro em sua página do Facebook após o ato de domingo.
Fotomontagem publicada por Bolsonaro em sua página do Facebook após o ato de domingo.Reprodução

Algumas informações consideradas boatos pelos coordenadores da pesquisa, já que não há provas sobre elas, também foram medidas. A conclusão foi que 71% concordam com a afirmação que "Fabio Luis Lula da Silva, o Lulinha, é sócio da Friboi", o que levantaria a suspeita de uma ligação não muito clara do ex-presidente Lula com a empresa. Ainda, 56% creem que "o Foro de São Paulo (agremiação de alguns partidos de esquerda da América Latina criada na década de 90) quer criar uma ditadura bolivariana no Brasil"; 53% acham que "o Primeiro Comando da Capital (PCC) é um braço armado do PT", e 42% concordam que "o PT trouxe 50.000 haitianos para votar na Dilma nas últimas eleições".

Esse levantamento serviu também de termômetro para medir algumas opiniões dos participantes do movimento anti-Dilma: Em perguntas fechadas, 64% acham que "o PT quer implantar um regime comunista no Brasil", 85% acreditam que "os desvios da Petrobras são o maior caso de corrupção da história do Brasil", 71% acham que "cotas nas universidades geram mais racismo" e para 60,4% dos manifestantes, "o Bolsa-Família só financia preguiçoso".

Dentre os partidos, o PT apareceu com o percentual mais de desconfiança: 96% afirmaram não confiar, seguido do PMDB (82%). Alinhados com um discurso à direita, os manifestantes disseram confiar tanto no PSOL (1,9%), partido de esquerda, da candidata à presidência Luciana Genro, quanto no PMDB (1,4%) de Eduardo Cunha. “Esse é mais um fator que aponta para um descrédito total das pessoas”, diz Ortellado.

Avaliação dos mobilizadores

Por outro lado, a confiança nos movimentos sociais, se mostrou maior que nos partidos. Segundo o levantamento, 30,5% confiam muito nos movimentos, de maneira geral. O 'Vem pra Rua' ficou em primeiro lugar: 71% afirmaram confiar muito nesse movimento, contra 52,7% para o Movimento Brasil Livre (MBL). Enquanto 79% não confiam no Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), 25% confiam muito no Movimento Passe Livre. Para Ortellado, dois fatores explicam essa confiança no movimento que luta pela tarifa zero no Brasil: “O MPL é uma força genuinamente e legitimamente apartidária”, diz. “Além disso, as pessoas só estão nas ruas por conta das manifestações de junho de 2013, e quem levantou esse movimento foi MPL.”

No âmbito da imprensa, a polêmica âncora do Jornal do SBT, Raquel Sherazade, conhecida por defender a "justiça com as próprias mãos", foi apontada pelos manifestantes (49,5%) como a figura em quem eles mais confiam. Por outro lado, William Bonner, apresentador e editor-chefe do Jornal Nacional, aparece com o maior índice dos que ‘não confiam’: 27,7%. Da mesma maneira, o Jornal Nacional é o veículo em que menos confiam (37%), e revista Veja, em quem mais confiam (52%). Confiam muito no EL PAÍS 9,5%, e 14,7% não confiam, sendo que 58,5% afirmaram não conhecer este veículo.

Ainda que o número de manifestantes tenha sido alto no último domingo, a redução da quantidade de gente nas ruas, segundo diz Ortellado, não tem grande significado. “O processo de mobilização social tem essa dinâmica”, diz. “Para você manter uma mobilização ascendente, é preciso haver um fato político”. Segundo ele, mobilizar as pessoas é uma dificuldade inerente tanto da esquerda, quanto da direita.

A pesquisa ouviu 571 pessoas entre as 13h30 e as 17h30 do domingo em toda a extensão da Avenida Paulista. Segundo levantamento, a maioria dos manifestantes eram homens (52,7%), brancos (77,4%), com nível superior completo (68,5%) e com renda entre 7.880 reais e 15.760 reais (28,5%).

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