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Morte de menino de 10 anos questiona atuação da polícia do Rio

Eduardo estava na entrada de sua casa quando foi atingido na cabeça por um disparo

Felipe Betim
A mãe de Eduardo Jesus Ferreira com uma foto do seu filho.
A mãe de Eduardo Jesus Ferreira com uma foto do seu filho.RENATO MOURA (Voz das Comunidades)

As comunidades do Complexo do Alemão, na zona-norte do Rio de Janeiro, amanheceram de luto nesta sexta-feira. No final da tarde de ontem, o garoto Eduardo Jesus Ferreira, de 10 anos, foi morto com um tiro na cabeça enquanto estava sentado na escada da entrada de sua casa, na comunidade do Areal. Sua mãe, a doméstica Terezinha Maria de Jesus, de 40 anos, assegura que um policial militar foi o autor do disparo. A Divisão de Homicídios da Polícia Civil já iniciou a investigação do crime e ordenou a apreensão das armas dos policiais.

Terezinha conta que estava em casa assistindo televisão quando Eduardo Jesus se dirigiu à porta de sua casa para falar com os pedreiros que realizavam uma obra no lugar. Estava sentado quando recebeu um tiro por trás, na cabeça. “Foi questão de segundos. Ele saiu e sentou no batente da porta. Teve um estrondo e, quando olhei, parte do crânio do meu filho estava na sala e ele caído lá embaixo morto”, relatou ao porta de notícias G1. A mãe da vítima assegura que imediatamente reconheceu o PM como autor do disparo e diz ter sido ameaçada. “Quando eu corri para falar com ele, ele apontou a arma para mim. Eu falei ‘pode me matar, você já acabou com a minha vida’”, afirmou.

Eduardo é a quarta vítima fatal da guerra entre traficantes e policiais na região em dois dias. Na última quarta-feira, a tensão na comunidade vitimou a dona de casa Elizabeth Alvez de Moura Francisco, de 41 anos. Estava dentro de sua casa durante um tiroteio e foi atingida por uma bala perdida. Não resistiu aos ferimentos, embora os moradores tenham feito tudo para que fosse atendida em um hospital mais próximo. Sua filha, de 16 anos, também foi atingida ao socorrer a mãe, mas já recebeu alta do Hospital Estadual Getúlio Vargas. Dois traficantes morreram (um deles na porta de sua casa) e um PM ficou ferido.

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No caso da morte de Eduardo nesta quinta-feira, a Coordenadoria de Polícia Pacificadora alega que houve uma troca de tiros entre os policiais do Batalhão da Polícia de Choque e criminosos da região e que, durante um confronto, “um menor foi baleado”. No entanto, os moradores desta área relatam que não havia tiroteio no momento em que o garoto Eduardo foi baleado. “Esta zona, na comunidade do Areal, é uma das mais tranquilas. Ninguém ouviu tiroteio nenhum neste dia”, explica um jornalista do periódico Voz das Comunidades, que vem acompanhando de perto a guerra entre traficantes e policiais no Complexo do Alemão.

O Governo do Estado retomou o controle da região em 2010, através de uma grande operação policial, para instalar uma Unidade de Polícia Pacificadora dois anos depois. Estima-se entre 60.000 e 70.000 pessoas o total de moradores nesse conjunto de comunidades e o narcotráfico reinava absoluto. Mas a situação nos últimos tempos tem fugido do controle e os habitantes destas comunidades têm convivido com tiroteios diários nos últimos 93 dias. A zona foi classificada como uma “área de bandeira vermelha”, pela resistência do tráfico e o risco para a ação da PM. Segundo as estatísticas elaboradas pelo Voz das Comunidades, 12 moradores morreram e outros 13 ficaram feridos somente em 2015, enquanto que um policial morreu e outros 10 ficaram feridos.

Em uma nota, o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) se solidarizou com as famílias das vítimas e assegurou que “as forças de segurança vão continuar enfrentando a criminalidade”. “E o Estado também, se preciso, vai continuar cortando na própria carne para perseguir esse objetivo. Não vamos recuar diante da covardia de criminosos. Determinei empenho máximo à polícia nas investigações para que os culpados sejam punidos”.

Também a presidenta Dilma divulgou uma nota para expressar solidariedade “a Terezinha Maria de Jesus, que perdeu o filho Eduardo de Jesus Ferreira, de 10 anos, no Complexo do Alemão. Espero que as circunstâncias dessa morte sejam esclarecidas e os responsáveis, julgados e punidos”, diz a nota.

A PM reprime um ato pacífico no Alemão

Um grupo de uns 300 moradores do Complexo do Alemão voltou a se manifestar na tarde desta sexta-feira contra a onda de violência que vem ocorrendo há mais de 90 dias e que causou a morte de quatro pessoas nos últimos dois dias, entre elas o garoto Eduardo Jesus Ferreira, de 10 anos. O ato, pacífico, foi realizado por cidadãos munidos de panos brancos e cartazes que pediam paz e justiça, mas foi reprimido por agentes da Polícia Militar com bombas de efeito moral e sprays de pimenta.

O protesto começou na Rua da Grota e continuou pela Estrada do Itararé, uma das principais vias de acesso da comunidade. Os moradores seguiam em direção a Unidade de Polícia Pacificadora quando foram impedidos pela PM. Uma das imagens divulgadas pela Globo News mostra um policial que, de repente, começa a atirar spray de pimenta contra um grupo de manifestantes, muitos deles crianças, que fechavam a rua de forma pacífica. Segundo o G1, vários moradores tiveram que cobrir os rostos com panos para se proteger dos efeitos das bombas de gás lacrimogêneo, enquanto outros, revoltados pela ação policial, atiraram garrafas e pedras para se defender.

Várias pessoas, principalmente os mais idosos, tiveram que se esconder nos bares da zona, enquanto outros vizinhos, que assistiam a manifestação de suas janelas, estenderam panos brancos para pedir paz, ainda segundo o G1. O clima segue tenso no local e o policiamento foi reforçado por agentes do Batalhão de Ações com Cães.

Os policiais que supostamente se encontravam em uma operação quando o garoto Eduardo de Jesus foi baleado foram afastados e estão respondendo a um Inquérito Policial Militar, segundo informou o governo nesta sexta. Suas armas também foram entregues para a realização de um exame balístico.

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