World Press Photo revoga um primeiro prêmio devido a fraude
O fotógrafo Giovanni Troilo mentiu ao apresentar uma imagem feita em outro lugar
A direção do concurso World Press Photo tirou o primeiro prêmio na categoria Temas da Atualidade do fotógrafo italiano Giovanni Troilo. Sua reportagem gráfica composta de dez imagens sobre a cidade belga de Charleroi, intitulada Cidade Negra, inclui uma imagem feita em Molenbeek, subúrbio de Bruxelas. As normas do concurso impõem que esse tipo de série se limite a cobrir um lugar concreto, razão pela qual Troilo perdeu o prêmio. O ganhador é agora seu colega italiano Giulio de Sturco, que acompanhou as filmagens de uma série de televisão chinesa e intitulou seu trabalho Chollywood.
“A nova informação recebida confirma que nossas normas foram infringidas, e agora vemos a reportagem de Troilo sob outro prisma. As fotos são de Charleroi, com a exceção de uma, com um pintor e seus modelos, feita em Mollenbeek, nas proximidades de Bruxelas. O fotógrafo confirmou o fato pelo telefone, contrariando o que tinha afirmado ao apresentar seu trabalho. Isso significa que ele nos deu uma informação falsa e supõe sua desclassificação”, assinalou Lars Boering, diretor do World Press Photo. A reportagem tinha gerado reações negativas em Charleroi, mostrada como lugar contaminado e deprimido, como indicava Troilo, que deu a ela o subtítulo de O coração escuro da Europa.
Paul Magnette, o prefeito socialista de Charleroi, há várias semanas se queixava da imagem da cidade apresentada pela reportagem premiada. Em 25 de fevereiro ele chegou a mandar uma carta à diretora do concurso fotográfico (criado e promovido na Holanda desde 1955), assegurando que Troilo “distorceu a realidade urbana e prejudicou a reputação de Charleroi e seus habitantes”. O prefeito pedia que fossem reavaliadas as fotos, que retratam Charleroi como um lugar “onde a indústria sofreu um colapso, o desemprego e a imigração são muito elevados e a criminalidade é crescente”. “As ruas estão abandonadas, as fábricas fecham suas portas e o mato cresce nos antigos polígonos industriais”, segundo o fotógrafo. O prefeito, em contrapartida, fala de uma “montagem fotográfica pensada para reforçar a mensagem criada pelo autor”. Os responsáveis pelo prêmio inicialmente apoiaram a versão de Giovanni Troilo, para quem Charleroi “simboliza a Europa como um todo”. Agora mudaram de opinião.
As regras do concurso impedem esse tipo de arranjo gráfico, para preservar a integridade dos profissionais e do próprio World Press Photo. Além disso, segundo Lars Boering, a polêmica mostra “a necessidade de analisar a definição de imprensa gráfica, de fotojornalismo e de documentário fotográfico, que terá repercussões éticas para os autores”. O concurso já se viu obrigado a estudar a fundo a imagem vencedora de 2012. Assinada pelo sueco Paul Hansen, foi criticada porque o fotógrafo juntou vários instantâneos para conseguir um efeito dramático de um grupo de homens com os corpos de seus respectivos filhos, em Gaza. O júri concluiu que não houve fraude, “mas pós-produção com os tons”. Desde 2014 as fotos que passaram por alterações deixaram de ser aceitas.