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World Press Photo revoga um primeiro prêmio devido a fraude

O fotógrafo Giovanni Troilo mentiu ao apresentar uma imagem feita em outro lugar

Isabel Ferrer
Uma das dez que integram “O coração escuro da Europa”.
Uma das dez que integram “O coração escuro da Europa”.Giovanni Troilo

A direção do concurso World Press Photo tirou o primeiro prêmio na categoria Temas da Atualidade do fotógrafo italiano Giovanni Troilo. Sua reportagem gráfica composta de dez imagens sobre a cidade belga de Charleroi, intitulada Cidade Negra, inclui uma imagem feita em Molenbeek, subúrbio de Bruxelas. As normas do concurso impõem que esse tipo de série se limite a cobrir um lugar concreto, razão pela qual Troilo perdeu o prêmio. O ganhador é agora seu colega italiano Giulio de Sturco, que acompanhou as filmagens de uma série de televisão chinesa e intitulou seu trabalho Chollywood.

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“A nova informação recebida confirma que nossas normas foram infringidas, e agora vemos a reportagem de Troilo sob outro prisma. As fotos são de Charleroi, com a exceção de uma, com um pintor e seus modelos, feita em Mollenbeek, nas proximidades de Bruxelas. O fotógrafo confirmou o fato pelo telefone, contrariando o que tinha afirmado ao apresentar seu trabalho. Isso significa que ele nos deu uma informação falsa e supõe sua desclassificação”, assinalou Lars Boering, diretor do World Press Photo. A reportagem tinha gerado reações negativas em Charleroi, mostrada como lugar contaminado e deprimido, como indicava Troilo, que deu a ela o subtítulo de O coração escuro da Europa.

Paul Magnette, o prefeito socialista de Charleroi, há várias semanas se queixava da imagem da cidade apresentada pela reportagem premiada. Em 25 de fevereiro ele chegou a mandar uma carta à diretora do concurso fotográfico (criado e promovido na Holanda desde 1955), assegurando que Troilo “distorceu a realidade urbana e prejudicou a reputação de Charleroi e seus habitantes”. O prefeito pedia que fossem reavaliadas as fotos, que retratam Charleroi como um lugar “onde a indústria sofreu um colapso, o desemprego e a imigração são muito elevados e a criminalidade é crescente”. “As ruas estão abandonadas, as fábricas fecham suas portas e o mato cresce nos antigos polígonos industriais”, segundo o fotógrafo. O prefeito, em contrapartida, fala de uma “montagem fotográfica pensada para reforçar a mensagem criada pelo autor”. Os responsáveis pelo prêmio inicialmente apoiaram a versão de Giovanni Troilo, para quem Charleroi “simboliza a Europa como um todo”. Agora mudaram de opinião.

As regras do concurso impedem esse tipo de arranjo gráfico, para preservar a integridade dos profissionais e do próprio World Press Photo. Além disso, segundo Lars Boering, a polêmica mostra “a necessidade de analisar a definição de imprensa gráfica, de fotojornalismo e de documentário fotográfico, que terá repercussões éticas para os autores”. O concurso já se viu obrigado a estudar a fundo a imagem vencedora de 2012. Assinada pelo sueco Paul Hansen, foi criticada porque o fotógrafo juntou vários instantâneos para conseguir um efeito dramático de um grupo de homens com os corpos de seus respectivos filhos, em Gaza. O júri concluiu que não houve fraude, “mas pós-produção com os tons”. Desde 2014 as fotos que passaram por alterações deixaram de ser aceitas.

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