_
_
_
_

O cansaço mental

A mente fatigada provoca dispersão, falta de atenção e de clareza Na situação contrária, é capaz de ver o extraordinário no que aparentemente é normal

Anna Parini

Graças a nossa poderosa mente pensamos, sonhamos, criamos, projetamos, associamos ideias, desenhamos, planejamos, geramos expectativas, imaginamos e recordamos. O pensamento pode ser benéfico ou nocivo, positivo ou negativo, necessário ou inútil, insípido ou criativo, elevado e sublime ou destruidor e desagregador. Muitos pensamentos são desnecessários. Alguns surgem como tempestades que nos açoitam. Se não administramos bem toda a atividade da nossa mente, o cansaço mental se torna nosso companheiro inseparável.

É uma fadiga que provoca dispersão, preguiça, falta de atenção e de clareza; além disso, diminui nossa capacidade resolutiva. Por outro lado, quando inspirada e motivada, a mente nos revitaliza e gera pensamentos criativos que despertam energia e força. Num estado criativo, os pensamentos são práticos, poéticos e manifestam beleza. A mente está aberta e pode ver o extraordinário no que aparentemente é banal.

Infelizmente, esse estado mental não costuma durar muito. Acabamos por afundar numa atividade mental estéril e esgotante. Cada pessoa gera cerca de 50.000 pensamentos por dia, muitos dos quais repetitivos e mecânicos. Outras vezes dá voltas e mais voltas ao redor de coisas que não podem ser mudadas. São pensamentos normalmente referentes ao passado. Não levam a lugar nenhum e esgotam.

Quando se vive em uma linha de pensamentos desnecessários e debilitantes, faz bem levantar algumas questões que ajudem a desativar esse mecanismo repetitivo e levem a uma reflexão mais produtiva e estimulante. Por exemplo, o que motiva a pensar no que se está pensando? O primeiro passo é encontrar o propósito, porque isso permite perceber a inutilidade desse pensamento e mudar de rumo.

Mais informações
‘Mindfulness': a atenção plena é ideal para combater as distrações
Comprimidos para a dor da vida
Como conservar lembranças
Reações à infidelidade
O cérebro de mulheres e homens mostra diferente conectividade
Seria a metade da sua laranja? Escute suas vísceras

Outra prática aconselhável é tentar não usar em demasia os verbos no condicional, tanto no passado quanto no futuro. Por exemplo: “Se estivesse aí naquele momento, essa desgraça não teria acontecido”. “Se tivesse tido a tempo essa informação, teria vencido o caso.” “Quando tiver o diploma serei mais respeitado pelo chefe.” “Quando mudar, ficarei melhor”. Como o passado já foi, e o futuro ainda está por vir, esse tipo de pensamento não é útil, enfraquece e exaure. É tão importante aprender a transformar como a não criar esses pensamentos sobre temas que não podemos mudar ou não dependem de nós para que mudem. Dessa maneira se mantém mais a concentração e se tem mais clareza para tomar as decisões certas.

Não se trata de deixar a mente em branco, mas sim de gerar pensamentos positivos, criativos, inspiradores, benéficos. Dessa forma se consegue um espaço mental fértil. Pensar positivamente não é negar a realidade, mas ser capaz de ver os problemas e ter a criatividade mental para conseguir soluções sem se obcecar nem se ofuscar. As reflexões positivas fortalecem e revitalizam a mente. Costumam ser pensamentos que se baseiam em valores e em apreciar e agradecer pelo que se é e se tem. Uma mente agradecida é uma mente descansada.

Outro aspecto que esgota é nossa extraordinária capacidade de planejar: reuniões, encontros, ações, lugares, horários... Quando as coisas acontecem em sucessão conforme os planos, as pessoas ficam mais tranquilas que quando os imprevistos atrapalham os planos. Quem se aferra a seu plano deixa de perceber os sinais que a hora ou as pessoas dão e quer que a realidade se amolde a suas ideias, em vez do contrário. Ao forçar, ficamos cansados. Às vezes nosso corpo pede por descanso, mas como o plano era outro, forçamo-nos a cumpri-lo.

Quando a mente está livre de todo conflito, há uma energia criativa que surge livre de condicionamentos”

Em uma sessão de coaching, uma mulher explicava como se obrigava a executar os planos que fizera e os compromissos marcados, forçando-se a cumprir os horários impostos por outras pessoas importantes para ela. Mesmo ciente de que deveria parar, sua mente a fazia prosseguir. Sem parar nem respirar conscientemente nem ouvir. Estava mentalmente esgotada. Às vezes planejamos algo, mas quando chega a hora sentimos que não é o momento, ou não é o nosso momento. É importante parar por alguns minutos para repensar. Esse intervalo cria um espaço mental para abrir um parêntese, enxergar e decidir com mais clareza.

Às vezes o cansaço mental surge das lutas internas entre o que gostaríamos que fosse e o que é, entre falar e se calar, sair ou ficar, entre as decisões tomadas e o que na realidade é feito. Precisamos incorporar práticas para entender de onde surgem tantos pensamentos estéreis, para ouvir e silenciar os ruídos mentais.

Exercitar a mente com pensamentos criativos revitaliza. É como quando se faz exercício físico. Caminhar, correr, nadar ou jogar tênis nos energiza, e se nos cansamos, sentimos que é um cansaço sadio. Por outro lado, se ficamos em pé meia hora sem nos movermos, terminamos mais cansados do que se tivéssemos passado esse tempo caminhando. Acontece algo parecido com a mente: se ela está “parada”, dando voltas num mesmo assunto, ela se esgota mais que quando avança com pensamentos inspiradores, que abrem novos horizontes.

O que se pode fazer para que nosso pensamento seja mais inspirador e revigorante e combater o cansaço mental? Cultivar o pensamento criativo, reflexivo e claro. Como? Por exemplo, fazendo uma viagem a um ambiente natural e observar. Olhar o horizonte que une mar e céu em uma praia; sentir a umidade do solo ou desfrutar das cores das folhas e dos ruídos da natureza em uma montanha. Assim é mais fácil que a mente se acalme.

São situações que ajudam a conter a atividade mental durante alguns minutos e descansar. Trata-se de visualizar um espaço que ajude a renovar o discernimento.

Todo meu esforço deve ser limitado a controlar
as idas e vindas da mente, colocar a imaginação a meu dispor e deixar de estar eu –como um escravo– a serviço dela”

Em um mundo saturado de informações e conversas que provocam ruído mental, emocional e físico, é necessário cultivar espaços internos de silêncio para ficar centrado. Um silêncio criativo, contemplativo e produtivo. Ou seja, que gere positividade e bem-estar, comunicação e sentido e uma quietude na qual o pensamento transformador é gestado. Ainda que estejamos em um entorno ruidoso, podemos criar pensamentos inspiradores assim como quando estamos rodeados de natureza.

Temos a capacidade de criar as reflexões que queremos. Precisamos utilizá-las com mais frequência. Para isso, deve-se controlar a mente, dirigi-la e manter a atenção centrada. Se alguém fica preso em seus próprios pensamentos, não terá poder sobre eles. Quando, observando-os, consegue-se separar-se deles, abre-se espaço, assume-se o controle e pode-se canalizá-los na direção que se quiser.

Para ter poder sobre algo deve-se ver de certa distância. Ao observar um quadro, se colamos o nariz a ele, não vemos mais do que um pedacinho borrado. Se nos distanciamos, podemos abarcá-lo em sua totalidade. Na prática de meditação aconselha-se simplesmente a observar os pensamentos e deixá-los passar. Chega um momento em que a pessoa se dá conta de que são uma criação mental, um filme, que é possível deixar de criar e de acompanhar. Ao conseguir esse domínio, nos conectamos com um estado de calma e clareza que permite criar os discernimentos de qualidade que queremos. Uma boa meditação revitaliza, nos enche de energia, varre a mente de reflexões desnecessárias e abre espaço para a inovação e a renovação mental.

Para saber mais

Discos

Ouvir música relaxante contribui para descansar a mente. O melhor álbum de relaxamento do mundo contém CDs com 36 obras de grandes compositores. No encarte que o acompanha, lemos: “A música amansa as feras. Tranquiliza, libera as tensões e cria para nós um ambiente de relaxamento sossegado”.

Livros

Biografia do silêncio

Pablo d’Ors (Siruela)

A mente em meditação

Jiddu Krishnamurti (Kairós)

Lê-los nos ajuda a descansar a mente.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_