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O discreto vice-presidente que dá peso político ao Governo

Com cargos desde a década de 1980, Temer se destaca por habilidade nos bastidores

O vice Michel Temer com a mulher, Marcela (d), e a presidenta Dilma (e).
O vice Michel Temer com a mulher, Marcela (d), e a presidenta Dilma (e).Marcelo Sayão (EFE)

São quase 19 horas quando cinco luxuosos carros pretos com vidros escuros e cheios de seguranças deixam um prédio comercial no Itaim Bibi, na zona sul de São Paulo. Todo esse aparato é para um advogado que acaba de se reunir em seu escritório com um de seus pupilos na capital paulista. Não é um advogado qualquer, e sim o vice-presidente da República, Michel Temer, que acabava de se encontrar com o então candidato do PMDB ao governo paulista, Paulo Skaf.

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Pelo menos duas vezes ao mês Temer (com sua equipe de segurança) deixa seu gabinete em Brasília e segue para São Paulo para se encontrar com aliados e fazer o que mais gosta: política. Discreto, conciliador e um bom ouvinte, o peemedebista de 74 anos dá o peso político que a presidenta Dilma Rousseff nunca teve. Político profissional desde a década de 1980, foi deputado por seis mandatos (24 anos) e há 11 anos preside o PMDB, o partido que desde a redemocratização do país sempre esteve no Governo.

Antes de ser um habilidoso estrategista político, foi considerado um dos maiores constitucionalistas do Brasil. Até alguns anos atrás, suas obras, que já venderam mais de 200.000 exemplares, eram referência nas faculdades de Direito.

Filho de libaneses que migraram ao Brasil na década de 1920, Temer se formou na Universidade de São Paulo e iniciou a carreira pública como procurador do Estado. Mais tarde, foi secretário da Segurança Pública de São Paulo na gestão Franco Montoro e, incentivado por este, se elegeu deputado federal pela primeira vez em 1986. Desde então, só deixou o salão verde da Câmara dos Deputados para se instalar no anexo da vice-presidência no Palácio do Planalto, após dirigiu a Casa legislativa em três ocasiões. Depois de sua terceira passagem na função e de demonstrar ser um fiel escudeiro do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), foi escolhido para concorrer a vice na chapa de Rousseff.

Ao contrário de outros vice-presidentes, sua função era muito mais do que agregar tempo de TV na propaganda eleitoral ou de garantir a governabilidade no Legislativo, por se tratar de um peemedebista. Temer tem como missão fazer o meio de campo entre os sempre insatisfeitos congressistas e o Palácio do Planalto. Deputados ouvidos pelo EL PAÍS nas últimas três semanas disseram, no entanto, que no meio do mandato ele perdeu influência junto a Rousseff, depois que passou a apresentar mais problemas do que soluções. Uma derrota para um correligionário marcou mais um ponto negativo ao vice-presidente. O vitorioso da vez foi Eduardo Cunha, que se tornou líder do PMDB na Câmara a contragosto de Rousseff, do estafe petista e do próprio Temer.

A volta por cima se deu após a eleição deste ano, na qual se empenhou e viajou o país pedindo votos para Dilma. A formação do novo ministério mostra como o vice-presidente voltou a ter prestígio interno. Seu partido emplacou um ministro a mais do que no mandato passado e ele mereceu uma deferência especial de Dilma durante o discurso de posse no segundo mandato: "Sei que conto com o apoio do meu querido vice Michel Temer".

Em 1º de janeiro de 2011, quando foi empossado pela primeira vez na vice-presidência, Temer chamou a atenção por uma razão que ia além de suas habilidades políticas. Ao lado dele, havia uma bela loira na época com 27 anos, 43 a menos do que ele, com tranças no cabelo e uma aliança na mão esquerda. Era sua mulher, Marcela. Casado desde 2003 com ela (esse é seu terceiro casamento), Temer sempre manteve o relacionamento de maneira discreta. A jovem bacharel em direito passou a ser assediada pela mídia e houve quem sugerisse que ela se tornasse a Michele Obama brasileira, participando de ações sociais e sendo uma das faces do governo Rousseff. Algo que ela refutou, não se sabe se por vontade própria ou do marido. Marcela só voltou a aparecer publicamente com destaque no fim de outubro, quando Temer, ao lado de Dilma e de Lula, comemoravam a vitória na eleição presidencial deste ano em um luxuoso hotel de Brasília.

Filhos, propinas e satanismo

Temer tem cinco filhos com idades que variam de 5 a 45 anos. Sua influência nos bastidores pesou mais uma vez quando a filha mais velha, Luciana de Toledo Temer, se tornou secretária de Assistência e Desenvolvimento Social do município de São Paulo, na gestão do petista Fernando Haddad.

Tanto tempo em cargos públicos não deixa quase ninguém imune a suspeições. Em ao menos três ocasiões o nome do vice-presidente foi citado em escândalos. A primeira foi na operação da Polícia Federal que investigou o mensalão do partido Democratas no Distrito Federal, e a outra na investigação contra o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Em nenhum dos dois casos houve provas. Uma reportagem do início de dezembro da revista Época mostra que Temer teria recebido 80.000 reais de propina da empreiteira Camargo Corrêa para ajudar a construtora em duas obras no Estado de São Paulo. A descoberta teria ocorrido na Operação Lava Jato, segundo a revista. A denúncia não foi feita oficialmente pelo Ministério Público e o peemedebista negou que tenha recebido qualquer valor da Camargo Corrêa.

Se essas denúncias não macularam sua imagem, houve uma que o marcou bastante e, por causa dela, a cada eleição ele precisa responder a um questionamento recorrente: o senhor é satanista? A polêmica surgiu em 2009, quando foi especulado por Lula para ser o vice de Dilma. Uma corrente de e-mail sugeria que ele era pai de um satanista e, quando seu filho se converteu a religião evangélica, Temer teria assumido seu lugar na seita, algo frequentemente negado pelo vice-presidente, que se declara católico. “Falei com vários evangélicos. Eles acham uma loucura. Na internet dizem que sou filho de Satã, que me filiei a uma corrente satanista. Deve ser coisa de algum inimigo meu”, afirmou em julho de 2009 à revista Rolling Stone.

Temer não tem um cargo de ministro, como outros vice-presidentes brasileiros já tiveram. Mas faz questão de participar de dezenas de atos públicos como representante do Governo Federal. Na semana do Natal, esteve no litoral paulista para a inauguração do instituto do jogador Neymar Jr. Tudo registrado em suas redes sociais. Nas últimas semanas, aliás, resolveu fazer no seu Twitter uma retrospectiva de seu ano, citando quais viagens oficiais fez e iniciando uma contagem regressiva para da posse do segundo mandato. Discreto, sim, mas com moderação.

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