Queda do preço do petróleo agrava a crise econômica da Venezuela
Caracas importa óleo cru da Argélia para proteger suas reservas de divisas O gabinete do presidente Nicolás Maduro pediu uma reunião urgente da OPEP
A notícia repercutiu muito mal entre os opositores do presidente venezuelano Nicolás Maduro. Segundo informou a agência Reuters, a Venezuela espera para 26 de outubro uma carga de óleo cru proveniente da Argélia. Vários analistas indicam que esse envio, que ainda não foi confirmado pela estatal Petróleos de Venezuela (Pdvsa), é uma afronta à soberania do país que conta com as maiores reservas de petróleo do mundo.
Na realidade, trata-se de uma demonstração tímida e insuficiente de pragmatismo. O Governo venezuelano teve de recorrer a essa medida de urgência para tentar cortar gastos em meio à queda da cotação da cesta petroleira venezuelana –o preço médio do barril dos vários tipos de óleo bruto do país, que fechou na sexta-feira em 82,72 dólares (cerca de 200 reais)– e a impossibilidade de aumentar a produção em curto prazo.
A Venezuela produz variedades extrapesadas na faixa petrolífera Hugo Chávez, localizada no sudeste do país que, por sua densidade, exigem a mistura com outros componentes para depois serem processadas nas refinarias locais. O alto custo da nafta, o diluente usado, pago à vista, impacta de maneira significativa as contas da Pdvsa. Nesse contexto de reservas de moedas internacionais reduzidas e de altas obrigações fiscais, qualquer economia é bem vista.
Segundo a Reuters, Caracas preferiu assinar um contrato de fornecimento com a Argélia —que exporta o Saharan Blend, um óleo bruto extraleve, mais fácil de refinar— que lhe permite uma alívio em suas contas e um respiro no fluxo de caixa da estatal petroleira, que contribui com 96 de cada 100 dólares que entram no fisco nacional.
É uma medida quase imperceptível para a população. Maduro se negou a aumentar, por exemplo, o preço da gasolina —que é quase de graça— e outros derivados. O subsídio ao combustível custou ao Estado no primeiro semestre de 2014, segundo cálculos da empresa Ecoanalítica, cerca de 14,592 bilhões de dólares (cerca de 35 bilhões de reais), 13,3% a mais do que no mesmo período de 2013.
O Governo preferiu entregar menos dólares ao setor privado da economia, que tem dívidas com seus fornecedores, que causaram uma escassez crescente, desde papel higiênico até medicamentos. Na Venezuela vige um severo controle cambial desde 2003.
As contas da Venezuela começam a refletir a realidade do mercado petroleiro mundial
Nesse cenário crítico, o Governo deu outras mostras de pragmatismo. A Pdvsa decidiu cortar os envios de óleo bruto que não geram receita —como o acordo da PetroCaribe, que estabelece intercâmbio de petróleo por bens essenciais para a economia local. A produção petroleira local contraiu-se em 195 mil barris diários no segundo trimestre de 2014. Atualmente, segundo algumas empresas independentes, chega a 2,7 milhões de barris.
Maduro garante que o Governo tem “planos para ultrapassar qualquer situação assim, cheguem os preços do petróleo onde chegarem, para substituir e garantir os recursos necessários ao país para o funcionamento da economia”.
O economista Francisco Faraco assegurou a este jornal que para manter o nível de gastos do Governo seria necessária uma cotação de 120 dólares por barril, algo impensável no contexto atual.
Maduro solicitou uma reunião urgente da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), que tem um encontro previsto para 27 de novembro, para propor cortes da produção e evitar a queda de preços, mas um dos membros mais poderosos da aliança, a Arábia Saudita, não parece ter muita pressa e está disposto a aceitar o preço do mercado.
Além disso, há um excesso de oferta de petróleo devido ao aumento da produção a partir de xisto (tipo de rocha) nos Estados, à desaceleração do crescimento da China e à lentidão cada vez maior na recuperação da Zona do Euro.
Diante desse cenário, o consenso dos analistas da OPEP, a Agência Internacional de Energia e o Departamento de Informação Energética dos Estados Unidos é que a demanda mundial por petróleo crescerá 1,2% este ano, um crescimento equivalente à oferta. As contas da Venezuela começam a mostrar a realidade do mercado petroleiro mundial. No fim da semana passada, havia pouco mais de 19 bilhões de dólares em reservas internacionais, o nível mais baixo desde outubro de 2003.
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