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Preço das matérias primas agrícolas despenca nos países do Mercosul

Valores do trigo e da soja estão em seu nível mais baixo dos últimos quatro anos

Alejandro Rebossio
Plantação de soja na Argentina: preço do grão desaba.
Plantação de soja na Argentina: preço do grão desaba.EFE

Os dias de felicidade vividos pela América Latina por causa dos altos preços das matérias primas se acabaram. Primeiro começaram a cair as cotações dos minerais, que tinham chegado a valores históricos com a boa fase iniciada em 2003. Agora é a vez dos alimentos, que não só alcançaram recordes como também se recuperaram de décadas de preços baixos.

Nos últimos cinco anos, os grãos experimentaram fortes quedas diante da safra abundante em todo o mundo, principalmente nos Estados Unidos. Assim como a desvalorização dos minerais atinge particularmente o Peru e o Chile, a dos produtos agrícolas básicos afeta especialmente o Brasil, a Argentina, o Uruguai e o Paraguai. Os valores do trigo e da soja se encontram em seu nível mais baixo nos últimos quatro anos. O milho, no pior em cinco anos. O preço da tonelada de soja caiu 40% em cinco meses e está atualmente em 337 dólares (cerca de 825 reais). O milho desabou 37%, para 126 dólares (308 reais) a tonelada, enquanto o trigo caiu 33%, para 176 dólares (431 reais) a tonelada.

Apesar disso, os grãos ainda estão com preços melhores do que nos primeiros anos do período de bonança. Os fatores que tinham impulsionado os preços dos alimentos, como a expansão da classe média na China e em outros países emergentes e o desenvolvimento dos biocombustíveis, ainda permanecem vigentes. Mas economistas alertam que os preços dos produtos básicos têm ciclos e que as más fases são tão longas quanto as boas. Diante das elevadas cotizações dos últimos anos e, ainda que a terra seja um recurso finito, a tecnologia de defensivos agrícolas e sementes transgênicas, proibidas em diversos países por motivos sanitários e ecológicos, permitiu que agricultores dos Estados Unidos e do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela) conseguissem marcas históricas de produção nos últimos dois anos.

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“Os preços estão caindo por causa do aumento da oferta nos últimos dois anos, especialmente nos Estados Unidos, onde o clima foi absolutamente favorável, algo que é pouco comum”, observa Adrián Seltzer, analista da comercializadora de grãos Granar. “Ao ver os preços caírem, os negociantes só fazem compras de curto prazo. Mas a queda fará a demanda aumentar em algum momento. A boa safra dos Estados Unidos pode se repetir ou não, mas o ciclo dos altos preços terminou. Isso não significa que voltaremos aos valores de 2004 ou 2005, mas isso dependerá da oferta, que, por sua vez, depende do clima”, analisa Seltzer.

O Brasil é o segundo maior produtor de soja do mundo e o terceiro maior produtor mundial de milho. Em termos de soja, a Argentina é a terceira do mundo, o Paraguai ocupa o sexto lugar, o Uruguai está em oitavo e a Bolívia, em décimo. A Argentina é a quinta maior potência produtora de milho do mundo e o México é a sétima nesse produto. Por outro lado, nenhum país latino-americano aparece entre os dez maiores produtores mundiais de trigo.

Os grãos são exportações fundamentais para vários países latino-americanos. Para o Brasil, a soja representa a terceira maior exportação (7% do total), atrás do minério de ferro e do petróleo, enquanto a cana de açúcar, cujo preço também está em seu mínimo em quatro anos, é a quarta exportação do país (5,3%).

Já no México, o milho transgênico é proibido e a produção do cereal é voltada para o mercado interno, enquanto as principais vendas externas são produtos manufaturados e petróleo. Na Argentina, que precisa exportar para reverter a escassez de divisas e o risco de outra desvalorização como a de janeiro passado, a soja representa o sexto maior produto para venda externa (4% do total). O farelo de soja é o principal produto de exportação argentino (13%), seguido pelo milho (6,1%) e o óleo de soja (5,4%).

Mas nem todos os países latino-americanos dependem da mesma maneira das matérias primas para financiar seus orçamentos. As receitas tributárias de nações petroleiras como a Venezuela, o Equador e o México dependem dos produtos primários em uma ordem de 40%, 35% e 33%, respectivamente, segundo relatório da organização humanitária Oxfam. Para a tranquilidade desses países, o petróleo continua com um preço alto. A Bolívia, que se sustenta mais com o gás natural, obtém dos produtos básicos 30% de sua arrecadação. No Chile e no Peru, essencialmente mineradores, as matérias primas representam 17% e 9%, respectivamente, de suas receitas. Na Colômbia, exportadora de petróleo e minério, os agrícolas são 16% do faturamento, enquanto na Argentina, que taxa todas as suas exportações, principalmente a soja, eles são 14%. O relatório da Oxfam não menciona o Brasil, mas sabe-se que é um dos países menos dependentes das matérias primas na América Latina.

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