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“Os móveis vão para o depósito e as pessoas, para a rua”

Silmara Congo, coordenadora do movimento dos sem-teto, diz que os moradores não terão para onde ir após a reintegração

Policiais entram no hotel ocupado.
Policiais entram no hotel ocupado.NELSON ALMEIDA (AFP)

São Paulo possui atualmente cerca de cem prédios ou terrenos ocupados em São Paulo, de acordo com estimativas da Secretaria Municipal de Habitação. Metade deles na região central e a maioria pertencente a proprietários privados.

É essa a situação do antigo Hotel Aquárius, na avenida São João, um edifício de 21 andares desocupado há cerca de dez anos, segundo a Frente de Luta pela Moradia (FLM), movimento que coordenou a ocupação. Moravam no local 205 famílias, cada uma em um cômodo, onde possuíam geladeira, fogão, além de móveis como cama e sofás. A maior família era composta por um casal com seis filhos. Moravam no local 40 crianças, entre elas uma cadeirante, que estavam no local quando a Tropa de Choque chegou

A operação da manhã desta terça-feira foi a segunda tentativa de reintegração de posse do imóvel em 15 dias. A anterior foi suspensa porque não havia caminhões em número suficiente para levar os pertences dos moradores para um depósito. Segundo Silmara Congo, coordenadora do FLM, dessa vez foi acordado que a saída programada para esta manhã aconteceria com a ajuda de 40 caminhões e 120 funcionários para ajudar na retirada dos móveis, mas chegaram apenas 13 veículos e 40 trabalhadores. Os moradores, então, discutiram com os policiais e, segundo ela, um deles jogou uma bomba de efeito moral para dentro do prédio, o que gerou a revolta e uma confusão que se espalhou por todo o centro da cidade.

"As famílias não têm para onde ir. Os móveis vão para o galpão e as pessoas, para a rua", lamenta Silmara. A secretaria de Habitação no final da manhã ofereceu aos sem-teto vagas em um alojamento.

Segundo a coordenadora do FLM, o movimento tem mais cinco prédios ocupados na região central. Um deles sofreu uma reintegração de posse há quatro dias, mas tudo ocorreu pacificamente. "As pessoas ocupam porque não têm o que fazer. Ou pagam aluguel ou comem", afirma.

Alexandra Santos Dias, de 33 anos, morava havia seis meses no antigo hotel. Ela afirma que só conseguiu tirar os documentos e objetos de valor. Os móveis ficaram. Agora, ela afirma que mudará para a Lapa e pagará um aluguel de 800 reais. Antes, morava na Liberdade e saiu porque não tinha condições de pagar os 1.200 reais do aluguel.

“Me arrependi muito de ter entrado nesse edifício. É a primeira vez que eu participo de um movimento para invadir um lugar assim. Me arrependi porque vão tirar a a gente de qualquer lugar. Até quando dá para ficar assim? Móveis a gente consegue de novo, mas o problema é um teto."

Colaborou Gabriela Colicigno

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