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Rap, gastronomia e literatura. Tudo junto e misturado na Bienal do Livro

A maior feira literária do país acontece de 22 a 31 de agosto no Anhembi com 1.500 horas de programação cultural para fisgar todos os tipos de gostos e estilos literários

A entrada da 23ª edição da Bienal do Livro de SP.
A entrada da 23ª edição da Bienal do Livro de SP.Bosco Martín

“Acredito que todo mundo gosta de ler. Muitas pessoas só não sabem disso”, disse recentemente Joël Dicker, um dos destaques da última Flip - Feira Literária de Paraty. Para o jovem escritor suíço, autor de A verdade sobre o caso Harry Quebert, que já vendeu dois milhões de exemplares, não existem fórmulas para escrever best sellers – nos vários sentidos do termo. Mas existem, sim, livros e celebrações da leitura capazes de despertar as ganas de ler em qualquer ser humano.

A Bienal Internacional do Livro de São Paulo quer ser um desses eventos que celebram o livro e as manifestações culturais a seu redor. Por isso, inventou para a sua 23ª edição, que acontece no Pavilhão de Exposições do Anhembi de 22 a 31 de agosto, uma programação de cerca de 1.500 horas de tertúlias, debates e workshops com 186 autores brasileiros e 22 estrangeiros. Serão 400 atrações, segundo o que anuncia a organização desta que é a maior feira de livros do país, para a qual são esperadas este ano 700.000 pessoas.

Com o mote “Diversão, cultura e interatividade – Tudo junto e misturado” e a ambição de se tornar um evento multicultural, a Bienal criou oito espaços que vão abrigar literatura, principalmente, mas também gastronomia, rap, teatro, dança e atividades infantis. Três deles foram pensados pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), a organizadora da Bienal, e os outros cinco tiveram curadoria do Sesc, que apareceu para injetar novidades na agenda e tentar um equilíbrio maior do que já houve em edições anteriores entre público e mercado.

Destaques do Salão de Ideias

Confira algumas sugestões do EL PAÍS para acompanhar a principal seção de debates da Bienal com escritores, pensadores e artistas sobre temas atuais:

"O código de Dexter", um encontro com o escritor americano Jeff Lindsay, autor de A mão esquerda de Deus e criador de Dexter Morgan, o mais famoso psicopata da ficção contemporânea.

“Narrativas do assalto: o universal no novo gênero policial”, uma conversa entre o autor argentino Pablo De Santis (La sexta lámpara) e o brasileiro Raphael Montes (Suicida e Dias perfeitos) sobre a universalidade deste gênero literário tradicional.

“A urgência das ruas”, encontro que destaca as manifestações de junho de 2013 reunindo o cientista político Francis Dupuis-Déri, autor de Black Blocs, e o filósofo Pablo Ortellado, da USP.

“Ironia fundamental”, debate com os cronistas Antonio Prata, Gregorio Duvivier e Xico Sá sobre impasses interpretativos e a recepção das crônicas no cotidiano.

“Tertúlia latino-americana”, encontro dos escritores Elsa Osorio, da Argentina, José Eduardo Agualusa, de Angola, e Socorro Acioli, brasileira, para homenagear Julio Cortázar, Jorge Luís Borges e Gabriel García Márquez.

“Exílio, deslocamento e linguagem na literatura”, reunindo três prosadores brasileiros – Paloma Vidal, Sérgio Sant’Anna e Luciana Hidalgo – para falar de deslocamento por meio da exploração da linguagem.

“A violência como herança no Brasil contemporâneo”, que tematiza a violência na política, na sociedade e na arte brasileiras com a presença de três especialistas no assunto – o filósofo Vladimir Safatle, o professor de literatura Jaime Ginzburg e o escritor Luiz Eduardo Soares.

Mas o mercado editorial não pode deixar de ser um dos protagonistas desta festa, que no total custou 34 milhões de reais para ser armada. A maioria das editoras nacionais vê nessa ocasião a oportunidade de difundir seus lançamentos e o trabalho que vêm realizando, além de promover a interação entre seus autores e os leitores deles – tarefa essencial no mundo de hoje para se vender livros. Por isso, participarão da feira 350 expositores (46 expositores a menos que a edição passada, no entanto) com 750 selos, todos ávidos por esse afã de despertar nas pessoas o prazer da leitura.

Eles farão isso ao longo dos 10 dias de evento com o respaldo de escritores de best sellers como Ken Follet (autor da trilogia O Século e o maior vendedor de livros desta Bienal, com mais de 130 milhões de exemplares vendidos no mundo), Cassandra Clare (Os instrumentos mortais), Harlan Coben (Não conte a ninguém), Kiera Cass (A seleção) e outros. Mas também de nomes associados ao que seria o outro lado da moeda, a vertente intelectual, como o crítico literário alemão Hans Ulrich Grumbrecht, o crítico musical americano Alex Ross e o escritor libanês Elias Khoury.

Entre os convidados nacionais, aparece o escritor de hits históricos Laurentino Gomes – quatro vezes ganhador do Prêmio Jabuti de Literatura com 1808, sobre a fuga da corte portuguesa de D. João VI para o Rio de Janeiro, e 1822, sobre a Independência do Brasil, e outros títulos –, Cristovão Tezza (escritor de romances que exploram a memória, como O filho eterno), Patrícia Mello (conhecida autora de livros policiais, como O matador), Luiz Ruffato (colunista do EL PAÍS e autor de do premiado Eles eram muitos cavalos) e Milton Hatoum (reconhecido romancista brasileiro no país e no exterior, autor de Dois irmãos, entre outros).

A abertura do dia 22 ficará a cargo da atriz Fernanda Montenegro, que lerá trechos de sermões do Padre Antônio Vieira (1608 – 1697).

Haverá ainda a exibição de filmes – como a premiada animação brasileira O menino e o mundo – e de espetáculos teatrais, de circo e de dança, o evento Cozinhando com Palavras, que inclui debates sobre literatura, comida e cultura e cursos e palestras direcionados a profissionais da área na Escola do Livro. Todos indícios de que, na visão da Bienal, assim como de Joël Dicker, há mil maneiras de descobrir que seguir o rastro da literatura pode ser instigante. Resta torcer para que mais e mais leitores potenciais se deixem instigar.

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