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Suárez fulmina a Inglaterra

Dois gols do atacante do Liverpool, que jogou mancando um pouco, completam a saga do Uruguai

Diego Torres
Luis Suárez comemora o gol da vitória.
Luis Suárez comemora o gol da vitória.Francois Xavier Marit (AP)

A melhor reunião de jogadores ingleses das últimas décadas foi sacrificada no Itaquerão. Um treinador obtuso os entregou à ruína. Para salvá-los não bastaram a categoria individual, a coragem e um infinito espírito de entrega. Consumiram-se perante um Uruguai marcado pelas limitações, que se virou com inteligência e valentia em busca de alguma chance. Quando a teve, apareceu o homem providencial, Luis Suárez, que jogou mancando um pouco e marcou dois gols. O heroísmo explica o que acontece quando se cruzam uma vontade férrea e um desastre de organização.

Foi um duelo equilibrado a partir das desigualdades. A notória superioridade do elenco inglês foi anulada pela inépcia do seu treinador, incapaz de interpretar as necessidades da partida. Roy Hodgson não compreendeu que contra a Itália a sua equipe se rompeu ao meio, e que contra o Uruguai repetiu os mesmos erros. Se há uma coisa que caracteriza a nova geração de jogadores ingleses é a sua versatilidade. Wilshere, Shaw, Lallana e Barkley são capazes de interpretar o jogo no meio-campo, exatamente onde se cozinha o futebol moderno.

Mas Hodgson não os utilizou logo de início. Deixou-os no banco, porque é um homem ancorado ao passado e porque lhe custa sair do registro de abertura pela lateral e chuveirinho na área. Seguindo esse plano, a Inglaterra se desdobrou com dois armadores desnecessariamente duplicados, Gerrard e Henderson, e à frente colocou Welbeck, Rooney, Sturridge e Sterling, os três primeiros com vocação de ponta, o último um centroavante. O resultado foi um deserto no centro do campo. Um espaço interminável e estranho, por onde se perderam Rooney, Gerrard e Henderson.

Tabárez, que não por acaso é chamado de Maestro (professor), percebeu o ponto fraco e para lá direcionou o seu armamento. O treinador uruguaio organizou algo parecido a um 4-1-4-1. Liberou Suárez, pediu a Cavani que se atrasasse, montou uma linha de três volantes com Rodríguez, Lodeiro e González e mandou o armador Arévalo vigiar Rooney. Em um só movimento a Inglaterra se viu superada numericamente, e Rooney, seu melhor jogador, ficou isolado.

O Uruguai fingiu que se deixava dominar nas zonas frias do campo, se encastelou na sua área e, quando teve a bola, a tocou com naturalidade, porque os atacantes ingleses não desciam. A melhor ocasião da Inglaterra foi em uma cabeçada de Rooney na trave, após escanteio. Na área oposta, Cavani e Suárez estiveram duas vezes cara a cara com Hart. Finalmente, antes do intervalo, a partida começou a ser resolvida. Lodeiro brigou com Henderson e Gerrard e entregou para Cavani, cujo cruzamento para o meio da área encontrou Suárez sozinho.

Mesmo jogando de forma mais rígida, em sua primeira partida após uma operação de menisco, o atacante do Liverpool ganhou as costas de Jagielka e cabeceou na forquilha. O gol desatou o delírio nos milhares de uruguaios que haviam viajado 2.000 quilômetros até o Itaquerão. A arquibancada tremia no intervalo: “Quem não pula é inglês!”.

Hodgson demorou uma hora para reagir –e mesmo assim lentamente. Primeiro trocou Welbeck por Barkley, depois Sterling por Lallana. As escolhas foram boas, mas a desordem dentro do campo não se corrigiu. Rooney caiu pela esquerda e Lallana ficou no meio, ao contrário do que indicam as qualidades de cada um deles. Entre as vacilações e o desespero, os jogadores ingleses atacavam a área rival à base da força e dos cruzamentos. Uma verdadeira chuva caiu sobre Muslera.

O Uruguai começava a se ressentir do assédio. Mas foi numa jogada quase fortuita que a defesa acabou cedendo. Johnson tabelou com Sturridge na lateral direita e se filtrou aos tropeços entre três zagueiros antes de fazer um cruzamento rasteiro. No segundo pau, enganando Cáceres, apareceu Rooney. O 1 x 1 colocou o Uruguai numa situação limite: obrigado a responder quase sem recursos no banco, com jogadores exaustos e com o astro Suárez à beira das cãibras.

A generosidade da Inglaterra, entretanto, não teve limites. Uma longa reposição de Muslera com os pés, prolongado por Cavani, acabou nos pés do manco. A defesa ficou praticamente plantada, e o atacante se viu cara a cara com Hart antes de finalizar com a alma. Foi o gol do jogo. A última ação de Suárez, aclamado como um herói quando ficou estendido no campo, pedindo a substituição. Estava inválido. A maca o retirou em meio à aclamação da sua torcida, enquanto os ingleses se consumiam em um redemoinho de nervos ante a iminência da catástrofe.

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