Protestos param a maior cidade do Brasil
Passeatas por reajustes salariais levam o caos a São Paulo, que bate o recorde de trânsito do ano
São Paulo viveu nesta terça-feira o dia mais caótico do ano, com a combinação de uma passeata de professores da rede municipal, em greve há 27 dias, e outra de funcionários dos ônibus municipais, que pararam os veículos às margens das principais avenidas da cidade e interromperam a circulação. Os dois atos deixaram 261 quilômetros de ruas congestionadas às 19h, o maior trânsito do ano na cidade, abarrotaram as estações de metrô e dificultaram o retorno dos trabalhadores para suas casas, em um cenário de completo caos. Por causa do tumulto, a PUC-SP, uma das principais universidades particulares da cidade, decidiu interromper as aulas da noite.
No final da tarde, dezenas de pessoas que não conseguiam acessar o transporte público circulavam à pé pelas principais avenidas da zona oeste de São Paulo, uma das mais afetadas. A estudante Caroline Damari tentava chegar à Vila Mariana, na zona sul, onde tinha aulas. Mas não conseguiu entrar na estação Pinheiros do metrô, que estava lotada. Resolveu, então, tomar um táxi, mas todos os pontos tinham filas enormes e os aplicativos de celular não funcionavam. Desinaide Pereira de Lima teve que esperar oito trens para chegar de São Miguel Paulista, na zona leste de São Paulo, à zona sul pela manhã. À tarde, como aconteceu em alguns escritórios da cidade, ela foi liberada mais cedo do trabalho, mas 3h30 depois ainda não havia conseguido chegar em casa e ainda faltava a metade do caminho.
O protesto dos motoristas e cobradores dos ônibus municipais foi causado pelo descontentamento de uma parte da categoria com um acordo realizado entre o sindicato e os donos das empresas de ônibus que prestam serviços para a prefeitura. Na segunda-feira, uma assembleia da categoria acertou em 10% o reajuste salarial para este ano, mas uma parte dos funcionários achou que o valor era baixo e quer ao menos 22% de aumento. De forma desorganizada inicialmente, os trabalhadores começaram a parar os ônibus e a cruzar os braços e, conforme a notícia foi se espalhando, mais veículos foram sendo encostados. Alguns motoristas, em entrevistas a telejornais brasileiros, chegaram a afirmar que estavam sendo obrigados a parar, com medo de represálias dos colegas. No total, 16 dos principais terminais de ônibus da cidade foram bloqueados durante o dia.
As manifestações essencialmente contra a Copa serão muito pequenas durante o Mundial. O que vai acontecer são muito mais manifestações de oportunidade, de categorias profissionais que vão aproveitar a visibilidade da Copa para fazer suas manifestações Gilberto Carvalho, ministro da Secretaria-Geral da Presidência
O sindicato da categoria qualificou o ato de “errôneo e desordeiro”, segundo Romualdo Santos, assessor da presidência do Sindmotoristas.
No final da tarde, um grupo de funcionários das linhas de ônibus se dirigiu à sede da prefeitura, no centro de São Paulo, onde se encontrou com uma passeata de trabalhadores da rede municipal de ensino que havia percorrido desde as 14h um dos principais corredores de trânsito da cidade: a avenida Paulista. Segundo o sindicato da categoria, cerca de 15.000 funcionários das escolas municipais, parte delas em greve há 27 dias, participaram do ato.
Os funcionários da educação pedem a incorporação ao salário de um bônus de 15,38% dado pela prefeitura a profissionais que ganham menos do que o piso. Eles prosseguem em greve e devem fazer novo ato na próxima sexta-feira, no centro.
As reivindicações por reajustes salariais adicionam mais um elemento à onda de protestos pré-Mundial no país, retomada com força no dia 8 de maio por grupos contrários aos gastos com a Copa. Apesar de esta época do ano geralmente ser tumultuada pela data-base (mês de negociação salarial) de muitas categorias, o elemento Copa do Mundo pode funcionar como catalisador das reivindicações.
Faltando 23 dias para o jogo de abertura, a ameaça de paralisação de serviços essenciais para os cidadãos e os turistas, como o transporte público, e o bloqueio de vias importantes por categorias em greve amedrontam os governos. Neste ano, por exemplo, o sindicato dos funcionários dos ônibus municipais, que deixa claro que não fez pressão por conta da Copa, conseguiu que a campanha salarial fosse vitoriosa, com o aumento de 10% e benefícios pedidos pela categoria há 15 anos, como a aposentadoria especial e o adicional insalubridade. Por isso, a paralisação nesta segunda-feira de uma parte da categoria que acreditava ser possível conseguir mais ganhos causou indignação no governo municipal. Em entrevista coletiva, o prefeito Fernando Haddad (PT) chamou o ato de “inadmissível".
Outras categorias também já começam a programar atos fortes pelo Brasil. Policiais civis, federais e rodoviários federais vão se reunir em assembleia nesta terça-feira em todos os Estados da Federação para discutir os rumos da negociação com o Governo federal. Eles pedem uma reestruturação na carreira e também ameaçam uma greve em breve.
Diante da ameaça dos policiais, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, afirmou nesta segunda-feira que espera "bom senso" da categoria. Em uma fala à imprensa durante um evento sobre a Copa registrada pela Agência Brasil, ele afirmou que esse tipo de manifestação de categorias organizadas deve tomar o lugar dos protestos anti-Copa, aproveitando o poder de barganha que o Mundial dá às reivindicações organizadas.
“As manifestações essencialmente contra a Copa serão muito pequenas durante o Mundial. O que vai acontecer são muito mais manifestações de oportunidade, de categorias profissionais, de movimentos de moradia e outros, legítimos, que vão aproveitar a visibilidade da Copa para fazer suas manifestações, que nós esperamos que sejam pacíficas", disse.
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