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“Somos os melhores do mundo”

Milhares de torcedores alvirrubros recebem o campeão para festejar um título que o capitão Gabi descreve como “um prêmio ao trabalho e ao amor por cores que não se compram”

Felipe Betim

“Espetacular, somos os melhores do mundo!” Assim Angélica, de 17 anos, resumiu sua emoção ao ver pela primeira vez o Atlético de Madri ganhar a Liga. Ela é parte de uma longa geração que não havia conhecido sua equipe como dominadora incontestável do futebol. Depois de 18 anos sem conquistar a Liga, a festa do sábado precisava continuar. E continuou. Às 18h horas (13h em Brasília), milhares de torcedores alvirrubros já se aglomeravam junto à fonte de Netuno, no centro de Madri, para esperar os jogadores. Às 20h47 chegou o campeão, com seu capitão Gabi à frente, para enfeitar Netuno com seu cachecol. “Muito obrigado a todos. Para mim é uma honra estar aqui, dividir o vestiário com esta gente e conseguir o que conseguimos. É um prêmio ao trabalho e ao sacrifício, ao amor por cores que não compram. Isto está só começando”, avisou o capitão, possivelmente pensando em um possível reencontro com o deus mitológico dentro de sete dias, se o Atlético conquistar a Champions.

Um a um, todos os integrantes do campeão da Liga foram desfilando pela plataforma instalada ao redor da fonte. O auge foi quando o apresentador da festa chamou Simeone. O técnico apareceu de jeans, com uma camiseta que dizia: “A história se escreve a cada pulsação”. Divertiu-se escutando a multidão, rendida, gritar seu nome em coro, e – melhor especialista em coreografia emocional que o Vicente Calderón já conheceu – foi ele quem regeu a massa no grito de “campeones, campeones”.

Como faz no Calderón, Simeone voltou a atuar como coreógrafo emocional

Netuno não mudou de cor o fim de semana inteiro. Esteve alvirrubro no sábado, e alvirrubro permaneceu neste domingo. Os milhares de torcedores que encheram a praça depois da partida contra o Barcelona, no qual o empate em 1 x 1 garantiu a Liga para o Atlético, pareciam ter ficado de plantão junto ao Netuno, esperando até o dia seguinte para a comemoração oficial. Vestidos com as camisas dos seus ídolos, não paravam de fazer coro e agitar cachecóis e bandeiras. Passados 18 anos do duplo título da temporada de 1995-96, guardavam uma energia infinita. “Esta temporada foi de muito sofrimento, mas também de muita paixão. E com certeza no fim de semana que vem [quando acontece a final da Champions League em Lisboa, contra o Real Madrid] estaremos aqui de novo”, diz Pedro, de 19 anos, que espera os jogadores com um amigo. Perto deles está Ildefonso, que se lembra bem das vitórias de 1971, 1976 e 1996. “Mas esta foi uma temporada muito especial. Estou muito feliz neste momento”, resume o homem de 53 anos, enquanto agita uma bandeira do seu time.

O clube preparou neste domingo uma estrutura para comemorar a vitória junto à torcida e recepcionar os jogadores. Ao redor da fonte, que permanecia cercada por grades, havia um imenso pano azul que dizia: Campeões Liga 2013-2014. Imensas torres de luz, cobertas por um tecido vermelho no qual também se lia “campeões”, completavam o cenário montado. Havia também um DJ, chamado para animar a torcida durante a espera. Ao contrário da comemoração de 1996, quando o clube montou uma imensa festa por ocasião do título, com direito a elefantes passeando pelas ruas de Madri, desta vez eram os torcedores quem comandavam a celebração.

A multidão fazia coro sem parar: “Campeões, campeões”, “Luis Aragonés, Luis Aragonés”, "Atléti, Atléti, Atlético de Madri”, entre outras muitas músicas do repertório colchonero. Cachecol na mão, os torcedores não paravam de entoar hinos, até formarem um mar de gente que cantou a uma só voz. “É uma satisfação imensa. Depois de uma temporada de luta, merecíamos isso”, dizia José Miguel, de 58 anos, tão convencido como eufórico. “Mas mesmo que não tivéssemos ganhado, o mais importante foi a Liga que fizemos, com muita emoção”, conclui.

Carlos, que leva seu filho pequeno nos braços, está muito emocionado. Imagina-se que esteja orgulhoso, por suas palavras se deduz que talvez pensasse jamais voltar a viver um momento como o que viveu há 18 anos. “Sou sócio do Atléti há 34 anos, e achava que a temporada 1995-1996 era irrepetível. O tempo passa, e agora estou aqui com meu filho. E para mim isto é o melhor do mundo.” O mesmo deve ter pensado Germán Burgos quando, liderando a equipe de trabalho de Simeone, começaram a retumbar os acordes de Thunderstorm, do AC/DC. Afinal de contas, esse Atlético joga como uma tempestade de raios.

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