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O COI aumenta a pressão sobre o Rio-2016 diante dos “piores preparativos”

As obras estão em até 15% do seu desenvolvimento, frente aos 60% que Londres exibia 27 meses antes da Olimpíada de 2012

Operários em greve em frente ao Parque Olímpico do Rio, no início deste mês.
Operários em greve em frente ao Parque Olímpico do Rio, no início deste mês.

O Comitê Olímpico Internacional (COI) buscou hoje abrandar o tom das suas críticas ao Comitê Organizador Local dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio, depois das duríssimas palavras ditas ontem por seu vice-presidente, o australiano John Coates, que após seis visitas à Cidade Maravilhosa qualificou de “crítica” a situação dos preparativos, “os piores que já vivi” em 40 anos de trajetória no movimento olímpico. O Comitê Organizador havia respondido em nota que “já passamos da hora em que discussões genéricas sobre o progresso da preparação possam contribuir com a evolução da jornada rumo aos Jogos. É tempo de focarmos mais no trabalho e no engajamento”. Um porta-voz do COI, Mark Adams, afirmou nesta manhã, em um tom marcadamente diplomático, que o interventor designado há quinze dias pelo COI para desbloquear a “paralisia política”, Gilbert Felli, “recebeu uma resposta muito positiva in loco nos últimos dias, percebendo algumas mudanças recentes que demonstram que as coisas estão se movendo na direção correta”.

Os especialistas do COI estimam que as obras orçadas estão em 10-15% do seu desenvolvimento, frente a 60% que Londres exibia 27 meses antes da abertura da Olimpíada de 2012. Coates afirmou, aliás, que “as obras estão mais atrasadas do que as de Atenas-2004”, o caso mais alarmante das últimas décadas. “Em Atenas tínhamos que lidar com um governo e com alguns órgãos municipais. Aqui há três. Existe pouca coordenação entre o Governo federal, o Estado e a prefeitura, que é responsável por grande parte da construção […] E isso em uma cidade com problemas sociais que devem ser abordados”, concluiu Coates taxativamente, deixando claro, no entanto, que “não há plano B – seja como for, iremos ao Rio”. Alguns meios de comunicação internacionais mencionaram na semana passada a possibilidade de que alguns esportes sejam eliminados dos Jogos para garantir a sua realização.

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O prefeito do Rio, Eduardo Paes, não teve como rebater os comentários do COI e disse que “devemos aceitar as críticas e trabalhar muito, com zelo e dedicação, para terminar tudo a tempo”. Há apenas três semanas, o prefeito havia admitido que perde o sono com a reforma do Parque Olímpico Deodoro, na zona oeste – sede, entre outras, das competições de hipismo, arco, rúgbi e hóquei sobre grama, e cuja licitação só foi publicada no último dia 17, com previsão de que as obras comecem em setembro.

O nulo ou escasso progresso em algumas das obras contrastam com a imagem que o Brasil pretendia projetar como sede da Copa do Mundo e da Olimpíada, dando a razão às escassas vozes que há anos alertaram sobre o gigantesco desafio que significaria organizar os dois eventos em um intervalo de apenas dois anos. “As autoridades brasileiras só trabalham bem à base de críticas”, afirmou ontem a este jornal uma fonte muito próxima da organização, que preferiu guardar anonimato. O orçamento atual dos Jogos é de 36,74 bilhões de reais, 30% acima do inicialmente previsto, e é provável que aumente quando todas as obras pendentes sejam finalmente licitadas.

Ao próprio atraso das obras e à onda de distúrbios sociais que a cidade do Rio vive se somam algumas greves de trabalhadores da construção civil e os problemas de coordenação entre as três administrações (municipal, estadual e federal), que levaram a um atraso inédito na distribuição de verbas e à demissão, em março, da presidenta da Empresa Olímpica Municipal, Maria Silvia Bastos. Como se fosse pouco, a obrigação imposta pelo COI de limpar a baía de Guanabara (a mais poluída do Brasil), onde serão disputadas as provas de vela, foi comparada pelo secretário estadual de Meio Ambiente, Carlos Portinho, a “arar no deserto”.

O jornal O Globo recordava na sua edição de hoje alguns trechos do texto de apresentação da candidatura que levou à escolha da cidade como sede olímpica, em 2009, e que terminava categoricamente: “Sem sombra de dúvida, o Rio estará preparado”. No documento, dizia-se que “os protestos sociais de grandes dimensões são raros […] e não se esperam protestos para a Copa de 2014”, além de que neste ano já estaria “totalmente reformado o Aeroporto Internacional Tom Jobim” – quando, na realidade, o risco de um “apagão elétrico” (reconhecido pelas autoridades brasileiras) coloca em xeque a capacidade do Galeão de absorver grande parte do fluxo de 600.000 turistas que chegarão ao país durante a Copa do Mundo, entre 12 de junho e 13 de julho.

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