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Polícia investiga elo de traficantes brasileiros com quadrilhas europeias

Há um ano, agentes de São Paulo e Santos apuram quem seriam os receptores de 3,7 toneladas de cocaína. Uma das suspeitas é de ligação com a facção criminosa PCC É a maior apreensão do tráfico internacional dos últimos anos

Parte do dinheiro apreendido pela polícia em Santos, durante operação contra tráfico internacional.
Parte do dinheiro apreendido pela polícia em Santos, durante operação contra tráfico internacional.divulgação polícia federal

Um dia após anunciar a apreensão de 3,7 toneladas de cocaína no porto de Santos, o maior terminal da América Latina, a Polícia Federal agora se vê diante de um novo desafio: identificar quem seriam os compradores dessa droga no atacado e se as quadrilhas brasileiras têm conexões com facções internacionais, como a máfia italiana ou bandos portugueses e espanhóis. Para chegar a essas informações, os agentes brasileiros contam com a colaboração de policiais de outros países para onde a droga foi levada como Espanha, Itália, Portugal, Cuba e África do Sul.

Nos últimos doze meses, duas operações da PF (batizadas de Hulk e Oversea) descobriram um esquema de transporte um tanto simples, mas até então desconhecido dos policiais. Funcionários terceirizados de empresas de logística cooptados pelas quadrilhas brasileiras inseriam mochilas e sacolas carregadas de cocaína dentro de contêineres que já haviam sido embarcados e lacrados. Os donos dessas cargas e os responsáveis pelo porto, conforme a polícia, desconheciam o delito.

Era um tráfico “formiguinha”, já que, raramente, a quantidade de cocaína colocada dentro de cada contêiner passava de 100 quilos - um contêiner comporta em média 20 toneladas de produtos. Para não levantar suspeita, os criminosos rompiam o lacre do contêiner e o substituíam por um lacre clone (igual ao que havia sido rompido). Junto com a mochila com a droga, havia outro lacre clone para ser usado quando a droga chegasse ao seu destino. Isso porque a droga era retirada do navio antes que a carga legal fosse desembarcada.

Era um tráfico “formiguinha”, já que, raramente, a quantidade de cocaína dentro de cada contêiner passava de 100 quilos

No período, 83 pessoas foram presas, sendo 23 delas na segunda-feira passada. Há ainda outros 23 suspeitos foragidos, entre eles, um português. A polícia chegou ao esquema após uma série de denúncias que apontavam a participação desses funcionários. Nas investigações, descobriu-se que ao menos uma das células da quadrilha era vinculada à facção Primeiro Comando da Capital (PCC), a principal organização criminosa de São Paulo. Dois suspeitos foram apontados como membros desse grupo: André Oliveira Macedo, o André do Rap (um dos chefes do grupo em Santos) e Jefferson Moreira da Silva, o Dente, seu braço-direito.

De acordo com a polícia, a droga apreendida em Santos era produzida na Bolívia e entrava no Brasil pela fronteira seca com os Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (às vezes passando pelo Paraguai) e por meio de rodovias seguia até a região da Grande São Paulo, onde era estocada. Quando algum chefe do bando ordenava, a droga era levada para Santos, de onde partia para as rotas internacionais. Um dos portos onde a cocaína desembarcou antes de seguir para o continente europeu foi um das Ilhas Canárias, arquipélago espanhol no oceano Atlântico próximo ao Marrocos.

Dimensão

Esse foi o maior desfalque dado contra traficantes internacionais brasileiros nos últimos anos. Antes dele, houve um outro grande rombo contra o crime, em março passado, quando a operação Monte Pollino, também da PF, prendeu 20 pessoas acusadas de enviarem 1,3 tonelada de cocaína para a Itália. Nesse caso, conforme a PF houve a participação da máfia italiana.

A enorme evolução patrimonial dos investigados na última investida contra os criminosos chamou a atenção da polícia. Eles tinham investimentos em imóveis, carros de luxo e usavam laranjas para ocultar e lavar o dinheiro, assim como para fazer o câmbio do dinheiro obtido com o tráfico internacional.

A opção por vender a droga em outros continentes é óbvia: fora do Brasil o traficante lucra mais. Um grama de cocaína em São Paulo, por exemplo custa até 50 reais (22 dólares), enquanto que em solo europeu é 4,4 vezes mais cara, 222 reais (98 dólares).

Durante os 12 meses de trabalho, a polícia apreendeu uma embarcação 230.000 euros em dinheiro, 290.000 reais, 440.000 dólares, 13 carros e dois caminhões, além de dez fuzis e pistolas. Ainda é pouco perto dos milhões de reais que o grupo movimentou nos últimos meses, entre 20 milhões e 30 milhões de reais, segundo policiais consultados por esse diário.

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