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“O jovem de hoje acha que a vida é uma festa openbar”

O professor Ademar Bueno, da FGV, faz uma análise sobre a Geração Y universitária e dá pistas de como motivá-la

Diretor do laboratório de inovação e empreendedorismo e sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas, Ademar Bueno, é um professor universitário diferente. Ele dá aulas, mas também desenvolve projetos paralelos com os jovens para que empreendam. Atualmente, está desenvolvendo uma série de mini-documentários sobre o Movimento Y, que fala da geração conhecida pela mesma consoante. Seu papel não é tanto o de transmitir o conhecimento na forma tradicional das aulas, mas sim de orientar e ajudar o aluno a desenvolver-se na profissão escolhida através do coaching, atividade que exerce há 18 anos.

Pergunta: A Geração Y é conhecida pelos jovens de classe média que às vezes nem estudam, nem trabalham. Também por aqueles que não amadurecem. Sem contar os que ficam na casa dos pais até os 30 ou mais. De onde surgiu a ideia de fazer um documentário sobre eles?

Resposta: Eu tenho muito contato com os alunos na Universidade e principalmente com os que saem da faculdade. E eu escuto deles que ao invés de ter certeza do que querem fazer, saem mais perdidos do que quando entraram. Essa geração recebeu as maiores oportunidades da história mas não tem propósito e sai ao mercado de trabalho sem conseguir alinhar estudo com atuação profissional. Esses jovens entraram na faculdade entendendo que o Brasil é a bola da vez, não o país do futuro, como na geração anterior. Então eles pensavam que seria fácil. E a situação econômica reforçou a visão educacional que os pais passaram aos filhos. O que eu quero com os vídeos é trabalhar isso em várias esferas. Quero criar o Movimento Y para que eles possam alinhar sonhos, valores e formação, porque os empregadores e educadores não estão conseguindo ajudá-los neste sentido, porque são de gerações diferentes.

P. E, até o momento, qual é o diagnóstico?

R. Percebemos que eles receberam tudo pronto. É uma geração cujos pais conseguiram uma série de conquistas, onde ambos trabalhavam e, em alguns casos, tentam suprir essa ausência ofertando benefícios materiais e financeiros. Principalmente para que esses jovens não precisassem passar pelas necessidades que eles passaram. É uma geração que não tem experiência profissional nem de vida. O grande desafio da vida deles é passar no vestibular. E ele acha que seguindo o roteiro de entrar na faculdade e conseguir um estágio automaticamente resulta em êxito profissional. Só que quando ele chega ao mercado ele encontra um chefe diferente. É a primeira vez que ele vai ouvir não, que terá que confrontar ideias. E ele não tem isso desenvolvido, o que chamamos de senso de frustração.

P. E eles têm consciência disso?

R. A justificativa que ouvimos deles é “a empresa não está alinhada com aquilo que eu imaginava”. Só que eles não sabem que chegando no outro emprego vai acontecer a mesma coisa. E isso é o que as empresas reclamam, de não conseguir atender essa geração nem encaixá-la nos perfis ou vagas que possuem.

P. E como se conserta isso? Porque se ele sai preparado e se frustra, e as empresas também se decepcionam com ele, é uma situação complicada...

R. O que estamos tentando fazer é mudar o processo motivacional, porque ele está deturpado. Antes de criar um desejo esse jovem já recebe uma recompensa. São crianças de 12 anos ou menos que ganham um iPhone sem saber a utilidade daquilo. A ideia é simples: você chama o jovem para um desafio, não vale uma disciplina obrigatória, ele precisa estar aberto a isso. Depois, explicamos que ele precisa participar do processo da criação de um projeto. Só que descontruímos o projeto. E quem vai determinar o desafio, o desejo, o objetivo final, é ele. Nosso papel é orientar.

P. E funciona?

R. Em 1996 desenvolvi um projeto nacional para dar sentido de vida para os jovens universitários através do terceiro setor. Funcionou muito bem, surgiram ótimas ideias de empresas e sustentabilidade. Estamos começando agora uma turma de empreendedores políticos para um país sustentável, a RAPS. Tivemos 171 inscrições de jovens de 20 estados do Brasil. De diversas classes sociais, um da periferia do Rio, outro que estuda com bolsa em Harvard e outro que tem um projeto social na Cidade Tiradentes. São jovens que querem achar um sentido para sua vida por meio de uma atuação político-institucional. Se você dá oportunidade e orienta, o resultado é maravilhoso. Existe essa oportunidade na área de empreendedorismo, sustentabilidade e política. Se esta geração está tão bem preparada, fala línguas e são conectados, é uma grande oportunidade oferecer um sentido bacana para eles dentro daquilo que o país precisa, que são essas três áreas.

P. Será que convém esperar a que cheguem na Universidade para mudar essa mentalidade?

R. Eu convivo com esse público e a sensação que eu tenho é que a maioria dos jovens desta geração acham que vieram para o mundo pensando que é uma festa openbar. Que eles merecem uma festa, receber do bom e do melhor. Só que não pensam que alguém precisa colocar a bebida para gelar, organizar e arrumar a bagunça depois. Eles precisam ralar, arriscar, aprender, refazer, não desistir, como sempre foi, seja na Universidade ou na vida. Não é porque nasceram com a internet que o mundo vai mudar por conta disso. Existe um período de ajuste geracional que esse pessoal terá que encarar e isso começa em casa.

P. E o papel dos pais? Mudou?

R. Acho que grande parte da existência da geração Y está relacionada ao novo modelo de casamento e relações familiares. Ninguém precisa assumir nada com ninguém para ter sexo, nem namorar, muito menos casar. A relação social do casamento está totalmente diferente e isso influencia essa geração porque eles crescem com a liberdade de fazer o que querem, na hora que querem. Antes morar com os pais era um sinal de fracasso. Eles agora assumem que não têm a necessidade de casar, porque seria um compromisso financeiro para constituir família.

P. É uma questão de imaturidade, então

R. O fim da adolescência e o início da vida adulta sempre foi entendido que terminava aos 21 anos. As recentes pesquisas de neurociência indicam que agora a adolescência acaba entre 26 e 28 anos. Isso significa que antes disso eles não têm o cérebro definido e as decisões de livre arbítrio também não estão desenvolvidas. Já se sabe que as crianças que cresceram jogando videogame têm um desenho cerebral diferente, mas a imaturidade também faz parte. É por conta dela que eles têm medo de encarar desafios, de querer tudo pronto. Eles optam por uma oferta de conforto por mais tempo até entenderem que precisam sair e encarar a vida.

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