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Kicillof, o galã da economia argentina

Mimado por Cristina Fernández de Kirchner, o titular da pasta econômica converteu-se no ministro da moda na Argentina

Francisco Peregil
O Axel Kicillof, em uma coletiva no último dia 21 de janeiro.
O Axel Kicillof, em uma coletiva no último dia 21 de janeiro.EFE

Em certas universidades pode-se até encontrar um desses professores atraentes de 42 anos com aspecto de 30 que nunca foram vistos com uma gravata. Na época de estudantes, tinham tempo de sobra para tirar as melhores notas da universidade ao mesmo tempo que fundavam associações políticas de esquerda de nomes tão bombásticos como TNT -Tontos mas Nem Tanto-. O atual ministro da Economia, Axel Kicillof, aluno e depois docente da Universidade de Buenos Aires (UBA), era um desses tipos que não passava despercebido. Quando começou a exercer o cargo de professor de Economia aprofundou seus estudos sobre Karl Marx e dedicou sete anos de sua vida a redigir uma tese sobre John Maynard Keynes. Enquanto isso, assessorava sindicatos e governos municipais. Sua vida deu uma guinada em 2009, quando a organização juvenil e peronista La Cámpora decidiu incorporá-lo à direção da Aerolíneas Argentinas, dentro do “projeto nacional e popular” de Cristina Fernández de Kirchner. A partir daí, a presidenta foi delegando a cada vez mais poder para Kicillof.

Bom amigo de Máximo Kirchner -o filho mais velho da presidenta- e já convertido em vice-secretário de Economia, convenceu Cristina Kirchner sobre a conveniência de expropriar 51% das ações da YPF da Repsol em abril de 2012. Na primeira junta de acionistas da petroleira expropriada ele pôde ser visto pela sede da companhia subindo e descendo as escadas em passos rápidos, fazendo brincadeiras com os garçons que atendiam os acionistas. Exibia uma autoconfiança que seus críticos e alguns de seus colaboradores não titubeavam em qualificar como soberba. Em um ano depois, ele é visto na casa Rosada com calças jeans e jaqueta, com caderno e caneta esferográfica, rodeado de sua equipe econômica, pessoas do mesmo porte juvenil, com jaquetas e sem gravatas.

Convenceu a presidenta a expropriar 51% das ações de YPF a Repsol

Os colegas de Kicillof no Gabinete dizem que em sua cabeça cabe cada detalhe da política financeira, monetária e fiscal do país. E que sua tese é o melhor que se escreveu sobre Keynes. No entanto, o economista e deputado opositor Alfonso Prat-Gay, que foi presidente do Banco Central com o presidente Néstor Kirchner entre 2002 e 2004, sustenta que a política econômica de Kicillof é de um entusiasta, que ao invés de “experimentar” com seus alunos experimenta com 40 milhões de argentinos.

Filho de pai psiquiatra e de mãe psicanalista judia, criado no luxuoso bairro portenho de Recoleta, Kicillof é o segundo de três irmãos. O mais velho estudou informática e a mais nova psicologia. Os três completaram seus estudos com honras.

Kicillof tem um físico magro e não deve medir mais do que 1,75 centímetros. Está casado com Soledad Quereilhac, de 38 anos, professora de literatura e entusiasta de tango. No quinzenal Perfil se descrevia como uma mulher “linda, brilhante e graciosa” (…) “Bons modos, pouca maquiagem, cabelo longo e solto, calças, camisas, sapatos baixos e um minúsculo piercing no nariz conformam o selo distintivo da esposa de Kicillof, uma professora sempre atenta aos comentários de seus alunos e à puntualidade com que inicia suas aulas. Seu protótipo, poderia ser dito, é o de uma mulher que não se esfuerça em nada para chamar a atenção, mas que também não passa nunca desapercebida”.

O casal tem dois filhos de dois e cinco anos. Em fevereiro de 2013 Kicillof voltava com a esposa e seus dois filhos em um ferry de Montevidéu a Buenos Aires quando vários passageiros o insultaram e o vaiaram por causa das restrições na compra de dólares que já implantava o Governo. Sua mulher pediu que tivessem consideração com as crianças, mas, ao final, os quatro tiveram que se refugiar na cabine do capitão.

As poucas fotos onde se ele é visto fora do trabalho foram tiradas sem seu conhecimento ou consentimento. A revista argentina Notícias, por exemplo, fotografou-o neste mês em seu bairro com bermudas, meias soquetes, camiseta e o carrinho de compras. Em outras ocasiões, espalharam-se fotos de seus filhos. E isso já preocupa bem mais o ministro. Kicillof não gosta de falar de sua vida íntima, ao contrário do que acontece com a presidenta, Kirchner. Mas também não parece se esforçar em dominar suas emoções. Na sexta-feira, 24 de janeiro, no meio das turbulências causadas pela maior depreciação do peso sofrida nos últimos 12 anos, Kicillof assistiu em silêncio uma conferência de imprensa do chefe de Gabinete, Jorge Capitanich. Quando acabava, diante das perguntas dos jornalistas, agarrou o microfone e disparou: "Os mesmos que disseram durante dez anos que o dólar valia um peso, agora querem nos convencer de que vale 13”. E foi embora. Na Casa Rosada é visto com simpatia o mau humor que Kicillof deixa escapar com os inimigos do “projeto nacional e popular”.

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