Pacaembu, a caminho do ostracismo?
Quando a capital paulista comemora 460 anos, um de seus símbolos está perto de ficar às moscas
Aos 73 anos de idade, esse senhor que vive em uma das áreas mais valorizadas de São Paulo tem muita história para contar. Já assistiu a seis partidas de Copa do Mundo, dezenas de amistosos da seleção canarinha, uma dúzia de decisões de títulos importantes, luta do boxeador Éder Jofre, shows musicais (de Luciano Pavarotti aos Rolling Stones, de Paul McCartney a Iron Maiden) e até uma missa campal do papa Bento XVI.
Por sua envergadura e disposição de acompanhar tantos eventos na capital paulista, é considerado um dos símbolos da cidade, que nesse dia 25 comemora seu 460º aniversário. Sua disposição para testemunhar momentos importantes da história paulistana ainda é imensa, mas, ao que parece, o senhor Pacaembu está prestes a se tornar apenas um museu a céu aberto. Deve mesmo cair no ostracismo.
Chamado oficialmente de Paulo Machado de Carvalho, o estádio, localizado em uma área limítrofe entre a zona oeste e o centro, é um marco arquitetônico com influência Art-Decó. Até por isso foi tombado pelo patrimônio histórico. Inaugurado em abril de 1940 passou por poucas reformas. As mais recentes incentivaram três dos principais times paulistas a usá-lo. Um deles, o Corinthians aproveitava do espaço porque não tinha uma arena própria. O outro, o Palmeiras, porque seu estádio estava em reforma. O último, o litorâneo Santos para se aproximar de seus torcedores da capital.
O problema é que às vésperas das entregas das obras do Itaquerão, o estádio corintiano, e do Palestra Itália, o palmeirense, o Pacaembu deverá ser pouco utilizado para jogos de futebol. Isso implicaria diretamente na renda do local, já que o Santos, com seu estádio próprio, a Vila Belmiro, joga menos de uma vez por mês em São Paulo. Quando um clube decide jogar em seu próprio campo economiza principalmente com o valor do aluguel do espaço e, consequentemente, aumenta sua renda.
O Pacaembu custa mensalmente cerca de 400.000 reais. Com os alugueis para os clubes, o estádio arrecada de 190.000 a 540.000 reais, conforme o público e os horários dos jogos (os que acontecem durante o dia são mais baratos). Essa é a sua principal fonte de renda.
Para os próximos anos, a expectativa é de entregar a área para a iniciativa privada, seguindo um modelo de concessão similar ao das arenas do Mineirão, em Belo Horizonte, ou do Maracanã, no Rio de Janeiro.
Apesar de tudo indicar que o futuro do estádio é ficar às moscas, a prefeitura está otimista. Ela espera que tanto Palmeiras quanto Corinthians continuem mandando parte de seus jogos no Pacaembu neste ano. “Até o momento, e pelas informações iniciais que recebemos, os clubes ainda mandarão os seus jogos no estádio do Pacaembu em 2014. O período pós-Copa será de ajustes e de eventos diversos”, afirmou o órgão municipal por meio de uma nota.
Para os próximos anos, a expectativa é de entregar a área para a iniciativa privada, seguindo um modelo de concessão similar ao das arenas do Mineirão, em Belo Horizonte, ou do Maracanã, no Rio de Janeiro.
A discussão não é nova. O ex-secretário de esportes do município Walter Feldman chegou a apresentar um projeto em 2007 quando o Brasil tinha acabado de ser escolhido como sede da Copa do Mundo. A ideia era a de que o Pacaembu fosse uma alternativa ao Morumbi (a casa do São Paulo) para sediar o evento. No fim, não escolheram nem um nem outro. A FIFA e o governo decidiram que era necessário construir uma nova arena e assim surgiu o projeto do Itaquerão, feito com dinheiro da iniciativa privada, mas com vários incentivos tributários e empréstimos públicos.
Com essa mudança de rumo, o projeto de modernização do Pacaembu também foi alterado. “Apresentamos mais duas propostas. Uma de um estádio multiuso e outra de um ginásio-estádio, uma espécie de Madison Square Garden, que pudesse sediar jogos de vários esportes e shows. Mas nada foi pra frente”, afirmou Feldman.
O velho Pacaembu ainda tem um empecilho para os shows. A barreira foi imposta em 2004 pela Justiça a pedido de um grupo de moradores que alega que os shows musicais causam uma série de distúrbios na região. Ou seja, lá, só podem ocorrer eventos esportivos. “Se o projeto se concretizasse, teríamos um isolamento acústico adequado e estacionamentos para 20 mil veículos. Os moradores não se incomodariam com o movimento”, afirmou o ex-secretário.
Além do estádio em si, que comporta 40.168 espectadores, o Pacaembu ainda abriga o Museu do Futebol e um clube social. Este tem piscina, quadra de tênis, academia e ginásio de esportes usados por cerca de 36 mil pessoas mensalmente. Ambos devem permanecer funcionando e, se nada for efetivamente feito, assistirão de camarote o definhamento de um dos símbolos paulistanos.
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