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Santander registra prejuízo histórico de 10,8 bilhões de euros depois de um ajuste contábil

Banco fechará 2020 com prejuízo contábil como consequência da crise de covid-19, mas espera distribuir dividendos. O Brasil continua sendo a estrela, embora brilhe menos

Íñigo de Barrón
Ana Botín, presidenta do Banco Santander.
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O Grupo Santander fechou junho com prejuízo de 10,798 bilhões de euros (cerca de 65,859 bilhões de reais), depois de destinar 12,6 bilhões a dois ajustes contábeis: o saneamento do fundo de comércio por parte dos bancos comprados décadas atrás e o dos ativos fiscais diferidos (créditos fiscais). O banco ajusta o valor desses ativos às perspectivas econômicas atuais, seriamente prejudicadas pela pandemia. O ajuste não afeta a liquidez nem a solvência do banco, cujo lucro operacional no primeiro semestre de 2020 foi de 1,908 bilhão de euros, 53% menor do que no primeiro semestre do ano passado. A instituição bancária fechará 2020 com prejuízo contábil, mas espera distribuir dividendos.

As normas de contabilidade financeira exigem a atualização do valor contábil das aquisições no final do ano para verificar se elas se deterioraram. Desta vez o Santander se adiantou, de acordo com o CEO, José Antonio Álvarez. Ao valorizar os preços pagos no passado com o desempenho atual, as subsidiárias do Reino Unido, Estados Unidos e Polônia sofreram desvalorizações com a crise. Alguns analistas consultados acreditam que o banco aproveitou este momento para limpar o balanço porque o setor bancário internacional tem problemas e uma baixa valorização em Bolsa. A ação do Santander fechou a quinta-feira a dois euros, em queda de 4,71%.

As provisões por causa da pandemia reduziram os lucros nas três grandes regiões de atuação do Santander: na Europa, que gera 35% do resultado, na América do Norte, que proporciona 20%, e na América do Sul, que continua sendo o motor, com 45% dos lucros. O Brasil continua sendo a estrela, embora brilhe menos: contribui com 995 milhões de euros para o grupo, uma queda de 33%, seguido pela Santander Consumer Finance, com 477 milhões e queda de 26% em relação a 2019; o México está em terceiro lugar, com 406 milhões de euros de lucro, queda de 4%. Na Espanha, o resultado caiu para 251 milhões, uma redução de 64%, e no Reino Unido o grupo alcançou 139 milhões, queda de 76%. “É o momento mais baixo da subsidiária. Vai melhorar”, disse Álvarez, mas acumula anos em baixa.

Álvarez esquivou-se da pergunta sobre se o Santander participaria de uma dança de fusões. “No Santander, não estamos pensando nisso, mas em fortalecer a organização”, respondeu. A entidade dirigida por Ana Botín fez “uma depreciação extraordinária sem efeito no caixa no valor de 12,6 bilhões, dos quais 10,1 bilhões correspondem à depreciação de seus fundos de comércio (45% do fundo de comércio total do grupo) e 2,5 bilhões a créditos fiscais”. A depreciação é feita contra o patrimônio, os recursos próprios do banco, que passaram de 110 bilhões de euros em dezembro para 92 bilhões em junho. Além disso, o banco tem outros recursos próprios, que são os que estabelecem o nível de capital de máxima qualidade e os que determinam se dividendos podem ser distribuídos.

O Santander espera ter um lucro bruto de pouco mais de quatro bilhões de euros este ano, montante que não será suficiente para cobrir as enormes perdas. O lucro antes das provisões de junho aumentou 2%, para 11,865 bilhões, enquanto o resultado bruto atingiu 1,908 bilhão, queda de 53% em relação ao primeiro semestre de 2019, devido às provisões também feitas contra potenciais deteriorações causadas pela pandemia.

Em relação aos dividendos, Álvarez explicou que o banco acumulou capital para pagar este ano um dividendo relativo a 2019 de 0,10 euro por ação, mas em títulos, não em dinheiro. Quanto à proibição do BCE de distribuir dividendos, Álvarez alegou que existem diferenças entre a situação de cada banco. “Espero que haja maior discriminação em função da capacidade dos bancos de gerar resultados; isso não pode ser igual para todos”, defendeu o CEO.

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