O mapa mais detalhado para explorar a Lua
Geólogos do Governo norte-americano divulgam a cartografia mais completa já feita para o planejamento de alunissagens, assentamentos e exploração do satélite
Técnicos da agência de Pesquisas Geológicas dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês), em colaboração com a NASA e o Instituto Planetário Lunar, completaram uma ferramenta fundamental para a exploração lunar: o mapa mais completo do satélite natural da Terra. Depois do tratamento de toda a informação disponível e mais de duas décadas de trabalho, o Mapa Geológico Unificado da Lua, como foi chamada a nova cartografia, permite planejar missões, selecionar os melhores lugares para alunissagens e assentamentos, identificar futuras jazidas de recursos e dispor de um guia único para um corpo celeste que é testemunha natural da origem da Terra. “É uma ferramenta única para a ciência”, observa Jesús Martínez Frías, chefe do Grupo de Pesquisa de Meteoritos e Geociências Planetárias do CSIC (órgão nacional de pesquisa da Espanha) e diretor do Laboratório do Geociências de Lanzarote.
O mapa detalha na escala 1:5.000.000 as principais formações lunares, as crateras de impacto causadas pela colisão de meteoritos e os mares, formados por antigos fluxos de lava vulcânica.
Há na Lua quatro grandes tipos de rochas: as gabroicas e basaltos ricos em óxido de alumínio das zonas elevadas; as basálticas KREEP, assim chamadas por causa dos seus principais componentes: potássio (K), terras raras (“rare-earth elements”, em inglês) e fósforo (P); basaltos ricos em ferro e titânio; e o denominado regolito lunar, formado por rochas e pós não consolidados e especialmente rico em ilmenita (óxido rico em ferro e titânio).
Essa composição é fundamental para a exploração da Lua, principalmente por sua potencial utilização sobre a superfície do satélite para a construção de elementos que evitem o custoso transporte de materiais da Terra. Martínez Frías já ensaia em Lanzarote [uma das ilhas do arquipélago das Ilhas Canárias] o uso de regolitos para a fabricação de escudos contra a radiação gerada por prótons de emissões solares e íons pesados da radiação cósmica galáctica, para a construção de estradas ou para desenvolver cultivos (Green Moon Project).
Além disso, o mapa detalha as zonas da Lua que podem ser uma fonte de terras raras (15 elementos lantanídeos da tabela periódica, mais escândio e ítrio), consideradas o ouro do século XXI por serem fundamentais na fabricação de computadores, telefones celulares, cerâmicas avançadas, carros elétricos, micro-ondas, fibra óptica, sistemas de iluminação, lasers, mísseis e satélites, entre outras aplicações. Encontrá-las na concentração adequada para que sua extração seja rentável é um problema mundial hoje em dia.
O mapa é fundamental também para determinar e planejar os lugares mais apropriados para a exploração, alunissagens e assentamentos, ao detalhar com precisão a configuração geológica da superfície. “É maravilhoso ver o USGS criar um recurso que possa ajudar a NASA com seu planejamento para futuras missões”, disse o ex-astronauta Jim Reilly, diretor da agência geológica, na apresentação do mapa.
“O fundamental do novo mapa é que souberam combinar toda a informação existente sobrepondo camadas de dados de forma coerente. Quando você vai procurar, é necessário levar um mapa geológico. É uma folha de rota fundamental”, destaca Martínez Frías.
O pesquisador ressalta que, pela informação oferecida pela cartografia, o polo sul da Lua é a zona mais apta para futuros assentamentos, não só pela presença de gelo procedente de cometas como também por sua composição mineral, rica em ferro e titânio, e pela luminosidade.
Para a obtenção de oxigênio, seria possível contar também com materiais ígneos (como ilmenita, anortita e olivino) que contêm entre 40% e 50% desse elemento em forma de óxidos.
Assentar-se, explorar e utilizar a Lua como base intermediária para outras explorações espaciais são os principais objetivos que este mapa oferecerá em um futuro próximo. Sem esquecer a oportunidade de observar no satélite como era a Terra em sua origem.
Para a elaboração do Mapa Geológico Unificado da Lua foram usados seis mapas regionais elaborados durante as missões Apollo, além da informação atualizada fornecida pelas mais recentes observações da Lua, como a recolhida pelo SELENE (o explorador da JAXA, Agência de Exploração Aeroespacial do Japão) e pelo altímetro a laser do orbitador da NASA.
A unificação dos dados iniciais e recentes foi acompanhada do trabalho dos pesquisadores do USGS para determinar a estratigrafia (camadas de rocha) da Lua e a resolução de incongruências detectadas em tipologias, idades e descrições. “Este mapa é a culminação de um projeto de décadas e proporciona informação vital para novos estudos científicos conectando a exploração de locais específicos com o resto da superfície”, afirma Corey Fortezzo, geólogo e autor principal do USGS.