9 fotosArqueologiaUm termopólio, o restaurante ‘fast-food’ de PompeiaO achado está decorado com ilustrações temáticas muito coloridas e em um estado de conservação excepcionalLorena PachoRoma - 26 dez. 2020 - 16:00BRTWhatsappFacebookTwitterLinkedinBlueskyLink de cópiaA inesgotável máquina do tempo de Pompeia não se cansa de perder os vislumbres do passado, que às vezes também nos permitem conhecer até o sabor da vida nos tempos antigos. Os arqueólogos descobriram ali um termopólio, um estabelecimento onde se serviam comida e bebida, que permanece praticamente intacto.Luigi SpinaA decoração, com afrescos de animais pintados em cores tão vivas que parecem tridimensionais, é preservada quase inalterada, e foram encontrados restos de alimentos preservados ao longo dos séculos no mesmo lugar em que estavam quando o Vesúvio entrou em erupção e o calendário parou ao pé do poderoso vulcão.Luigi SpinaEste novo testemunho da vida cotidiana que ficou preso por quase dois milênios sob toneladas de pedras, lama e lava é outro dos tesouros extraordinários que as escavações têm revelado nos últimos anos. Neste período o parque arqueológico entrou numa segunda vida, com um impulso renovado, sobretudo na manutenção e restauro da zona Regio V, após um período de abandono.Luigi SpinaNa imagem, o desenho de um cão entre a decoração encontrada em Pompeia. O termopólio, algo parecido com um restaurante, especificamente comparável às barracas de comida de rua de hoje, era o lugar onde a comida era servida às classes populares da cidade, como explicam os arqueólogos. Recipientes encontrados com restos de comida apontam para a origem do "take away". É sabido que os pompeianos costumavam consumir alimentos e bebidas ao ar livre, incentivados pelo clima do aprazível Golfo de Nápoles.Luigi SpinaNos termopólios, como indica seu nome de origem grega, era possível comer e beber alimentos quentes que eram guardados em grandes potes, chamados de dolia, que ficavam embutidos no balcão de alvenaria. Eram muito comuns no mundo romano, apenas em Pompeia existem cerca de 80 estabelecimentos deste tipo, mas nenhum possui o bar totalmente pintado como este, o que confirma o caráter excepcional do achado. O balcão preservado pelas cinzas vulcânicas havia sido parcialmente desenterrado em 2019, mas as obras foram ampliadas para tentar preservar todo o local da melhor forma possível.Luigi SpinaOs especialistas já estudam, com técnicas interdisciplinares, o novo material para ver como esta descoberta pode ampliar o conhecimento sobre a dieta e os hábitos de consumo da época romana. “Além de ser mais um testemunho do cotidiano de Pompeia, as possibilidades de análise desse termopólio são excepcionais, pois pela primeira vez todo um ambiente foi escavado com metodologias e tecnologias de ponta que estão retornando dados inéditos”, explicou Massimo Osanna, diretor geral do Parque Arqueológico de Pompeia.Luigi SpinaQuando começaram a escavar, o que os arqueólogos encontraram pela primeira vez foram as decorações no balcão do termopólio: a imagem de uma nereida (ninfa) a cavalo em um ambiente marinho, bem como outros animais, como um galo ou um pato, coloridos. Também encontraram uma ilustração semelhante a uma placa comercial da loja e diversos objetos de despensa e transporte: nove ânforas, um recipiente de bronze, dois frascos e um pote de cerâmica.Luigi SpinaAs primeiras análises em laboratório confirmam que as pinturas no balcão representam, pelo menos em parte, os alimentos e bebidas que efetivamente foram comercializados no termopólio. De facto, foram encontrados fragmentos de osso de pato dentro de um dos contentores, juntamente com restos de porco, cabrito, peixe e caracóis terrestres, o que atesta a grande variedade de produtos de origem animal que se utilizavam na época para preparar os pratos. Além disso, apareceram no fundo da garrafa grãos moídos que, segundo os estudiosos, serviam para modificar o sabor e clarear a cor do vinho. Num desses desenhos, o de um cão, está uma inscrição que define o humor escatológico da época: NICIA CINAEDE CACATOR (Nicia é um cagão), provavelmente um insulto ao dono do negócio.Luigi SpinaOutro fato interessante é que na mesma sala, atrás do balcão, também foram descobertos ossos humanos de vítimas da violenta erupção. Neste caso, ao contrário do grande número de corpos perfeitamente preservados que surgiram ao longo dos séculos, os vestígios são seriamente danificados pela passagem de escavadores clandestinos que durante o século XVII saquearam o local em busca de valores. Os especialistas acreditam que os ossos pertencem a um indivíduo na casa dos 50 anos que estava deitado, provavelmente em uma cama, quando chegou a terrível lavagem piroclástica que varreu a cidade. Outros ossos, ainda a serem investigados, também foram encontrados dentro de um grande recipiente, provavelmente colocados lá pelos primeiros escavadores.