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O 2x1 do sabão em pó a granel: lava a roupa e a consciência

Comprar produtos de limpeza em embalagens reutilizáveis é muito mais fácil do que parece

Embalagens plásticas e de vidro com sabão.
Embalagens plásticas e de vidro com sabão.P. G.
Patricia Gosálvez

A bola amarela balançando na rede. Todas as desintoxicações, inclusive as do amor, têm um momento como este. Aquele segundo em que é tão provável que a sua força conquiste o match point, como a sua fraqueza te deixe cair de costas no colchão macio dos seus maus hábitos. Eu o tive no quarto dia desta semana sem plásticos, em que me deparei furiosa com a minha preguiça para seguir em frente.

Não vou confessar de que lado a bola caiu. O que importa é que no quinto dia do desafio ressuscitei com um otimismo renovado e me impus, metida, uma DUPLA missão impossível: limpar a casa e fazer isso sem plástico descartável. Sim, chef, além de não cozinhar, também não sou muito da limpeza. Um partidão.

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As mães do WhatsApp me dizem que atrás do posto de saúde (a distância máxima razoável para ir comprar algo de primeira necessidade) abriram uma loja de sabão a granel que se chama, adivinhem... Sabão a Granel. Seu conceito também é simples: você leva seus Vejas, Ajax, Ypês vazios e eles os enchem por peso, com um funil. Em Madri há várias lojas parecidas. Na verdade, pode levar qualquer tipo de frasco ou comprar um lá, mas eu fui com os "oficiais" porque, como tudo na minha casa, sempre estão quase acabando.

No caminho passei pela loja da Clarel, onde costumo comprar fora de hora todas essas coisas e descobri que sempre tive opções de produtos sem plástico bem embaixo do meu nariz. Por exemplo, comprar sabão em pó para máquina de lavar roupa em uma embalagem tradicional de papelão, em vez de uma garrafa de sabão líquido. Estou começando a olhar diferente. Estou me saindo bem. Empolgada.

Carregada com minha mochila de pano e meus potes vazios, sentindo-me hoje uma PERFEITA escoteira antiplásticos, fiz a compra de produtos de limpeza a granel em 10 minutos e me custou mais ou menos o mesmo que em uma loja comum.

Francamente, não tenho desculpa para voltar a comprar um recipiente de produto de limpeza novamente em minha vida. Moro muito perto dessa loja e não vou precisar comprar sabão em pó com urgência imperativa às 10 da noite no supermercado Express. Além disso, não sou maníaca por limpeza (lavo tudo junto e com água fria), não tenho apego a nenhuma marca e não me importo com o cheiro da roupa lavada, desde que esteja limpa. Assim, passar a comprar a granel não é nenhum sacrifício para mim, só alegria. Estou em alta. Empolgadíssima.

Sou incapaz de calcular quantos produtos para lavar o chão ou lavar os pratos gastamos na minha casa num ano, na máquina de lavar roupa e na lava-louça colocamos um montão... Vejamos, entre 100 e 400.000? "Imagine aí, um em cima do outro, todas essas embalagens", disse, apontando para o chão, Nuria Gías, proprietária da loja que enche cerca de 80 recipientes por dia. "Você teria levado para reciclar, tudo bem, mas o melhor resíduo é aquele que não é gerado", diz ela, repetindo uma máxima que tenho ouvido a semana toda. "Os plásticos são necessários, minha loja é cheia de plásticos", acrescenta, "mas o que não faz sentido é o abuso absurdo que fazemos deles".

A única coisa que me perguntou, com o funil na mão, antes de usá-lo, é se eu queria produto ecológico ou normal. Normal?, perguntei, com certo pudor. "Melhor". Sua teoria é que os produtos ecológicos, embora tenham processos e componentes ambientalmente mais amigáveis, além de serem mais caros, têm outros problemas: "Levam óleos essenciais que não são bons para quem é alérgico, e muitos são importados ... O que eu vendo vem da Bélgica", diz, mostrando-me o frasco. "Aqui apostamos no quilômetro zero, procuro tudo que seja nacional porque o que você ganha com o ecológico, perde por outro lado. É preciso fazer um balanço, não ser extremista", diz. Sim, ela defende seus sabões naturais para a máquina de lavar roupa: alguns pedaços leves de azeite de oliva e bicarbonato de sódio que dá gosto tocar. "É o melhor para a pele delicada, o que leva menos produtos químicos ... E remove as manchas, igual aos outros." Ponho uma cara de "vamos ver", fazendo beiço, enquanto ela enche um potinho para que eu teste.

Achei muito simples prescindir do plástico em produtos de limpeza, mas comento com Nuria a agonia dos últimos dias tentando conciliar minha vida de jornalista estressada e mãe sobrecarregada com a pauta que me levou a fazer compras no supermercado com potinhos ou percorrer Madri em busca de papel higiênico que não estivesse embrulhado em plástico. Ela me diz que antes trabalhava no setor bancário e aos 37 anos (tem 41) teve a sua catarse pessoal: "Fiquei muito mal, o médico disse que eu não poderia continuar daquele jeito, trabalhando 15 horas, com estresse todo o dia, sem dormir, comendo o que desse. Eu me propus mudar completamente, usando apenas produtos naturais, abandonar a carne tratada com hormônios, abandonar os plásticos descartáveis, comprar produtos de lugares próximos ... E, francamente, por mais que você esteja interessada, a cidade não está preparada, a menos que você gaste 12 horas fazendo compras. Então, a gente precisa ir pouco a pouco, definindo prioridades; É normal que você tenha ficado esgotada".

Nisso, entra nos mexericos da faxina com consumo responsável uma simpática cliente, Lucía, de 32 anos, que claramente demonstra pena de mim e me acha engraçada: “Mulher, não podem te jogar na piscina de repente, é preciso andar antes de correr. No começo a gente demora muito para comprar de outra maneira, mas depois achamos os lugares que nos caem bem, as soluções que se adaptam a nossa vida, e aí já não causa tanta confusão. Calma!” Ela é tão legal que até me dá seu número de telefone, caso eu queira pedir informações sobre as minhas compras futuras no bairro. Conhece uma loja bem perto (Slow Granel Shop) onde vendem papel higiênico reciclado sem embalagem. Sororidade e cocô! Meu dia está sendo perfeito.

As duas mulheres estão há anos nesse processo (em que lancei minha família em uma única semana) e agora fazem coisas como conservas caseiras de frutas ou xampu sólido com as próprias mãos. Conversando com elas sobre o que fazem, e o que deixaram de fazer, penso que isso de consumo responsável é um pouco parecido com o que as pessoas dizem sobre as tatuagens: você começa com uma salamandra discreta no tornozelo e acaba com um dragão no alto das costas.

Eu, na verdade, não me vejo com tatuagem de dragões, nem pondo as crianças para fabricar nosso próprio creme hidratante. Mas, certamente, vou mudar algumas coisas a longo prazo depois deste processo louco de me livrar dos plásticos de uma só vez. Por ora, amanhã vou a uma oficina de produção de sabonete em barra ministrada por mulheres veganas. Ali os espero.

Lições do dia:

Só uma, mas animadora. Como meu dia correu uma maravilha comprando produtos de limpeza a granel e conversando com mulheres simpáticas, meu pobre namorado, embarcado involuntariamente, e sem cobrar por isto neste desafio, ficou encarregado de comprar leite em garrafa de vidro. Percorreu com as crianças as três ou quatro lojas no bairro onde vendem, mas em todas lhes disseram que até segunda-feira, nada.

A rocambolesca explicação que passou no meu WhatsApp, onde convivem casais contemporâneos que trabalham muito, foi: "Com o calor as vacas produzem menos leite e as empresas que produzem leite fresco preferem usá-lo para fazer iogurte (que, além do mais, dura mais tempo sem estragar)". Sim, já sei que foi aberta uma moderna leiteria a granel em Malasaña (é uma das dezenas de dicas e orientações que estão chegando de amigos e completos desconhecidos me incentivando a enfrentar o desafio). Genial, muito obrigada, mas pegar o metrô para comprar leite para uma casa onde se consome um litro e meio por dia não me parece razoável. De modo que, no final, meu namorado acabou, como sempre fazemos, comprando o leite em uma garrafa de plástico na mercearia mais próxima. Ok, fracassamos, sinto muito. Em compensação, minha família descobriu o que acontece com as vacas no calor.

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