Coreia do Norte lança projéteis de curto alcance para desafiar os EUA

Lançamentos duraram 20 minutos e foram feitos da cidade oriental de Wonsan, em direção ao leste

Kim Jong Um, em uma imagem de arquivo.Alexander Safronov (AP)

A Coreia do Norte disparou vários projéteis de curto alcance de sua costa leste, segundo o Exército sul-coreano. Inicialmente, o comunicado das forças do Sul indicava que se tratava de um lançamento de mísseis, mas depois essa declaração foi corrigida. O teste norte-coreano, que durou 20 minutos, procura aumentar a pressão sobre os Estados Unidos depois que as negociações nucleares entre os dois países chegaram a um impasse com o fracasso da reunião de cúpula que seus líderes realizaram em fevereiro em Hanói.

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O lançamento ocorreu por volta das 9h locais deste sábado (21h de sexta-feira em Brasília) nas proximidades da cidade de Wonsan, uma área onde no passado a Coreia do Sul realizou exercícios militares e testes de artilharia, afirmou em um comunicado o Estado-Maior sul-coreano. Os projéteis caíram no mar após percorrer trajetórias entre 70 e 200 quilômetros na direção leste.

A mudança de “mísseis” a “projéteis” na declaração dos militares sul-coreanos sugere que os disparos podem ter sido feitos de lançadores múltiplos de foguetes, segundo a agência de notícias sul-coreana Yonhap. “O que o Norte disparou desta vez não é um míssil balístico”, declarou um oficial militar sul-coreano à agência.

A Coreia do Norte testou um míssil pela última vez em novembro de 2017, quando o regime de Kim Jong-un disparou o projétil intercontinental Hwasong-15 —que, segundo Pyongyang, podia alcançar qualquer ponto do território continental dos EUA. Pouco depois, o regime declarou estar concluído seu programa de armamento nuclear e iniciou uma fase de aproximação com Seul e Washington.

Como parte desses gestos de boa vontade, Kim Jong-un declarou uma moratória em seus testes de mísseis de longo alcance. A moratória, de qualquer forma, está mantida: os lançamentos deste fim de semana não entram nessa categoria.

Como resultado da aproximação, ao longo de 2018 foram realizadas três reuniões de cúpula entre Kim Jong-un e o presidente sul-coreano, Moon Jae-in. Também foi iniciado um processo de negociações entre Pyongyang e Washington sobre desarmamento nuclear na península coreana, que culminou com a primeira reunião da história entre líderes dos dois países. Em junho, Kim Jong-un e o presidente dos EUA, Donald Trump, encontraram-se em um hotel de Cingapura.

Mas aquele primeiro passo terminou com uma vaga declaração de intenções, que cada lado interpretou a seu gosto, e fora isso não ocorreram grandes progressos em quase um ano de negociações. A cúpula de Hanói, a segunda entre Kim e Trump, da qual se esperava que desse impulso ao processo, terminou abruptamente e sem acordo diante das drásticas divergências nas posições de cada delegação: Pyongyang propunha desmantelar seu centro nuclear de Yongbyon em troca do levantamento parcial das sanções. Washington pedia que o Norte acabasse completamente com seu programa nuclear para eliminar as sanções.

Desde então, embora os dois líderes tenham concordado em manter as portas abertas para o diálogo, os contatos foram limitados. Kim Jong-un começou a dar sinais de impaciência sobre o que considera uma posição inflexível dos Estados Unidos.

Em abril, Pyongyang anunciou ter completado com sucesso um teste do que chamou de sistema de armamento tático. Também pediu que o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, fosse substituído no comando dos negociadores americanos por alguém com “maior tato”.

Na semana passada, Kim Jong-un foi a Vladivostok, no leste da Rússia, para sua primeira reunião de cúpula com Vladimir Putin, em um sinal da aproximação entre os dois países. Com isso, o líder norte-coreano demonstrou a Washington que há mais peças com as quais jogar no tabuleiro das negociações nucleares.

O lançamento deste fim de semana ocorre apenas um dia depois que a ministra sul-coreana de Relações Exteriores, Kang Kyung-wha, pediu flexibilidade a Pyongyang e Washington para destravar as negociações. O gabinete presidencial sul-coreano convocou uma reunião de emergência para analisar a ação do Norte.

O Ministério de Relações Exteriores de Seul informou em um comunicado que Kang e Pompeo conversaram por telefone sobre o teste do Norte e concordaram em “administrar a situação com prudência enquanto concluem as análises detalhadas”.

A Coreia do Sul, que tem atuado como intermediária entre Pyongyang e Washington ao longo do processo de negociações, começa a dar sinais de irritação com seu vizinho. O comunicado da chancelaria considera que o lançamento norte-coreano “viola o espírito do acordo militar entre as duas Coreias”, assinado em setembro. Também conclama o Norte a “pôr fim a atos que aumentam a tensão”.

Em um comunicado, a Casa Branca declarou estar ciente do lançamento de mísseis. “Estamos inteirados das ações da Coreia do Norte nesta noite”, afirmou a porta-voz presidencial americana, Sarah Huckabee Sanders. “Continuaremos monitorando [a situação] conforme necessário.”

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