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Apple apresenta serviço de ‘streaming’ e surpreende com cartão de crédito próprio

Em um evento inédito em sua história, empresa mostra que seu futuro são os serviços. Sua grande aposta audiovisual é para competir contra a Netflix e a Amazon

Peter Stern, vice-presidente da Apple, durante a apresentação desta segunda-feira. Na imagem, os serviços do aplicativo da Apple TV. Em vídeo, anúncio da Apple TV.Vídeo: Tony Avelar (ap) | apple
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A Apple acaba de dar um passo decisivo para deixar de ser uma empresa de computadores e celulares e se tornar uma companhia de serviços e conteúdos. Produzirá e exibirá séries de televisão e se transformará numa entidade financeira com o novo cartão de crédito Apple Card. Tudo isso foi anunciado nesta segunda-feira num evento no Teatro Steve Jobs, em sua sede de Cupertino (Califórnia), onde os executivos da empresa foram recepcionados por grandes estrelas de Hollywood. “Com tudo o que apresentamos, vocês devem ter notado como os serviços são importantes para nós”, disse o presidente da companhia, Tim Cook, ao encerrar o evento, que durou quase duas horas. E prometeu: “Aplicamos aos nossos serviços o mesmo enfoque que aos nossos aparelhos: fáceis de usar, atentos ao detalhe, privados e seguros”.

Steven Spielberg, Oprah Winfrey, J.J. Abrams, Jennifer Aniston, Steve Carrell e outros rostos conhecidos do cinema e da televisão protagonizaram o anúncio do Apple+, a grande aposta da empresa para entrar num mercado, o dos serviços de séries e filmes em streaming, que não para de crescer no mundo todo, e no qual concorrerá diretamente com a Netflix.

O serviço será integrado a uma nova versão do aplicativo de TV dos aparelhos da marca da maçã, que agora agrupará, numa seleção feita por algoritmo, todas as compras e aluguéis feitos dentro do iTunes e os conteúdos oferecidos através dos serviços streaming e canais a cabo que o usuário assinar.

A oferta da Apple é semelhante à já oferecida por operadoras como Movistar e Vodafone, mas com um enfoque diferente e aproveitando sua integração única entre hardware, software e serviços. O aplicativo conta com uma seção de esportes, que inclui placares ao vivo e notificações de acontecimentos relevantes dos times preferidos do usuário, além de conteúdos infantis fiscalizados pela Apple. “Não é só outro serviço de streaming”, diz a empresa, e sim “o lugar onde os melhores criadores se reúnem”.

Vários deles apresentaram seus projetos no teatro Steve Jobs. “Uni forças à Apple”, disse Oprah Winfrey, que trabalha em dois documentários para a marca: um sobre assédio trabalhista, e outro sobre saúde mental. “É uma companhia que reinventou a forma de se comunicar”, acrescentou. Jennifer Aniston, Steve Carrell e Reese Whiterspoon participarão, por sua vez, de uma série chamada The Morning Show, sobre o poder feminino no mundo profissional.

Em 2018, pela primeira vez as assinaturas dos serviços de streaming superaram o número de usuários da TV a cabo, segundo a Associação Cinematográfica da América, alcançando os 613,3 milhões de espectadores potenciais. Há cada vez mais lares que “cortam o cabo” e optam por uma ou mais plataformas de conteúdos como Netflix. A partir do segundo semestre, o aplicativo Apple TV estará disponível em mais de 100 países, e também em smart TVs e nos Macs, e usará inteligência artificial para recomendar a cada usuário as séries que mais lhe interessarem, algo que em maior ou menor medida a Netflix, HBO e Samsung já fazem.

Cartão de titânio

Mais surpreendente foi o anúncio de seu próprio cartão de crédito, que poderá ser usado através do aplicativo Apple Pay integrado aos iPhones ou através de um cartão físico feito de titânio, que os clientes poderão solicitar. O serviço será integrado ao aplicativo de pagamentos e ao iMessage para gerar informação financeiras, como a divisão por categoria dos gastos realizados e consultas por chat a um gestor virtual.

O Apple Card usa o aprendizado automático e o Apple Maps para traduzir os crípticos nomes dos estabelecimentos onde as compras são feitas, como um restaurante. As cobranças são reconhecidas e classificadas para permitir que o usuário saiba quanto gasta em comida, viagens ou roupa, por exemplo.

Tim Cook apresenta o Apple Card.
Tim Cook apresenta o Apple Card.Michael Short (AFP)

A cada compra realizada, o consumidor será reembolsado em 2% do valor, ou 3% se a compra for numa Apple Store, seja por um produto físico ou um pagamento digital.

Para oferecer esse serviço, que será lançado em breve nos Estados Unidos, a Apple se aliou ao banco Goldman Sachs e ao MasterCard. A empresa especificou que não é necessário pagar nenhuma anuidade para usar o cartão, nem haverá multa por atraso nos pagamentos. “Precisávamos de um banco que estivesse disposto a fazer algo que nunca foi feito, por isso nos associamos ao Goldman Sachs. O cartão é de titânio, e é o mais bonito que já foi feito”, disse Jennifer Bailey, vice-presidenta da Apple Pay.

Notícias por um preço mensal

Através de seu aplicativo News, a Apple integrará um serviço com assinatura mensal de 9,99 dólares (cerca de 38,50 reais) que dará acesso a mais de 300 revistas, incluindo Vogue e National Geographic. As publicações estão totalmente integradas ao aplicativo e são diagramadas exclusivamente para serem lidas no iPhone, iPad ou Mac, incluindo conteúdos interativos, vídeo e infográficos animados. O resultado lembra o aplicativo Flipboard.

O Apple News+ incluirá o acesso a conteúdos pagos dos jornais Wall Street Journal e Los Angeles Times. Seu lançamento está limitado aos Estados Unidos e Canadá, mas chegará ainda neste ano à Europa, começando pelo Reino Unido, segundo o executivo-chefe da empresa, Tim Cook.

“Acredito que o Apple+ agregará um grande valor aos leitores e aos jornais”, disse Cook, que insistiu na importância de selecionar conteúdos confiáveis e de qualidade através de uma equipe de editores humanos. Salientou também a oportunidade de apresentar um formato como a revista a uma nova geração, através de dispositivos que são usados diariamente. Hoje, já está disponível nos Estados Unidos e Canadá, e o primeiro mês é grátis. “Não permitimos que os anunciantes rastreiem o que você lê. O que você lê na Apple News não vai perseguir você Internet afora”, disse Roger Rosner, vice-presidente de aplicativos da Apple. “Adoro a sensação de estar numa banca de jornais. Queremos tudo, mas só podemos ficar com um ou dois. Mas e se pudéssemos ter tudo? Hoje fazemos justamente isso. Trazemos revistas para a Apple News”, disse Cook.

Apple Arcade

Os videogames também tiveram seu espaço no evento com a apresentação do Apple Arcade, um serviço por assinatura que permite ao usuário jogar de forma ilimitada qualquer um dos mais de 100 títulos disponíveis inicialmente. O foco está em selecionar games de grande qualidade, que não ofereçam a clássica experiência de jogo gratuito que prende o consumidor e exige pequenos pagamentos. Poderá ser jogado sem conexão à Internet, e a assinatura, assim como com o Apple News+, poderá ser compartilhada entre os membros de uma mesma família.

O Apple Arcade será lançado no fim do ano em mais de 150 países, embora a Apple não tenha detalhado o preço da mensalidade. Os jogos do Apple Arcade poderão ser usados em iPhone, iPad, Mac e TV. A Apple vende sua plataforma de assinatura para jogos como um serviço que nunca teria chegado ao mercado sem a atenção e o cuidado de uma empresa como a Apple. “Jogos que nunca teriam sido possíveis”, diz a companhia. A Apple insiste em que não haverá nenhum tipo de rastreamento no Arcade.

A guerra do 'streaming'

O anúncio feito pela Apple nesta segunda-feira não é senão a ponta do iceberg das ambições da companhia, que busca tirar o máximo partido de sua enorme base de usuários através dos serviços – sem dúvida seu mercado mais próspero nos últimos anos. A chegada de seu serviço, junto com a esperada nova plataforma da Disney após a compra da 20th Century Fox, estabelecerá um novo panorama de segregação de conteúdos e de grandes investimentos em conteúdos originais.

Diferentemente da música, os serviços de streaming de séries e filmes permitem com maior facilidade atrair os usuários mediante produções originais, evitando assim depender dos direitos de terceiros, que têm custos altos. Resta ver se tantas plataformas poderão coexistir sob a necessidade de ampliar sua operação em escala mundial, com baixas margens de lucro. É possível que os consumidores não tenham horas livres nem dinheiro sobrando para abarcar tal avalanche de conteúdos.

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