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Coluna
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Pelos meus filhos, pelos meus netos

No Partido Republicano, foi iniciada uma corrente "antitrumpista" de candidatos que querem se reeleger

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Donald Trump discursa na Casa Branca no dia 23 de outubro Evan Vucci (AP)
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A carta aberta que Jeff Flake, senador republicano do Arizona que em breve deixará o cargo porque não vai concorrer nas próximas eleições intermediárias nos Estados Unidos, escreveu ao presidente Donald Trump em nome de seus filhos, de seus netos, do mundo pelo qual ele se tornou senador e de seu partido, foi um “chega!” e um alerta do perigo que todos estão correndo. Trump é um feiticeiro, um aprendiz de presidente e claramente fracassou. E até ser destituído, se é que isso vai acontecer antes da próxima eleição presidencial, é preciso estar consciente dos custos que estão sendo assumidos.

Quando Trump se dedica a distribuir chutes e mostrar a profunda crise na qual o mundo atual está entrando, tudo que faz é colocar sobre a mesa os limites da realidade frente à ficção, deixando aparente o conflito entre a explosão das emoções e a formulação das políticas. Dentro do Partido Republicano, foi iniciada uma corrente "antitrumpista" de candidatos que querem se reeleger em 2018, moderados e descontentes com o estado atual das coisas, embora nem todos se atreveram ao suicídio político como o atual presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado, Bob Corker, que não irá tentar a reeleição, e o próprio Flake.

Desde os dias do general Ulysses S. Grant, que trabalhou em estreita colaboração com Abraham Lincoln para ganhar a Guerra Civil, ou de Eisenhower e suas relações com Franklin Delano Roosevelt, não houve alteração do papel determinante dos militares que acompanham seu comandante-em-chefe eleito pelas urnas, um fato que levou a uma situação catastrófica em matéria de defesa, de política e de toda ordem no império do Norte.

Esse fenômeno não só precipitou a crise na Europa, a perda de valores e de referências morais, a saída do cenário internacional na América Latina e o reposicionamento, cada vez mais forte, do outro líder "ex aequo" chamado China, mas, além disso, Trump com suas inconsistências e seu jogo, colocou e continua a pôr em perigo a estabilidade mundial. O problema é saber por que ele conta com permissão para isso e o que pode ser feito. Para começar, do campo político deveriam apontar quais são os riscos associados de andar brigando com todo mundo ou desqualificar o adversário como se fosse uma guerra de "Gangues de Nova York" e o fato de ignorar as políticas que podem manter o planeta em melhores condições ambientais. Acaba sendo suicida, perigoso e poderia terminar sendo insolúvel.

Foi alcançado um ponto no qual já é impossível continuar esperando. A frivolidade, a grosseria, a mediocridade e a incapacidade são os traços que marcam este quase primeiro ano de Governo do magnata. Os povos nunca se equivocam, embora se equivoquem, e neste caso, é mais importante saber como é o jogo do resto das instituições que compõem o que até agora tinha sido a melhor democracia do mundo, a dos EUA.

Mas ainda há muitas perguntas no ar: como vão as investigações sobre a interferência russa na última campanha eleitoral? Como vão as investigações sobre o fino muro entre os interesses particulares da família presidencial e o serviço público? Como estão as referências éticas agora tão desprezadas por uma forma de governar que se caracteriza pela luta, pela disputa e, no caso dos mexicanos, pelo insulto permanente sem a formulação de políticas alternativas?

Trump propõe planos e faz ofertas que, no fundo, não servem nem para a base do seu eleitorado. A raiva e o cansaço de seus eleitores foi o que o levou à Casa Branca, mas agora essa raiva pode aumentar se, além do mercado de trabalho, for proposto que voltem a um mundo que não existe mais e que, além disso, até os mais obtusos sabem que, por exemplo, se continuarmos extraindo e queimando carvão da mesma forma que fazíamos antes, só conseguiremos precipitar a catástrofe universal.

O reality show engoliu a realidade e agora estamos sentados à espera de um milagre, embora a esta altura é difícil que isso aconteça. Mas em qualquer caso ele, o aprendiz de presidente, fracassou.

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