21 fotosCenas de uma pesquisa arqueológicaO dia a dia de pesquisadores e da população da região dos sítios arqueológicos de Lagoa Santa Minas Gerais - 19 fev. 2017 - 11:11BRTWhatsappFacebookTwitterLinkedinBlueskyLink de cópiaA bióloga Lisiane Müller estuda os padrões de mobilidade dos povos que habitavam a região da Lapa do Santo e como eles se relacionavam com a natureza. As amostras ósseas retiradas estão em processo de análise de laboratório, na USP. No processo de escavação, Müller utilizou um instrumento de bambu para não danificar as superfícies ósseas enterradas. A hipótese é que o esqueleto seja de uma mulher adulta.Mauricio de PaivaUm dos cinco sepultamentos descobertos em escavações realizadas em 2016. A ossada, que tem datação entre 10.600 e 9.700 anos atrás, é de uma criança de aproximadamente 8 anos, enterrada deitada para o lado direito.Mauricio de PaivaA arqueóloga Eliane Chim e a bioantropóloga Mariana Inglez fazem exumação em sepultamento no sítio. Rodrigo de Oliveira, que aparece em primeiro plano, coordena o trabalho: "Foi um dos sepultamentos mais difíceis de se exumar".Mauricio de Paiva"A intenção é buscar e encontrar pequenos vestígios (micro lascas de ossos, cerâmica, carvões e utensílios) que os arqueólogos não percebem de imediato na hora das escavações", diz a bióloga Patrícia de Souza, ao explicar o processo de peneirar. Em uma escavação arqueológica, seja onde for, a peneira é extremamente importante. Cada equipe monta a ferramenta de forma criativa e técnica.Mauricio de PaivaA arqueóloga Daniela Ortega analisa fragmentos de uma rocha no interior do sítio da Lapa do Santo: "Eu chego aqui e tento imaginar como eram as coisas, como era o povo daqui. Imagino as crianças correndo, brincando. Fico pensando se ele estariam sentados trocando ideia, se reunindo para ver o pôr do sol ou o que iam comer. E é curioso por que a gente sempre pensa com a cabeça de hoje. É uma tentativa de nos projetar”. Ao fundo de Ortega, o paleontólogo Elver Mayer se dedica a encontrar ossos de animais da megafauna.Mauricio de PaivaFim de dia, o antropólogo Andersen da Silva e a arqueóloga Eliane Nunes fazem coletas de amostras para identificar presença de parasitas. Dentre os objetivos da coleta está o de revelar as possíveis doenças e a dieta dos povos milenares da região de Lagoa Santa.Mauricio de PaivaOs pesquisadores Mariana Inglez e André Strauss trabalham em um sepultamento aberto em 2016, última data da escavação. “É muito revelador para o leigo as limitações que os arqueólogos têm. É uma tentativa de reconstruir comportamentos, saber o que os caras estavam pensando”, diz Strauss.Mauricio de PaivaArcada dentária do sepultamento mais famoso da Lapa do Santo: o homem que foi encontrado decapitado. É a mais antiga decapitação, de cerca de 8.500 anos atrás, em rito mortuário encontrado nas Américas. A principal peculiaridade do sítio arqueológico é a presença de sepultamentos altamente elaborados.Mauricio de PaivaA geoarqueóloga Ximena Villagran estuda a micromorfologia de solos e sedimentos da formação do sítio da Lapa do Santo: “Nós sabemos que não estamos escavando o passado literalmente, nós estamos o construindo com nossas ferramentas”.Mauricio de PaivaO antropólogo Rodrigo de Oliveira utiliza instrumento de bambu para não danificar as superfícies do esqueleto. “Eu não busco uma conexão entre mortos e vivos, eles estão separados temporalmente e espacialmente, mas todos são seres humanos. O que eu posso acessar, através dos tratamentos que faço, são as doenças, a saúde", diz Oliveira.Mauricio de PaivaA entrada do sítio arqueológico da Lapa do Santos, em 2016. A região de Lagoa Santa, onde está situado o local de escavações, é singular nas Américas, porque os esqueletos humanos são antigos, bem preservados e abundantes. A bioantropóloga Marina Gratão, que aparece em primeiro plano, trabalha como arqueóloga e também com antropologia forense, fazendo a perícia das ossadas de desaparecidos políticos da ditadura militar brasileira do cemitério de Perus, em São Paulo.Mauricio de PaivaLâmina de pedra polida em formato semilunar ou "âncora". A peça é rara e tem forte apelo estético. Sua importância simbólica está atestada em relato históricos e em representações de pinturas rupestres encontradas na região de Lagoa Santa.Mauricio de PaivaCemitério de Mocambeiro fundado em (1947) e seus túmulos de alvenaria. O distrito, que é um ex-refúgio de escravos, é a comunidade mais próxima ao sítio da Lapa do Santa. Em Mocambeiro muitos moradores vem a vão trabalhando nas empresas mineradoras próximas. Para o pesquisador André Strauss, é comum que as pessoas se atenham ao aspecto macabro dos rituais funerárias das sociedades antigas, mas hoje ainda se faz muitas coisas parecidas. “Os monges tibetanos guardam os ossos para depois desenhar neles, os cemitérios públicos são uma confusão, simbolicamente os cristão comem o corpo de cristo. Os exemplos são muitos”, reflete.Mauricio de PaivaO administrador do cemitério municipal Campo da Saudade, no município de Lagoa Santa, Maurício Rodrigues em frente as valas de sepultamento. A arqueologia, ao mesmo tempo em que busca o passado, abre uma porta para reflexões do presente. Segundo o arqueólogo André Strauss, é uma porta para um exercício de alteridade, de reflexão de como lidamos com a morte no dias atuais.Mauricio de PaivaEm 'Quinta do Sumidouro', localidade da região, acontece o festejo de Nossa Senhora do Rosário, que consiste em uma rica tradição cultural afro-brasileira. "As práticas funerárias da Lapa do Santo também são importantes para fazermos um exercício de alteridade, pensando nosso mundo hoje, nossos rituais e cultura”, diz Strauss.Mauricio de PaivaA paisagem da região da Lapa do Sumidouro, outro importante sítio arqueológico da região de Lagoa Santa, onde está situado a Lapa do Santo. Na arqueologia, ciência multidisciplinar, a paisagem e o entorno dos sítios arqueológicos também é muito importante.Mauricio de PaivaApesar de estar relativamente distante de rios e lagoas, sete anzóis confeccionados de ossos foram encontrados no sítio da Lapa do Santo. Provavelmente, são de cerca de 10.000 anos atrás. Os achados mostram que possivelmente a pesca era comum entre os habitantes da região, apesar de restos de peixes não terem sido encontrados nos locais de escavação.Mauricio de PaivaCrânio reconstruído e analisado pelo arqueólogo Rodrigo de Oliveira. A ossada pertencia a um homem adulto com mais de 50 anos de idade e perdas dentárias causadas por cáries, além de patologias dentais e desgaste em todos os dentes.Mauricio de PaivaMandíbula e dentes de uma criança entre quatro e cinco anos de idade. Os ossos foram encontrados em escavações coordenadas pelo antropólogo Walter Alves Neves, responsável por descrever Luzia, a ossada mais antiga já encontrada nas Américas.Mauricio de PaivaO arqueólogo Rodrigo de Oliveira trabalha no laboratório se dedicando a montar, colar e analisar centenas de fragmentos de ossos. Um mês de escavações no sítio arqueológico da Lapa do Santo, corresponde a cerca de dois anos de trabalho em laboratório.Mauricio de PaivaSão 14 as etapas de curadoria e planejamento em laboratório, entre elas: expor ossos na bancada, separá-los como foram encontrados no sítio, separar, secar, montar com cola branca, identificar, numerar e proteger as peças com material apropriado.Mauricio de Paiva