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O Barcelona de Messi e Neymar sofre sua pior catástrofe

Equipe sai humilhada de Paris e está à beira da eliminação na Champions League

Ramon Besa
Di María celebra seu gol de falta.
Di María celebra seu gol de falta.Francois Mori (AP)

O Barcelona do tridente sul-americano (Messi-Neymar-Suárez) ficou petrificado em Paris. Lá parecia apenas um cartaz, desses já bem fora de moda, arrancado por um sensacional Paris Saint-Germain (PSG), que derrotou a equipe (4x0) e a deixou quase fora da Champions League. Em Paris, nem de Messi se ouviu falar. Não foi um adversário real, como sempre se espera de uma equipe treinada por Luis Enrique, também ele superado pelo rival Unai Emery, o técnico espanhol do time francês. Em Paris, o Barça perdeu até a condição de sobrevivente, porque a recuperação é vista no momento como impossível no Camp Nou. Não se via nada parecido desde os quatro gols metidos pelo Bayern em 2013.

A queda azul-grená foi incontestável – individual e coletivamente, física e taticamente, incapaz de dar um pio diante da surra levada nos diversos momentos da partida, muito bem desenhada por Emery. A riqueza futebolística do PSG contrastou com a inércia do Barça. O time catalão perdeu tempo, extasiado com seus três atacantes, como se nada de ruim pudesse acontecer na vida, muito menos na Europa.

A inércia está a ponto de matar o Barça. Há muitas rodadas que matava o tempo na Liga e, como se quisesse ter um passe até o final da temporada, se esforçou muito na Copa do Rei da Espanha, onde disputará a final contra o modesto Alavés. O técnico do Barcelona tem substituído centroavantes e zagueiros para ter a equipe titular no ponto no momento decisivo, onde não havia mais dúvida de que o volante direito, uma posição agora ocupada pelo português André Gomes, preferido por Luis Enrique em vez de Rakitic. Havia a sensação de que no dia em que Piqué, Busquets, Iniesta, Messi, Neymar e Luis Suárez se reunissem o Barça recuperaria sua memória, seu estilo e seu futebol, sua condição de aspirante a vencer a Liga dos Campeões. O Parque dos Príncipes de Paris parecia o cenário ideal para a reaparição do melhor Barça. Falsa expectativa.

A azul-grená foi uma equipe inanimada porque os melhores também se esqueceram de jogar futebol, assim como os reservas, enquanto os novos ainda não aprenderam a lição, como André Gomes. Ninguém visualizou melhor os sintomas de apagão do Barça do que Emery, cansado de ser vítima do mesmo filme azul-grená, cansado de sempre perder para o time catalão, ávido por revanche, agora mais do que nunca, porque o cenário era a Champions.

O técnico sabia que o destino do PSG dependia em atacar de frente o Barcelona com dois jogadores em plena forma, como Di María e Draxler. A melhor versão da equipe francesa chegou com a contratação do alemão e com a recuperação do argentino, que nos fez lembrar do El Fideo, que havia brilhado no Real Madrid.

O futebol sutil e entrelinhas de Di María e os poderosos avanços de Matuidi desmontaram o Barça, muito aberto e disperso no campo devido à ambiciosa movimentação do PSG. Atacava pelos lados, a pressão era muito grande e seus jogadores se expressavam com muita determinação e alegria, igualmente confiantes se estivessem os ausentes Thiago Silva e Motta. Rabiot personificava a agressividade a partir do pivô, enquanto Di María pressionava repetidamente nas costas de Busquets.

O zagueiro do Barça não achava seu lugar, Neymar tinha um tornozelo doendo, e o goleiro Ter Stegen não tinha trégua. Ninguém se surpreendeu que Di María tenha marcado numa cobrança de falta depois de o goleiro ter defendido com o braço direito um chute de Matuidi. O gol pareceu ter um efeito sedativo sobre o PSG e o Barça despertou por cinco minutos. À frente no marcador, Emery mudou o seu roteiro, e sua equipe passou do ataque ao contra-ataque, de maneira que a bola passou longe do Barça e, especialmente, de Neymar.

Nem as corridas do brasileiro colocaram seu time na partida depois de um tempo perdido, sem saída ou profundidade, martirizando Busquets e os zagueiros pelos meio-campistas de Emery. André Gomes, no entanto, não conseguiu aproveitar a assistência de Neymar, e a partida se tornou uma troca de golpes da qual o PSG também saiu vitorioso. Messi perdeu a bola numa zona de risco, e a transição de Verratti foi finalizada perfeitamente por Draxler.

Mesmo depois do intervalo o Barça não se ligou. Os jogadores não reagiam, e Luis Enrique não encontrou soluções com as mudanças que fez. As ocasiões e os gols se sucederam sem perdão sob as traves de Ter Stegen. A luta, e certamente a eliminatória, ficou resumia em duas imagens: o jovem Kimpembe roubando a bola de Messi com um sopro, e Cavani marcando o 4 x 0 para comemorar seu 30º aniversário, depois que Di María fez o terceiro. A excelente atuação coletiva do PSG merecia ter como corolário o gol de seu astro, o uruguaio Cavani.

Nunca o Barça de Luis Enrique havia sofrido uma derrota tão humilhante e vergonhosa. A imagem azul-grená nesta terça foi de ponto final, à espera do jogo de volta no Camp Nou. O currículo da equipe recomenda aguardar o que venha a acontecer em Barcelona, mas sua atuação em Paris foi digna de um Réquiem.

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