_
_
_
_
Editoriais
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

O carisma do Papa

Francisco propõe diálogo, um caminho mais longo, mas no qual todos ganham

O Papa Francisco.
O Papa Francisco.GIORGIO ONORATI (EFE)
Mais informações
Papa Francisco: “O perigo em tempos de crise é que busquemos um salvador”
“A escravidão da mulher é das coisas mais desastrosas que acontecem” e outras 19 frases do Pontífice

Ao longo de quase quatro anos de pontificado, o papa Francisco deu à Igreja Católica uma influência global que não tinha havia décadas. O mais importante é que Jorge Bergoglio sabe que um líder deve ganhar a simpatia e a credibilidade para, nos passos posteriores, tentar usá-las para alcançar seus objetivos. Não há dúvida de que aqueles que o elegeram queriam mudanças em relação aos antecessores.

A entrevista concedida ao EL PAÍS e publicada no fim de semana oferece um exemplo acabado das diferenças entre Francisco e seu predecessor, o frio teólogo acadêmico Joseph Ratzinger, e o quão consciente é o Papa de que só se pode restaurar uma Igreja afetada por vários problemas na base da conexão com as pessoas.

Francisco argumenta que a única revolução que tenta é a da normalidade. Observam-se seus esforços para limpar a imagem — tão reiterada em tempos passados — de multiplicar os anátemas e as proibições. De sua linguagem se desprende que rompeu com a mensagem da Igreja sancionadora e a transformou em ideias de acolhimento, escuta e preocupação, principalmente pelos grupos excluídos. Convida a não pensar em calamidades de antemão, mas sem deixar de abordar os problemas de fundo que afetam as convulsionadas sociedades contemporâneas. Por isso, na entrevista a este jornal ressurgiu sua preocupação com a dura resposta do mundo próspero a milhões de pessoas dispostas a arriscar tudo por uma vida melhor. Daí sua recriminação aos que sustentam: “Busquemos um salvador que nos devolva a identidade e defendamo-nos com muros, com arames farpados, com qualquer coisa, dos outros povos que podem nos tirar a identidade”.

Francisco não busca confrontação, mas forjar consensos. Isso é um caminho geralmente longo e que outros atores da vida pública costumam considerar inútil, pelo menos no curto prazo. Muito razoavelmente, o Papa aconselha a prática do diálogo ao invés do desprezo às posições dos demais, e, nesse ponto, faz uma referência interessante à Espanha como um país que necessita dialogar. Não se trata de uma atitude de crença de que todos os problemas podem ser resolvidos por meio do diálogo, da tolerância e da solidariedade, como demonstrado pela diplomacia vaticana, ativada em diferentes conflitos. Se aceita o desgaste de não se limitar a desempenhar a tarefa de um intermediário, atento aos seus próprios interesses, e prefere a do mediador, que “faz com que as partes ganhem mesmo que ele perca”. Suas referências a construir pontes, não muros, constituem uma crítica direta à atitude de certos líderes políticos, sem nomeá-los.

Jorge Bergoglio, de origem argentina, é o primeiro Papa nascido fora da Europa. Isso faz com que ele leve em conta os fiéis católicos de todo o mundo e, sem dúvida, os da América Latina, que lhe são tão próximos. É difícil saber se ele conseguirá ganhar suas ousadas apostas, principalmente no que diz respeito à renovação da cúria de Roma.

Em qualquer caso, sua palavra convincente, sua imagem carismática, o mantêm na batalha da reforma interna da Igreja e o ajudam a navegar num mundo tempestuoso. Pouco importa se aquele que recebe as mensagens do Papa está num contexto religioso ou não, é sempre muito interessante ouvi-lo.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_