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Editoriais
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Voto pela paz

Colombianos devem referendar nas urnas o histórico acordo assinado

O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, e o líder das FARC, Rodrigo Londoño Echeverri, conhecido como ‘Timoshenko’, cumprimentam-se depois da assinatura do acordo de paz.
O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, e o líder das FARC, Rodrigo Londoño Echeverri, conhecido como ‘Timoshenko’, cumprimentam-se depois da assinatura do acordo de paz.RICARDO MALDONADO (EFE)

No domingo os colombianos se encontrarão numa situação que há poucos anos parecia impossível. Com as armas silenciadas, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) oficialmente em cessar-fogo definitivo e um detalhado tratado de paz assinado depois de quase quatro anos de negociações entre representantes do Governo e da guerrilha, serão os cidadãos que terão a última palavra sobre todo o processo.

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Os colombianos devem rubricar o enterro da guerra civil mais sangrenta e antiga da América Latina. Um confronto que causou oito milhões de vítimas — 260.000 mortos — e dezenas de milhares de deslocados; um conflito que durante 52 anos dissipou enormes quantidades de recursos humanos e financeiros e que significou um enorme fardo para um país chamado a estar entre os mais desenvolvidos e pujantes da região.

Para abordar tão gigantesco problema foram necessários os esforços não só do Governo colombiano e dos representantes das FARC, mas de uma comunidade internacional comprometida com o objetivo de tornar possível a realização, primeiro de conversações viáveis e, depois, de um tratado de paz que fosse muito além da retórica. Um concerto global no qual figuram países com diferentes sistemas de governo e às vezes com diferenças muito profundas, como, por exemplo, Cuba — que também foi a sede das negociações — e os Estados Unidos.

A presença — na cerimônia oficial de assinatura da paz em Cartagena das Índias — dos presidentes de uma dezena de nações latino-americanas, do secretário de Estado dos EUA, John Kerry, do secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon, e de muitas personalidades que contribuíram de uma maneira ou de outra para que o acordo fosse alcançado é a melhor demonstração do que é capaz a colaboração internacional.

A Espanha, completamente envolvida no projeto, foi representada pelo Rei emérito. Talvez uma ocasião histórica como a vivida nestes dias na Colômbia merecesse a presença de Felipe VI. A Espanha — de sua administração às instituições e personalidades como a do ex-presidente Felipe González — contribuiu ativamente para o sucesso do processo de paz e a presença do Rei na cerimônia de assinatura teria reforçado de maneira mais categórica a extrema importância que a Espanha atribui à paz na Colômbia.

Mas além das imagens para a lembrança e das palavras emocionadas do presidente Juan Manuel Santos e dos representantes das FARC, falta agora um passo fundamental: a ratificação dos colombianos. Encerrar um conflito dessas dimensões é difícil e exigirá tempo: requer tanta generosidade quanto sacrifícios e renúncias. Nenhum acordo de paz é perfeito. Mas há motivos de sobra para que os colombianos superem a divisão política em torno do acordo e se sintam orgulhosos do esforço realizado. Isso deve servir-lhes para que construam juntos o futuro de paz, liberdade e prosperidade que tão duramente conquistaram.

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