20 fotosOs filmes de Tim Burton, do pior ao melhorAproveitamos um filme estranho para fazer um ranking da obra de um dos diretores mais influentes do mundoICON01 out. 2016 - 18:17BRTWhatsappFacebookTwitterLinkedinLink de cópiaNo prólogo de 'Tim Burton por Tim Burton', de Mark Salisbury, Johnny Depp ri das caóticas mechas de cabelo que coroam a cabeça de seu amigo Tim Burton (Califórnia, 58 anos), a quem descreve como “louco hipersensível”. O cinema de Burton moldou nossa sensibilidade durante as últimas três décadas. Com a recente estreia de 'O Orfanado da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares', chega o momento de olhar para trás e repassar a carreira do santo padroeiro do cinema para garotos e garotas raras (e dos normais com bom gosto). Aqui estão seus filmes, do pior ao melhor.'Planeta dos Macacos' é, sem dúvida, o pior filme de Tim Burton. Em algum momento de sua carreira alguém deve ter convencido o diretor californiano de que os ‘remakes’ eram com ele. Deve ter sido o seu pior inimigo. Este foi o primeiro, versão do clássico de 1968, de Franklin Schaffner, no qual é preciso reconhecer a astuciosa perversão de ter transformado sua companheira do momento, Helena Bonham Carter, na peluda macaca apaixonada por Mark Wahlberg. No entanto, fica muito longe de alcançar a inquietante fábula moral do original. O final, com um macaco substituindo Abraham Lincoln m Washington, é o mais polêmico de sua trajetória.Burton estica aqui o curta que chamara a atenção do romancista Stephen King e lhe abrira as portas de Hollywood. Claro, o personagem já não será um cão farejador real, mas sua animação. Assim, em lápis e papel, o cão se torna mais agradável, cheira menos a carne morta e é mais palatável para o público infantil... Ficou claro que a versão animada é a versão de consumo da original? Pois é isso...A tentativa mais ousada de Tim Burton de conseguir o prestígio de Hollywood (leia-se ser nomeado ao Oscar) foi esta versão “alta cultura” do brilhante 'Ed Wood', na qual relata a história da pintora Margaret Keane. A reflexão sobre o talento, o gênio, o heteropatriarcado e a originalidade se perde detrás do brilho de Amy Adams (foto)… e as próprias desventuras pessoais de Burton. Fica evidente que a relação do casal Keane é uma projeção do seu relacionamento com a atriz Helena Bonham Carter, da qual acabou se divorciando quase simultaneamente à estreia.Se toda sua vida fora brilhante rodando os números musicais que Danny Elfman lhe escrevia, por que não tentar, diretamente e sem intermediários, um musical? Ora, porque pode acabar saindo assim frouxo. O sucesso de ‘Broadway’, de Stephen Sondheim, se transforma em uma sucessão de cenas tão aprisionadas como as mocinhas do filme, que só respiram quando aparece o defunto Alan Rickman e Sacha Baron Cohen interpretando Pirelli. Ganhou o Globo de Ouro de Melhor Filme, e alguns de nós ainda se perguntam por quê.Burton iniciou a década mais feliz que seu admirado Dr. Frankenstein em um necrotério: exposição no MoMA, presidente do júri no Festival de Cannes e outra adaptação, desta vez de Lewis Carroll. Sua ‘Alice’ já não é a menina do original, mas uma mulher, com todos os seus atributos desenvolvidíssimos. A truculência de algumas cenas, devedora da ‘Alice’ do tcheco Svankmajer, o aproxima mais do pesadelo do que do conto. Em meio à febre do 3D, o filme inchou seu formato original em 2D para se adaptar à moda. A Disney pensou que isso seria um desastre e, no entanto, funcionou tão bem na bilheteria que se viram obrigados a rodar uma segunda parte, que estreou recentemente.Doze anos depois de 'O Estranho Mundo de Jack', o jovem animador da Disney que Burton carrega em seu interior voltou a lhe exigir filmar um longa. Na filmografia de qualquer outro diretor teria sido uma obra-prima. Para Tim, porém, sempre lhe pedimos mais. Em ‘A Noiva Cadáver’, filme que dirigiu em parceria com Mike Johnston, tivemos a sensação de que este conto tradicional judaico era convencional demais, clássico demais para o que ele nos acostumara. Não nos convenceu de todo, convenhamos.Nos anos setenta, Mel Stuart já tinha levado à tela de cinema o romance (algum insensato diz ser para crianças) de Roald Dahl, 'A Fantástica Fábrica de Chocolate'. É uma turma insuportável de pirralhos em busca de um prêmio gostoso. Precioso na estética, nota-se em Burton um pai orgulhoso demais nesta promoção da imaginação nos filhos. Os momentos dos umpa lumpas parodiando as coreografias de Busby Berkeley para a atriz nadadora Esther Williams são brilhantíssimos, claro.No início do milênio, a vida de Burton está turbulenta: seu pai morre, deixa a namorada (a modelo e atriz Lisa Marie, pela também atriz Helena Bonham Carter) e, dentro em pouco, espera seu primeiro filho. Compreensível que as lorotas que se contam de pais para filhos sejam o material de seu novo filme. Como tem o coraçãozinho sensível, Burton o transforma na versão amável do tremendo 'Monstros', de Todd Browning… ou assim parece a princípio porque, no final, como sempre em Burton, o inferno são os outros... contudo, o filme parece luminoso demais na filmografia de nosso particular Príncipe das Trevas.Segundo de seus filmes do Cavaleiro das Trevas no qual toda a atenção se concentra na Mulher Gato, a bichana revestida de vinil interpretada por Michelle Pfeifer. Se ao lendário mau humor da atriz considerarmos que acabara de deixá-lo com Michael Keaton, se compreende melhor o gosto com que mia de prazer em cada ato sadomasoquista. Ganhou 40% menos que sua antecessora, e a Warner disse que isso se deveu a que era “muito desconhecida”. Burton amava tanto os supervilãos que a história do Morcego ficava um pouco turva.Hoje Tim Burton é mais conhecido do que Paul Reubens, mas, em 1985, Burton era apenas um rapazinho que filmava curtas de animação e Reubens, uma estrela infantil televisiva por seu personagem Pee-Wee Herman. Felizmente, o escritor Stephen King viu um de seus curtas e ficou tão fascinado que disse a seu amigo Reubens que Burton era o mais indicado para dirigir seu salto para a tela do cinema. A história é simplória: roubam a bicicleta de Pee-Wee e ele tem de recuperá-la; o diretor transforma argumento tão simples em algo inesquecível, com cenas para recordar, como o momento em que Pee-Wee enfrenta motoqueiros calçando plataformas e dançando a ‘Tequila!', de The Champs, como se se tratasse de uma rainha do carnaval de Las Palmas.Seu melhor filme da última década. A adaptação da cultuada série televisiva dos anos sessenta de Dan Curtis faz com que o diretor se reencontre com suas grandes paixões: a estética gótica, os amantes intertemporais, a maldade da suposta gente de bem… Y duas garotas raríssimas que lhe devolvem seus grandes momentos de inspiração: Eva Green e Chloë Moretz. Não é de estranhar que momentos como a cena de sexo quadrimensional entre Eva Green e Johnny Depp (os dois na foto) estejam entre suas cenas mais conseguidas.Depois do quarto e vexatório episódio de Batman e a rejeição à sua versão de Superman protagonizada por outro membro do Clube dos Cabelos Loucos como Nicolas Cage, Burton se refugiou na literatura: escreve ‘O Triste Fim do Pequeno Menino Ostra e Outras Histórias’ e adapta Washington Irving, olhando cara a cara pela primeira vez para algo que sempre pairou sobre sua filmografia: a literatura gótica de terror. A essas alturas, Johnny Depp já está a caminho de se tornar uma caricatura de si mesmo e todos temos bem claro que Burton tem um surto misógino suspeito. Em sua melhor cena homenageia 'No Tempo das Diligências', de John Ford, com uma desenvoltura só ao alcance dos mestres. Grande filme.Eternamente amarrado a uma visão romântica das décadas de 50 e 60, nas quais foi menino, Burton idealiza um roteiro baseado no jogo de cartas Mars Attacks!, que tão bons momentos fez o diretor passar em sua infância. Com a desculpa dos marcianos que ilustram as cartas volta todo o seu ódio e ressentimento contra os EUA e essa indústria que tão mal recebeu seu 'Ed Wood' e tão bem a patriotada 'Independence Day: o Ressurgimento', de Roland Emmerich. Entre piadas deixa clara a mesquinhez política de seu país nos personagens do covarde presidente interpretado por Jack Nicholson. Um fabuloso delírio pop e 'kitsch' ao ritmo de Tom Jones.Embora dirigido por Henry Selick, é o filme mais icônico de um Burton que esteve trabalhando nele durante 12 anos. Danny Elfman escreverá onze canções e Burton uma história inspirada na melancolia que sentia quando chegavam as férias e ficava sozinho em sua Burbank natal. Curiosamente, embora Selick afirme que Burton “só trabalhou oito ou dez dias no filme”, seus 109.440 fotogramas o transformaram na película que melhor reflete seu universo: seus pretos e brancos, a influência do desenhista Edward Gorey, as danças macabras… Genial.'Os Fantasmas se Divertem’ revelará a Tim Burton dois de seus atores fetiche: Winona Ryder, a quintessência da adolescente frágil e incompreendida, e Michael Keaton, o arquear de sobrancelhas mais famoso da história de Hollywood. “Fiz uma versão grotesca de ‘O Exorcista’, conta Tim Burton. ‘Os Fantasmas se Divertem’ é a demonstração de que estamos diante de um tipo único, possuidor de uma estética herdeira da série B e um humor macabro no caminho dos Ambrose Bierce e Jonathan Swift. Um divertimento estapafúrdio? Sim, mas também a constatação de que Tim Burton era um autor a levar muito em conta.Que no guia de filmes tenhamos um super-herói por semana se deve altamente a Mr. Burton. Ele, Jack Nicholson e Prince (compondo o tema original) realizaram a maior reunião de exóticos nunca vista. Foi o filme de maior bilheteria do ano, mas, ao finalizá-lo, Burton se sentia mais como o tristonho Batman do que como o alterado Coringa: faltando poucas semanas para o término das filmagens, seu amigo e colaborador Anton Furst se suicidou. O filme, claro, é fantástico.Uma maravilha em preto e branco sobre “o melhor pior diretor do mundo” e sua reflexão mais bem-sucedida sobre um tema que obceca Burton: o processo de criação, com suas amargas vitórias e doces fracassos. É também um canto à amizade: à que havia entre Wood e o ator Bela Lugosi, análoga à que existia entre Burton e o falecido Vincent Price. Johnny Depp transborda humanidade e Lisa Marie possui um erotismo que não faz só ele de bobão. Hipnótico, estranho, maravilhoso.A melhor, a grande obra de Tim Burton. O filme que teve o dom (e o elenco) do momento. Burton transforma Johnny Depp e Winona Ryder nos James Dean e Natalie Wood da Geração X em um conto para adultos. Entre eles havia uma tensão sexual (resolvida) que se vê em cada uma das cenas que dividem. Tudo conspira contra seu amor: as vizinhas sedentas de sexo, o namorado bonito, vaidoso e ciumento… Até o ponto em que Kim tem de sacrificar-se por Eduardo em um último ato de amor. Mãos de Tesoura é tão popular que não há festa de Halloween em que não apareça alguém em um disfarce imitando-o.E assim, em 30 de setembro de 2016, estreou a que está sendo chamada de recuperação do Burton mais obscuro e brincalhão. A história, baseada em um conto de Ransom Riggs, é bem apropriada: um orfanato com crianças que possuem poderes paranormais, uma diretora determinada e ousada como Eva Green, capaz de transformar-se em falcão, e muitos seres vivendo em universos alternativos. Depois de películas recentes tediosas, será o louco hipersensível capaz de recuperar a criança que tanto nos encantou?