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ENGENHARIA GENÉTICA

EUA aprovam o primeiro animal transgênico para consumo humano

País permite a criação de um salmão modificado para crescer duas vezes mais rápido

Manuel Ansede
Salmão modificado ao lado de outro normal de mesma idade.
Salmão modificado ao lado de outro normal de mesma idade.AquaBounty

A Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA) aprovou nesta quinta-feira a produção, venda e consumo de um salmão geneticamente modificado para crescer na metade do tempo. É o primeiro animal transgênico destinado a servir de alimento no mundo. Em 2015, cientistas chineses anunciaram a criação de vacas leiteiras transgênicas mais resistentes à tuberculose.

A empresa de biotecnologia norte-americana AquaBounty, criadora do salmão, aplaudiu em um comunicado a decisão do órgão regulador dos EUA. Seu peixe, batizado de AquAdvantage, é um salmão atlântico que recebeu o DNA do salmão real, uma espécie gigante do Oceano Pacífico. Graças a essa modificação, os peixes produzem mais hormônio de crescimento e podem alcançar em um ano e meio o tamanho típico dos três anos, que é o exigido pelo mercado. A empresa anunciou em 2010 a aprovação iminente de seu produto, o que ainda levou mais cinco anos em meio em meio a protestos de organizações antitransgênicas.

O órgão regulador dos EUA não exige que o salmão seja etiquetado como transgênico

A FDA não exige que o salmão AquAdvantage seja etiquetado como transgênico, já que “é tão seguro e nutritivo como o salmão atlântico não modificado geneticamente” e “não é materialmente diferente”. Na Europa, a empresa não pediu a aprovação de seu peixe, segundo informações de Josep Casacuberta, cientista do CSIC (Conselho Superior de Pesquisas Científicas da Espanha) e membro do grupo de transgênicos da Autoridade Europeia de Segurança Alimentar.

O salmão transgênico recebe o sinal verde depois de mais de 25 anos de exames. Um dos principais argumentos dos críticos do AquAdvantage é o temor dos efeitos na natureza caso o peixe escape para o meio ambiente. A FDA afirma que as instalações nas quais o animal será criado – tanques em terra na ilha do Príncipe Eduardo (Canadá) e no Panamá – “dispõem de uma série de barreiras físicas múltiplas e repetidas para evitar que os ovos e os peixes escapem”. As instalações, explica a FDA, serão vigiadas com patrulhas com cachorros e rodeadas de arame farpado. Além disso, só serão produzidas fêmeas estéreis, segundo o órgão regulador, ainda que a técnica de esterilização não seja infalível.

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A FDA aprovou em 2009 o primeiro produto biológico gerado por animais modificados geneticamente. É o anticoagulante ATryn, uma proteína produzida no leite de cabras transgênicas e destinada a tratar pacientes com deficiência congênita de antitrombina. Essa doença rara é caracterizada pela formação de coágulos no sangue e pode ser mortal. A Agência Europeia de Medicamentos autorizou o produto um ano depois.

O peixe transgênico aprovado na quinta-feira para consumo humano nos EUA tem um precedente em Cuba. Em 1999, cientistas do Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia de Havana anunciaram que não detectaram “nenhum efeito em pessoas sãs voluntárias após consumirem tilápias [um grupo de peixes de origem africana] transgênicas” criadas em seu laboratório.

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