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Petróleo subirá de 47 a 80 dólares até 2020, projeta a Agência de Energia

Órgão acredita que a demanda pelo combustível vai se recuperar nos próximos anos Fase de excesso de oferta que derrubou a economia dos países da América Latina

Pablo Guimón
Plataforma de petróleo e gás na Sibéria (Rússia).
Plataforma de petróleo e gás na Sibéria (Rússia).Alexander Zemlianichenko Jr (Bloomberg)

A queda nos preços do petróleo ativou as forças que levam o mercado a se reequilibrar, aumentando a demanda ao mesmo tempo em que se contém o crescimento da oferta. Embora esse mecanismo de autoajuste do mercado petrolífero apresente dificuldades, o preço do barril do petróleo bruto voltará aos 80 dólares em 2020, ante os 47 dólares (179 reais) de hoje. Esse é o principal cenário previsto pela Agência Internacional de Energia (AIE), que apresenta nesta terça-feira, em Londres, o seu relatório anual de previsões para o setor energético. A AIE alerta para os riscos envolvidos em um período prolongado de preços baixos.

O aumento do preço para 80 dólares o barril em 2020 é o cenário que os economistas da AIE consideram mais provável, com aumentos adicionais de preço a partir daquele ano. Sua tese é de que o período de superoferta atual não será duradouro, dada a forte redução dos investimentos.

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O Iraque e o Irã liderarão o aumento da produção entre os membros da Organização de países Exportadores de Petróleo (OPEP), mas o relatório destaca que a instabilidade do Iraque e as dificuldades do Irã em canalizar todo o investimento necessário diminuirão a sua participação. O texto salienta, também, que será preciso manter um ritmo de investimento de 630 bilhões de dólares (2,4 trilhões de reais) por ano na exploração e produção de gás e petróleo, apenas para fazer frente à redução da produção das atuais jazidas.

Um período mais prolongado de preços baixos, embora menos provável, tampouco pode ser totalmente descartado, segundo esse órgão criado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) em 1974, depois da crise do petróleo, para coordenar as políticas energéticas de seus 29 Estados membros. Por isso, o relatório contempla também um cenário no que o preço do barril do petróleo bruto permanece a 50 dólares no restante desta década, antes de subir para 85 dólares até 2040. A queda no preço do combustível fóssil atingiu fortemente também os países produtores de petróleo da América Latina, como Venezuela e o Brasil.

Dependência energética

Isto acarretaria um aumento da influência de um número reduzido de produtores de baixo custo – a dependência em relação aos países do Oriente Médio alcançaria níveis inéditos desde os anos setenta do século passado, segundo a agência –, o que por sua vez poderia gerar preocupações em matéria de segurança energética e elevar o risco de rebotes drásticos no preço.

“Não é o momento de relaxar”, diz Fatih Birol, diretor-executivo da AIE. “Pelo contrário: um período de preços baixos do petróleo é o momento para reforçar nossa capacidade de fazer frente a futuras ameaças na segurança energética”.

Às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, que começa em 30 de novembro em Paris, há claros sinais de uma transição no modelo energético mundial, segundo a AIE. As renováveis constituem quase a metade da nova capacidade de geração instalada em 2014, e já são a segunda maior fonte mundial de eletricidade (depois do carvão). Mas as necessidades globais de energia continuam.

O principal cenário do relatório prevê que o uso de energia no mundo crescerá em um terço até 2040, puxado principalmente por Índia, China, África, Oriente Médio e Sudeste Asiático. Os países de fora da OCDE representam todo o aumento no uso energético, ao passo que o consumo nos países da OCDE, que atingiu o auge em 2007, continuará caindo, num reflexo das tendências demográficas e econômicas, somadas ao aumento na eficiência.

Índia e China

O relatório prevê o fim do maior período de expansão da demanda energética per capita visto nos últimos tempos. A transição da China para um modelo de crescimento menos intensivo no uso energético tem fortes implicações para as tendências globais. A China continua sendo, de longe, o maior produtor e maior consumidor de carvão do mundo; tem mais capacidade instalada de geração de energia renovável do que qualquer outra nação, e até a década de 2030 deverá superar os EUA como principal consumidor de petróleo. Mas as mudanças na sua economia, que envolvem principalmente a expansão do setor de serviços, em detrimento da indústria pesada, significam que a China precisará de 85% menos energia para gerar cada unidade de crescimento econômico futuro. A eficiência também está melhorando no país asiático: metade do uso energético atual na China já está submetido a padrões de eficiência, frente a meros 3% em 2005.

A Índia passa a ocupar o lugar da China no centro do tabuleiro energético mundial, fazendo a maior contribuição (quase 25%) para o crescimento da demanda energética global. A Índia tem um sexto da população mundial e é a terceira maior economia do mundo (pelo critério de paridade de compra), mas usa atualmente apenas 6% da energia global. Um em cada cinco indianos não tem acesso à eletricidade. Mas o país entra agora num período sustentado de rápido crescimento do consumo energético, devido a vários fatores: os planos para acelerar a modernização e a capacidade produtiva, o crescimento da população e dos salários, e a previsão de que 315 milhões de pessoas migrarão do campo para as cidades até 2040.

Em nível global, o relatório adverte de que o objetivo de alcançar o acesso universal à energia até 2030 ainda está distante. Apesar dos esforços realizados, há 1,2 bilhão de pessoas, 17% da população mundial, ainda sem acesso à eletricidade. Espera-se que até 2030 essa cifra caia a 800 milhões.

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