O que sabemos até agora sobre os riscos à saúde da lama da barragem

Especialista que estudou barragem que se rompeu diz que resíduos são inertes

Moradores observam ruas tomadas por lama.R. Moraes (Reuters)

O rompimento de duas barragens de rejeitos da mineradora Samarco no distrito de Bento Rodrigues, entre a cidade de Mariana e Ouro Preto, na região central de Minas Gerais, provocou preocupação com a toxicidade da lama liberada na tragédia. Estima-se que 62 milhões de metros cúbicos de material tenham sido liberados na região, mais do que dez vezes a lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro. A barragem de rejeitos serve para armazenar a água utilizada em todos os processos de uma mina, e é comum que ela esteja contaminada com produtos químicos.

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José Maurício Machado Pires, químico da Universidade Federal de Viçosa e autor de uma tese de mestrado sobre as barragens que se romperam, afirmou que a quantidade de metais pesados encontrados no local é bem baixo. “Os testes que fizemos com amostras de sedimento e de água da barragem apontem índices de acordo com as normas vigentes”, afirma. Pires conclui que o material analisado é inerte, logo não oferece risco para a saúde em caso de contato com a pele. A Samarco produz principalmente pelotas de minério de ferro, cerca de 30 milhões de toneladas anuais, segundo informação do site da empresa.

Ainda de acordo com o químico, a maior parte dos metais pesados – chumbo, cromo e cádmio - encontrados nas amostras estava aprisionado em outro mineral, chamado goethita. “Esse mineral envolve o metal pesado em sua estrutura cristalina, aprisionando-o”. Pires afirma que apenas uma mudança extrema no PH do material faria com que a goethita liberasse no ambiente os metais. “Mas isso não ocorre por contato com o ar ou por aumento ou redução da temperatura”, afirma. O químico diz que seriam necessárias reações químicas para que isso acontecesse. "Não acredito que seja o caso em Bento Rodrigues."

Existem outros materiais contaminantes que frequentemente são encontrados em uma barragem de resíduos, como o arsênio, por exemplo. Mas segundo Pires este tipo de substância é comumente encontrada em minas de ouro e outros metais preciosos. Na mineração do ferro os principais contaminantes liberados são os metais pesados.

Em nota, a Samarco afirmou que a lama que vazou das barragens é inerte, composta “em sua maior parte, por sílica (areia) proveniente do beneficiamento do minério de ferro”. De acordo com a empresa, o material “não apresenta nenhum elemento químico que seja danoso à saúde”.

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