Contra pressão do PT para tirar Levy, Dilma repete seis vezes que ele fica
"Opinião do PT não é opinião do Governo", disse presidenta ao defender ministro
A presidenta Dilma Rousseff disse neste domingo em Estocolmo, na Suécia, que seu ministro da Fazenda, Joaquim Levy, deve ficar no cargo. "Se ele [Levy] fica, é porque concordamos com a política econômica dele. Não tinha nenhuma insatisfação dele. Eu não sei como é que saem essas informações, elas são muito danosas”, disse a presidenta.
A declaração rebate a opinião do presidente do Partido dos Trabalhadores, Rui Falcão, que disse em uma entrevista publicada hoje na Folha de S.Paulo que Levy deveria ser "substituído" se não concorda com com a política económica que a presidenta pretende adotar. Rousseff quis deixar claro que o discurso do PT não é o mesmo ao do Governo. "Eu acho que o presidente do PT pode ter a opinião que quiser, mas não é a opinião do governo. A gente respeita a opinião do presidente do PT, mas isso não significa que seja a opinião do governo".
A presidenta foi questionada, ao todo, seis vezes sobre Levy durante a entrevista concedida a jornalistas depois do seu encontro com o rei Carlos XVI Gustavo e a Rainha Sílvia. Na última vez, ela respondeu enfaticamente: “Vocês podem especular à vontade. Só que quando eu digo que não, não adianta. É não”.
Levy é alvo de especulações sobre o seu tempo de permanência no cargo de ministro desde que assumiu o Governo no início deste ano. Para uma ala de economistas, ele seria um estranho no ninho petista afeito a gastos públicos, que criou uma bomba relógio que explodiu este ano. Levy, que trabalhou no primeiro Governo de Lula como secretário do Tesouro, tem fama de ser exageradamente austero, cobrando inclusive do próprio Governo o corte das ineficiências que engordam as despesas públicas.
Nos tempos de Lula, ele era conhecido por ser mais rígido, inclusive, que seu antigo chefe, o ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci, que se notabilizou por um ajuste fiscal entre 2003 e 2006 que colocou as contas públicas em ordem e deu credibilidade ao PT no poder.
Diante dos gastos que estouraram no ano passado, Levy entrou para fechar a torneira e desfazer as práticas que colocaram Rousseff no olho do furacão do impeachment. As manobras fiscais para fechar as contas estão sendo usadas pelos adversários da presidenta para justificar o pedido de sua saída da presidência.
Levy, ao contrário, tem se preocupado, inclusive, em dar o exemplo. Sempre que pode viaja sem assessores para não onerar mais a conta do Governo. Seguindo orientação do Planalto de cortar as viagens de primeira classe, ele embarcou num voo de carreira depois da reunião com a presidenta na sexta-feira, algo inédito para uma figura pública nos padrões brasileiros. A ostentação com comitivas gigantes e estadias em hoteis caros sempre foi uma regra no Estado brasileiro.
O ministro acabou sendo fotografado de maneira desconfortável dormindo com a boca aberta, mas isso não parece abalá-lo. Levy está disposto a dar o exemplo. Seu mantra pela eficiência dos gastos e o esforço por cumpri-lo ainda que apareça em uma imagem desfavorável, o tornaram o queridinho do mercado financeiro. Sua saída seria desastrosa neste momento delicado do país, segundo quem acompanha os humores dos investidores.
Por outro lado, Levy é o inimigo dos trabalhadores, dos movimentos sociais e de algumas categorias, como a dos aposentados, que enxergam nele a insensibilidade dos executivos financeiros ao fechar a torneira que irriga a economia, e abre a porta para o desemprego. Por isso, é alvo fácil das críticas na cúpula do partido, e até do ex-presidente Lula, que teria proposto o nome do ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, para substituir Levy, cenário que a presidenta negou: "Ele nunca me pediu nada [sobre Levy], e o presidente Lula, quando quer alguma coisa, ele não tem o menor constrangimento em falar comigo. Ele jamais disse isso para mim". Fontes próximas ao Planalto garantem que nem Dilma quer Meirelles e nem Meirelles quer voltar ao Governo.
Em meio a pressões, levantaram-se rumores de que o ministro teria chegado a escrever uma carta de demissão na última sexta-feira. Uma fonte próxima dele garantiu que não houve carta de demissão, nem sua eventual saída foi tema de encontro com a presidenta na sexta-feira. O foco era o tamanho do apoio para aprovar o aumento de impostos no Congresso, em meio a turbulência política.
Após conseguir colocar um ponto no assunto Levy, Rousseff insistiu na importância de o Congresso aprovar a recriação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), o imposto sobre as transferências bancárias, até o final do ano. "O Brasil precisa aprovar a CPMF para que a gente tenha um ano de 2016 estável do ponto de vista das finanças. A CPMF é crucial para o país voltar a crescer", disse a presidenta.
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