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Com Marta, PMDB mira São Paulo em 2016, e Planalto com Temer em 2018

Senadora diz que suas conquistas como prefeita da cidade são agora "patrimônio do PMDB"

Marina Rossi
Marta e Temer neste sábado em São Paulo.
Marta e Temer neste sábado em São Paulo.V. C. (Brazil Photo Press/Folhapress)

Em clima de festa no histórico teatro Tuca em São Paulo, a senadora Marta Suplicy oficializou neste sábado sua união ao PMDB, partido do vice-presidente Michel Temer, que está com um pé fora da base aliada do Governo Dilma Rousseff. Depois de 33 anos de vida política no Partido dos Trabalhadores, a senadora anunciou sua saída da legenda em abril deste ano, após sucessivas críticas à condução da política econômica.

Ao lado dos caciques peemedebistas, Marta proferiu um discurso dando um golpe final no PT: "o Bilhete Único, o Vai e Vem e os CÉUs agora são nossos. É patrimônio do PMDB", disse, citando seus principais - e mais prestigiados - projetos como prefeita de São Paulo, quando governou a cidade sob a bênção do PT entre os anos 2000 e 2004.

A filiação de Marta ocorre em um momento em que o PMDB consolida seu caminho para um voo solo em 2018. O partido já afirmou que disputará a presidência com uma chapa única nas próximas eleições ao Planalto, depois de 21 anos. A última vez que o partido saiu com candidato próprio à presidência foi em 1994, com o ex-governador paulista, Orestes Quércia, que não chegou a passar para o segundo turno. Para alcançar agora ao Planalto, o PMDB terá de construir suas bases já no ano que vem, quando ocorrem as eleições municipais de 2016. E o clima no Tuca deixava claro que Marta Suplicy será a candidata, apesar de ter outro candidato correndo por fora, Gabriel Chalita, atual secretário de Educação da capital.

"Um, dois, três, quatro, cinco, mil. Marta e Michel em São Paulo e no Brasil", gritavam os eleitores da senadora dentro do teatro, puxado pelos organizadores. E a nova candidata levou seus fãs para o Tuca. "Sou apaixonada pela Marta Suplicy", disse Valdirene Rodrigues de Carvalho. "Quando ela era candidata à prefeitura, eu não tinha dinheiro para comprar uniforme para os meus filhos. Ela prometeu que daria um jeito nisso e, graças a ela, meus filhos puderam ir para a escola como as outras crianças". Valdirene veio espontaneamente do Jardim Cidade Pirituba, a 13 quilômetros dali, para prestigiar Marta, que, quando prefeita, entregou uniforme escolar gratuitamente aos alunos da rede municipal.

O PMDB, porém, desconversa quando o assunto é eleições municipais. "Nós vamos deixar essa discussão da candidatura para o ano que vem", afirmou o deputado Baleia Rossi, presidente do diretório estadual do partido. "Claro que ela [Marta]  tem esse desejo [de ser candidata à prefeitura], e tem todas as qualidades para ser a nossa candidata, assim como tem o Gabriel Chalita, que já foi candidato, teve quase um milhão de votos".

Gabriel Chalita, que é presidente do diretório municipal do PMDB, também desconversa sobre uma possível disputa pela candidatura no ano que vem. "Estou feliz com a chegada de Marta. Ela é um grande quadro", disse. "Mas só vamos discutir eleições no ano que vem".

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Enquanto os peemedebistas saem pela tangente, o cenário, segundo analistas, já está definido. "Pode haver alguma disputa de fundo formal dentro do PMDB, mas acho difícil que ela não seja a candidata", afirma Rafael Cortez, analista político da Tendências Consultoria. "A candidatura dela, se não é garantida, está bem encaminhada dentro da legenda". Para ele, esse quadro condiz bastante com a estratégia do PMDB de alçar um voo solo em 2018, se desassociando do PT o máximo possível.

Para o cientista político Claudio Couto, uma possível candidatura de Marta pode se beneficiar da baixa popularidade do atual prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT-SP). "O motivo dela ter saído do PT e ingressado no PMDB, era justamente por ela querer ser candidata à prefeitura", diz. "Com essa entrada no PMDB, ela tem essa chance. E, em virtude dessa avaliação não muito boa de Haddad, a chance dela aumenta mais ainda".

Quando Marta deixou a prefeitura de São Paulo, ela contava com a aprovação de 49% dos paulistanos. Mas não se reelegeu. Tentou, sem sucesso, conquistar a classe média e alta, reduto do seu então adversário, José Serra (PSDB-SP), que acabou vencendo as eleições. Apelidada de Martaxa na classe média por ter criado impostos progressivos que isentavam os mais pobres, como a do lixo e a da luz, Marta conquistou um legado na periferia por, fundamentalmente, duas grandes marcas: a criação do Centro Educacional Unificado (CEU), complexo educacional, esportivo e cultural nas periferias, e do Bilhete Único, com o qual usuários podem fazer mais viagens pelo preço de uma.

Se essas realizações a credenciam como uma das mais fortes candidatas à prefeitura, Marta não estará livre de contradições que lhe serão cobradas durante a corrida eleitoral. "A gente quer um Brasil livre da corrupção e das mentiras", disse, neste sábado. "Estou no PMDB do doutor Michel [Temer] que vai reunificar o país. (...) Michel, conte comigo para reunificar o país". Sua nova casa, porém, tem oito políticos investigados pela operação Lava Jato. Quatro deles estavam com ela no palco do Tuca neste sábado. "Olha aí o corrupto da Petrobras falando", disse Gilvan Ramos, da Associação de Moradores do Parque Anhanguera, quando Eduardo Cunha dava as boas vindas à nova companheira. "Tô aqui por causa da Marta. Se não fosse meu respeito por ela, já teria gritado que ele é um corrupto safado".

Cunha está sendo investigado pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. A procuradoria-geral da República acusa o deputado de ter pressionado o lobista Júlio Camargo a pagar cinco milhões de dólares de propina para garantir que a Samsung, representada por Camargo, construísse dois navios-sondas da Petrobras. A denúncia foi confirmada nesta sexta-feira pelo doleiro Fernando Baiano, que trabalhou para o PMDB, e fechou acordo de delação premiada com os invesgadores da Lava Jato. Se não apresentar defesa consistente, Cunha corre o risco de perder a presidência da Câmara.

Assim, se a candidata a prefeita agrada a periferia por suas obras, desagrada uma parte do eleitorado paulistano que enxerga incoerência em seu discurso. “O PMDB não é exatamente um lugar pra onde vai alguém que rechaça um partido com problemas de corrupção", afirma Claudio Couto. "Essa desculpa não cola. A relação da Marta com o PT se devia muito à falta de poder dela dentro do partido, do que por qualquer outro motivo".

Marta agradeceu a Cunha pela presença durante o lançamento da sua candidatura neste sábado. "Cunha, que é um líder focado e determinado, quero agradecer a sua presença", disse. O deputado aproveitou sua fala para reafirmar a necessidade de romper com o PT. "Não podemos mais ir a reboque de quem quer que seja. Time que não joga não tem torcida. Chega de usar o PMDB apenas como parte de um processo para dar cobertura congressual para aquilo que a gente não participou. (...) Que o PMDB siga seu exemplo, Marta. Vamos largar o PT".

Uma bateria de samba encheu o teatro para receber a senadora e a cúpula do partido. "Você pagou com traição a quem sempre te deu a mão", cantavam. Eleitores de Marta chegavam aos montes nos ônibus e vans bancados pelo PMDB. Uma mesa com lanche grátis e refrigerante os recepcionava no saguão do teatro.

Marta chega ao PMDB faltando apenas uma semana para o fim do prazo de filiação dos políticos interessados em disputar as eleições do ano que vem. Simbolicamente, o ato desde sábado confirma mais um golpe para o PT, o grito de independência do PMDB e da própria Marta, e que as eleições de 2016 já começaram.

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