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Editoriais
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

Bandeiras hasteadas

Depois do capítulo cerimonial, deve começar agora a abertura cubana

Estudante cuba posa em Havana com óculos enfeitados com a bandeira dos EUA.
Estudante cuba posa em Havana com óculos enfeitados com a bandeira dos EUA.ALEXANDRE MENEGHINI (REUTERS)

Depois das cerimônias, chega o momento da verdade. Com o hasteamento da bandeira das listras e estrelas na Embaixada norte-americana em Havana termina nesta sexta-feira o capítulo cerimonial do histórico reatamento de relações entre Cuba e os Estados Unidos, interrompidas durante 54 anos, que já teve um primeiro ato em 20 de julho em uma cerimônia de mesmo caráter, quando o pavilhão cubano foi hasteado em Washington. O Governo de Barack Obama quis salientar esse marco histórico com a visita oficial a Cuba, a primeira em 70 anos, do chefe da política externa dos Estados Unidos, o secretário de Estado John Kerry.

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Agora começa o capítulo substancial na normalização das relações, que inclui o fim do embargo e a plena abertura de Cuba ao mundo, incluindo a liberdade de deslocamentos da e para a ilha, questões que exigirão muito mais que gestos de ambos os Governos e farão necessária a colaboração do Congresso, atualmente controlado pelos republicanos.

Se interesses e princípios democráticos dividem a opinião nos Estados Unidos diante do isolamento de Cuba durante mais de meio século, a contradição é ainda mais vívida no Partido Republicano, com parlamentares inclinados a favor do fim do embargo e candidatos à presidência propensos a adotar o perfil dos falcões no que diz respeito à normalização das relações e acostumados a utilizar o espantalho do comunismo cubano tanto para radicalizar a campanha eleitoral, como para acusar de fraco e apaziguador o presidente democrata na reta final do mandato.

A cerimônia desta sexta-feira expressa às claras o propósito de Washington, que deixa definitivamente de lado a ideia de propiciar a mudança de regime, como aconteceu em suas relações com Teerã. A oposição não terá espaço na cerimônia oficial de hasteamento da bandeira, mas o secretário de Estado vai se encontrar com seus representantes posteriormente. Isso não significa que o capítulo das liberdades cubanas tenha desaparecido da agenda do Obama. Nada propicia tanto o enquistamento das ditaduras como a desconexão e o isolamento em relação aos vizinhos e ao mundo, tanto no plano econômico e comercial, como no cultural e turístico. Isso faz com que a melhor forma de favorecer as transições para a democracia, como a que Cuba necessita, seja uma abertura como a que Washington propiciou a Havana.

As tarefas a empreender agora não cabem apenas aos dois Governos diretamente envolvidos. Também as sociedades, a cubana e a cubano-americana especialmente, e os Governos europeus e latino-americanos, terão seu papel em uma transição o mais rápida possível para uma Cuba aberta ao mundo, próspera e democrática, livre em definitivo. Esse é um capítulo em que o Governo espanhol se encontra em falta, com uma especial responsabilidade em recuperar o trecho perdido nesta etapa póstuma da Guerra Fria que se prolongou um quarto de século no Caribe, graças entre outras coisas à estupidez da política externa espanhola e europeia.

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