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Consumo familiar cai por primeira vez em 12 anos e PIB recua 0,2%

Inflação, queda do emprego e da renda começam a pesar no orçamento familiar

A indústria recuou em relação ao três últimos meses de 2014, 0,3%.
A indústria recuou em relação ao três últimos meses de 2014, 0,3%. Fotos Públicas

O aperto econômico se refletiu na divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) nesta sexta. A economia teve queda de 0,2% nos três primeiros meses deste ano, comparado ao trimestre anterior, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Quando a comparação é feita com o primeiro trimestre do ano passado, a queda fica ainda mais pronunciada: 1,6%. Os números apresentados pelo IBGE revelam ainda que pela primeira vez, desde o segundo semestre de 2003, o consumo das famílias brasileiras, que representa mais de 60% do PIB, registraram queda. Segundo o IBGE, o consumo caiu 1,5%, em relação ao período de setembro a dezembro do ano passado. No acumulado do ano, a baixa foi de 0,9%, a primeira registrada desde o último trimestre de 2003, por essa leitura.

O mix de inflação, aumento de desemprego, crédito mais apertado e queda na renda do trabalhador cobrou a fatura do orçamento familiar, que começa a ser adequado à nova realidade, confirmando o quadro recessivo pelo qual passa o Brasil.

Em abril, por exemplo, o salário médio caiu 2,9% nas seis maiores capitais do país. Enquanto isso, o acesso ao crédito ficou mais difícil. Relatório do Banco Central mostrou que as concessões de novos empréstimos caíram em praticamente todas as modalidades de financiamento no mês passado. As famílias pegaram 6,6% a menos de empréstimos em relação a março. Os números refletem, em parte, a alta dos juros consecutiva, desde o final do ano passado. A taxa Selic hoje é de 13,25%. 

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Muita inflação para pouco PIB

Quase todos os indicadores que compõem o PIB aparecem com o sinal de menos (-) na frente. Em um contexto de ajuste das contas públicas, o consumo do Governo, por exemplo, encolheu 1,5% no primeiro trimestre deste ano, em relação ao primeiro trimestre de 2014.

Os investimentos feitos por empresas, ou taxa de investimento, por sua vez, caíram 7,8% no período, a sétima queda consecutiva. Em relação ao PIB, a taxa ficou em 19,7%, uma das baixas do continente.

A indústria também recuou em relação ao três últimos meses de 2014, 0,3%, refletindo o desempenho pífio e as vendas em queda de setores importantes, como construção civil, que vem promovendo grandes demissões e a indústria automobilística, que tem reduzido o ritmo de produção. Serviços, por outro lado, que responde por 60% do PIB, teve queda de 0,7% em comparação com o trimestre anterior. Apenas a agropecuária, entre os três setores, cresceu. O avanço foi de 4,7%, segundo o IBGE, porém o setor responde a uma parcela pequena do PIB.

Cenário incerto

A expectativa dos economistas era que a retração do PIB no primeiro trimestre fosse maior. A previsão do Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), que é calculada pelo Banco Central e considerada uma prévia do PIB, era de que a economia do país recuasse 0,81%.

As perspectivas para a economia se mantêm pessimistas, como o próprio Governo já admitiu ao prever um PIB negativo de 1,2% para 2015. Se confirmado, será o pior resultado registrado nos últimos 25 anos. Com a projeção de até meio milhão de demissões para este ano, segundo consultorias, e uma inflação acima de 8%, a renda do brasileiro deve ficar ainda mais achatada.

A aposta do Governo é que só a partir de 2016 o país volte a crescer. No entanto, na opinião do economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, que projeta um avanço de 0,7% no PIB no próximo ano, esse valor ainda será pífio, "quase uma base" e muito menor que o verificado na última década. "O desemprego continuará crescendo e o consumo das famílias seguirá caindo", afirmou Goldfajn em evento na Amcham nesta semana.

Para o economista, os atuais ajustes nas contas do Governo ajudam a consertar erros e evitar a crise, mas faltam verdadeiras reformas. "Sem elas, o crescimento do país não consegue passar dos 2% ao ano nos próximos três anos", disse.

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