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Messi dá ao Barcelona sua 23ª Liga

Os azuis-grenás vencem no Vicente Calderón por 0 a 1 e conquistam o título

José Sámano
Messi, cercado por defensores do Atlético antes de marcar.
Messi, cercado por defensores do Atlético antes de marcar.C. Manso (AFP)

O paraíso de Messi não tem fim. Esse prestidigitador do futebol conquistou –no estádio Vicente Calderón– sua sétima Liga com o Barcelona nos últimos dez anos. E fez isso com um gol “messiânico”, à sua maneira, sempre pronto para dar o bote. Foi a cereja do bolo do 23º título da Liga de um clube que já não improvisa seu poder, que não metaboliza até o osso a vitimização, mas que atravessa duas décadas com doses maciças de êxitos. Messi é o traje de gala de uma geração de sonho, na qual Puyol já não brilha e que previsivelmente perderá Xavi, a apoteose azul-grená, homenageado pela torcida do Calderón. Os jogadores passam, mas a ideia permanece. O Barça, mesmo nos maus momentos, é a expressão de um pensamento próprio em que o aspecto esportivo prevalece sobre o mercantil. Desde os tempos de Johan Cruyff decidiu explorar um caminho, uma característica distintiva. O filão tem dado ouro puro a este Barça, que agora tenta a tríplice coroa.

Atlético 0 X Barcelona 1

Atlético de Madrid: Oblak; Juanfran, Giménez, Godín, Guilherme Siqueira; Turan (Mandzukic, min. 72), Gabi, Mario (R.García, min. 67), Koke; Griezmann e Torres (Saúl, min. 80).

Barcelona: Bravo; Daniel Alves, Piqué, Mascherano, Alba (Mathieu, min. 79); Rakitic (Rafinha, min. 86), Busquets, Iniesta (Xavi, min. 81); Messi, Neymar e Pedro.

Gol: 0 x 1, Messi, min: Messi vence Oblak com um chute cruzado depois de tabela com Pedro.

Árbitro: Undiano Mallenco. Deu cartão amarelo a Koke (min. 52) e Gabi (min. 75); Pedro (min. 29), Daniel Alves (min. 31), Neymar (min. 90) e Messi (min . 90).

Partida disputada no estádio Vicente Calderón com público aproximado de 54.000 pessoas.

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Luis Enrique corrigiu-se e conjunto azul-grená saiu como um foguete rumo ao topo. Aturdida no início, a equipe pegou ritmo depois da derrocada em Anoeta, quando tudo pressagiava um motim a bordo liderado por Messi. Desde então, em trégua, aos poucos o treinador foi se encontrando, a escalação deixou de ser um carrossel, a equipe era reconhecível e mais uma vez demonstrou que a criatividade não conspira contra a eficácia. Porque teve de tudo esse Barça triunfal, ao qual não tem cabimento acuar o treinador, cuja contribuição final é mais do que respeitável, por mais que ele costume se desafogar diante de inimigos imaginários.

O Barça sempre foi uma equipe de treinadores e os registros de Luis Enrique o atestam. Ele poliu coisas, como diminuir a retórica com a bola em favor de um ataque mais direto, vertiginoso. Assim conseguiu um ataque de gala, um meio-campo versátil e uma zaga rotunda. Um time redondo até mesmo para aqueles episódios que tanto desprezava, como o jogo aéreo no ataque e na defesa. Com Messi como Hamelin, com o tempo Luis Suárez se ajustou como corsário ofensivo, Neymar despertou como trompetista do gol, ressurgiu o melhor Busquets, apareceu a versão natural de Alves, Piqué agigantou-se, Jordi Alba manteve a segurança enquanto Iniesta e Rakitic finalmente deram um salto de qualidade. E Xavi permaneceu como líder espiritual, dentro e fora do campo.

Esse Barça voador sonhava com os três broches de ouro que tem ao alcance. O primeiro passava pelo Vicente Calderón, com o título a uma vitória. Situação oposta à da temporada passada, quando o Atlético fez bingo no Camp Nou. Desta vez, está a 16 pontos do Barça. Em Madri, o clube não perdeu tempo. A equipe mostrou os dentes desde a escalação. Encarou o desafio com seu onze titular, exceto o lesionado Luis Suárez, substituído pelo melhor Pedro do ano. Sinal evidente de que não queria demorar em conquistar a Liga para se concentrar nas outras duas finalíssimas. A tarde era cinzenta, com os termômetros em combustão, o gramado estava ressecado, tornando impossível deslizar a bola, que bocejava sobre a grama a menos que Messi ligasse o turbo.

Declarações de Busquets depois da partida.Foto: sogecable | Vídeo: Sogecable

Colonizadores da bola, foi uma partida de catálogo do Barcelona, que colocou o futebol entre parênteses até suas estrelas aparecerem. A equipe rubro-branca conseguia apenas observar a posse de bola do adversário. Com o Atlético como espectador, o Barça jogou no seu estilo: toque aqui, toque ali, toque aqui. O duelo tinha uma única marcha, imposta pelos barcelonistas, que dissimulavam a pachorra até aparecerem opções diante de Oblak. Era um assunto para Messi, o maior finalizador dos visitantes, de todas as maneiras, com a cabeça ou com sua prodigiosa perna esquerda, com a qual protagonizou um chute na trave em uma cobrança de falta pela lateral direita. Também reclamou de um pênalti em toque de mão de Juanfran, assim como Daniel Alves após um agarrão de Godín.

No ritmo de Messi, custava muitíssimo ao Atlético tomar qualquer iniciativa na partida, incapaz de fugir com a bola, sequer de contra-atacar, bem cercado pela zaga azul-grená. E, também, por sua distância em relação a Bravo, que deixava Torres e Griezmann a três luas da grande área. A equipe perdeu intensidade, nada a ver com aquele grupo de corsários que picavam seus oponentes em todas as zonas do campo, com desempenhos físicos descomunais, que exigiam enormes esforços dos rivais. Hoje, com pernas de mármore, parece outro time, mais comum como um todo. Ninguém sentiu tanto isso quanto Arda Turan, que não se encontra e não é encontrado. O Atlético mantém apenas a força nas bolas paradas, com as quais criou sua melhor oportunidade, em uma cabeçada de Giménez, até um chute forte de Guilherme Siqueira no final da partida. Em Granada, na última rodada, precisará somar ao menos um ponto para garantir o terceiro lugar e uma vaga direta na fase de grupos da Liga dos Campeões.

Declarações de Bartomeu depois da vitória do Barça.Foto: sogecable | Vídeo: Sogecable

Batendo papo com a bola, o grupo de Luis Enrique conseguiu atingir um adversário que já estava abaixo do seu próprio potencial. Com Messi, a paciência é infinita, tudo é uma questão de confiar na sua pontaria. Depois de alguns chutes, La Pulga sacramentou a Liga cinco minutos depois de Cristiano Ronaldo marcar seu primeiro gol contra o Espanyol. O campeonato merecia um gol que representasse o título. E, naturalmente, Messi foi o eleito. Tabelou com Pedro dentro da área de Oblak, o argentino rodou a bola com a sola do pé, um toque instantâneo, e deu um chute com precisão cirúrgica à rede. Outra ode desse gênio, por si só uma escultura de futebol.

O golaço de Messi coroou o melhor, o melhor da Liga e o melhor do Calderón. Em vantagem, o Barça administrou o resto da partida e não ampliou apenas porque Neymar foi vencido no mano a mano por Oblak. Luis Enrique não se esqueceu de Xavi, o outro grande satélite do maior Barça da história. Porque isso e muito mais é Xavi, história pura, a excelência. O público do Calderón reconheceu isso e o recebeu com a mesma cortesia que reservou a Iniesta. Esse Barça carregado de símbolos já se sentia campeão. E assim foi. Messi brindou por todos e todos brindaram por Messi. O título foi para todos. A Liga não engana: depois de 38 rodadas, o campeão sempre é o melhor. E esse Barça que caminha para a tríplice coroa foi o melhor.

Jogadores do Barcelona celebrando o título.
Jogadores do Barcelona celebrando o título.Denis Doyle (Getty)

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