_
_
_
_

Primeiro casamento gay de um primeiro-ministro na União Europeia

Premiê de Luxemburgo, Xavier Bettel formaliza união com o arquiteto Gauthier Destenay

Belén Domínguez Cebrián
O primeiro-ministro de Luxemburgo Xavier Bettel, à direita, e seu marido na sexta-feira após se casarem.
O primeiro-ministro de Luxemburgo Xavier Bettel, à direita, e seu marido na sexta-feira após se casarem.Geert Vanden Wijngaert (AP)

É o casamento do ano. Ou pelo menos para esse pequeno país de meio milhão de habitantes: Luxemburgo. O primeiro-ministro, Xavier Bettel, se casou na sexta-feira com seu companheiro desde 2010, o arquiteto belga Gauthier Destenay, no que é um dos primeiros casamentos homossexuais do Grão-Ducado, já que em junho o Parlamento aprovou – por 56 votos a favor e somente 4 contrários – a união legal entre pessoas do mesmo sexo, mas só começou a ser posta em prática em janeiro de 2015.

Mais informações
Supremo dos EUA se divide diante do direito ao casamento igualitário
Argentina registra o seu primeiro bebê com três pais
A igualdade vence os preconceitos
Terapia (visual) contra a homofobia
Lésbicas, casadas e pastoras de uma igreja evangélica

Deste modo, Bettel, de 42 anos, deu o exemplo na sexta-feira e se casou – em uma cerimônia íntima na primeira hora da tarde, segundo sua família – fazendo uso da lei que ele mesmo aprovou como primeiro-ministro. Apesar das expectativas que esse enlace gerou, o evento pouco foi visto pois “sua vida [do primeiro-ministro] privada não é notícia que interesse à população”, disseram dias atrás fontes próximas ao casal ao jornal luxemburguês Tageblatt. De fato, Bettel recusou ofertas – supostamente milionárias – de revistas de todo o mundo para cobrir o casamento que, de acordo com alguns vazamentos à imprensa, aconteceu na Prefeitura do Grão-Ducado, no centro histórico da cidade.

Nada disso importou muito, pois a imprensa internacional falou do casamento a semana inteira ignorando a “discrição” pedida pelos protagonistas. Grandes publicações do mundo inteiro – britânicas, francesas, italianas, espanholas, norte-americanas, húngaras... – há dias comentam sobre esse casamento que parece ter todos os ingredientes para despertar o interesse popular: amor, política e homossexualidade.

Os recém casados saúdam depois do casamento.
Os recém casados saúdam depois do casamento.JOHN THYS (AFP)

A página do primeiro-ministro no Twitter apareceu mais pessoal do que profissional na sexta-feira. Uma foto romântica do casal olhando-se fixamente nos olhos chama a atenção de qualquer visitante de seu perfil. As páginas da Internet de grupos homossexuais de alguns lugares do mundo também reproduziram as boas novas.

Os protagonistas

B. D. C

As origens de Xavier Bettel são variadas. Nenhum de seus quatro avós tinha a mesma nacionalidade. Desta forma, o sangue que corre pelas veias daquele que é hoje o primeiro-ministro de Luxemburgo é russo, polonês, francês e luxemburguês.

Bettel cresceu em Bonnevoie, um bairro de 15.000 habitantes no sudeste da capital do Grão-Ducado. Durante sua adolescência, o duro golpe da morte de seu pai o forçou a ajudar sua mãe com o negócio familiar: a produção de vinho.

Bettel, entretanto, nunca deixou de se interessar pela política e desde os 18 anos fez parte – e também presidiu – as Juventudes Democráticas. Chegou a fazer parte do Parlamento com somente 26 anos e em 2013 sucedeu a Jean-Claude Juncker como primeiro-ministro do Grão-Ducado.

Muito pouco se conhece daquele que desde sexta-feira é o esposo de Bettel. Gauthier Destenay é um arquiteto belga que, segundo a imprensa local, trabalha na empresa A3. É natural de Arlon, uma província vizinha a Luxemburgo. É justamente nessa região onde, segundo os vazamentos à imprensa não confirmados oficialmente, será realizada a recepção pós cerimônia.

A questão é que não é somente mais um casamento homossexual – pois são 18 os países que mudaram a lei para permitir a união entre pessoas do mesmo sexo em todo o mundo, segundo a Freedom To Marry (Liberdade para Casar), uma associação a favor do matrimônio entre pessoas do mesmo sexo. É o cargo de Bettel que o torna tão excepcional. É um chefe de governo que realiza um casamento homossexual em pleno exercício de suas funções em um dos 28 países que formam a União Europeia. Junto com a ex-presidenta da Islândia, Jóhanna Sigurðardóttir, – que se casou com sua companheira, durante seu mandato em 2010 – e o ex-primeiro-ministro da Bélgica, Elio Di Rupo, o de Luxemburgo é agora o terceiro dirigente do Velho Continente a declarar-se abertamente homossexual. E, além disso, o segundo em poder no Governo de Bettel, Etienne Schneider, também se declarou homossexual, algo que segundo os tabloides locais indica que a sociedade “está mudando” nesse pequeno território profundamente católico e de sociedade conservadora.

Bettel saiu do armário antes de substituir em 2013 o atual presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, como a maior autoridade política do Grão-Ducado. Na ocasião, ele era o prefeito da capital e compareceu a um programa de rádio onde pediu ao técnico que tocasse uma de suas músicas favoritas: The Power of Love, de Frankie Goes to Hollywood, uma banda pop homossexual. “Só tenho uma vida, e não quero escondê-la”, disse o agora primeiro-ministro em uma entrevista ao Los Angeles Times. Bettel já havia informado ao jornal californiano em 2014 sobre seu compromisso com o belga: “Ele me perguntou se queria me casar e eu respondi que sim”, disse entusiasmado.

Após o casamento de sexta-feira, entretanto, não haverá a tradicional lua-de-mel, já que o primeiro-ministro deverá viajar na penúltima semana de maio a Astana, capital do Cazaquistão, onde participará de um encontro econômico. Além disso, Luxemburgo irá receber a partir de 1° de julho – e durante seis meses – a presidência rotativa da UE, para a qual Bettel deve estar preparado.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_