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A história que não queriam contar de Amy Winehouse

Mitch, o pai da cantora, entra na Justiça contra a produtora de um documentário no qual ele é acusado de ser o culpado por ela consumir drogas

A cantora britânica Amy Winehouse.
A cantora britânica Amy Winehouse.Cordon Press

Amy Winehouse não só foi a selvagem cantora britânica que com sua voz rouca revitalizou o soul e que, muito a contragosto, teve a sua vida privada proporcionando manchetes à voraz imprensa marrom de seu país. Quase quatro anos depois de morrer por ingerir álcool demais, seu nome regressa às primeiras páginas britânicas no que promete ser outra longa novela.

A iminente estreia em Cannes do documentário Amy, dirigido pelo britânico Asif Kapadia, diretor do excelente Senna (sobre o falecido piloto de Fórmula 1 Ayrton Senna) provocou a ira da família Winehouse, em particular de seu pai, o homem que, segundo o documentário, introduziu a artista ao mundo das drogas e do álcool. “Tinham uma ideia muito clara do filme que queriam fazer e não tinham nenhuma intenção de permitir que seus amigos ou a verdade se interpusessem em seu caminho”, argumentou Mitch Winehouse no diário The Sun. Ele é retratado também como um pai ausente, algo que marcou dolorosamente a cantora. Algo que se torna curioso, pois em março o próprio Mitch dizia sentir-se satisfeito com a realização do documentário. “Recebemos muitas propostas para um documentário sobre a vida de o trabalho de Amy. Os produtores de Senna apresentaram uma visão que olha a história de nossa filha com sensibilidade e honestidade, sem sensacionalismos. Queremos que seja um tributo a seu legado musical”, dizia o comunicado emitido pela família Winehouse. Agora, parece que o pai da cantora mudou de opinião.

O filme, que ainda não foi visto pelos críticos e que chegará às salas britânicas em 3 de julho, utiliza, entre outras coisas, acusações diretas de Blake Fielder-Civil, o ex marido da cantora, com quem ela manteve uma tempestuosa relação de quase uma década. Segundo ele, foi Mitch Winehouse a pessoa diante da qual Amy injetou heroína pela primeira vez. “Não sei como podem permitir que ele faça uma acusação tão dolorosa e inacreditável”, se defende Winehouse, que, segundo The Sun, falou com seus advogados para apresentar uma ação por difamação e impedir a estreia no Reino Unido. “Quando vi o filme pela primeira vez fiquei doente. Amy ficaria furiosa. Não é o que ela gostaria”, exclama.

O diretor e produtores do documentário se defendem afirmando que embarcaram no projeto com o apoio total da família. “Procuramos ser completamente objetivos. Realizamos mais de cem entrevistas e o filme é o resultado de todos esses encontros.”

Amy Winehouse morreu na idade maldita que muitos roqueiros não superam —os 27 anos, como Janis Joplin, Jimmy Hendrix e Jim Morrison— e o filme sobre sua vida não será o primeiro que nasce envolto em polêmica. O mais comum, se a família do protagonista não estiver diretamente envolvida na produção e não puser dinheiro para financiá-la, é que nos documentários dedicados a um personagem concreto sejam contadas coisas incômodas sobre sua vida. O que ocorre é que “os mortos, inclusive os de pior aspecto, adquirem caráter de santidade”, disse Diego Manrique neste jornal em relação à polêmica criada na Espanha pela família do cantor Antonio Vega depois da estreia do filme Tu Voz Entre Otras Mil, de Paloma Conejero.

Mas a verdade é que, se não se deleitam com o fácil interesse mórbido, esses documentários não censurados pela família costumam ser os melhores porque oferecem todas as caras de um personagem, como no caso de Vega, uma pessoa que Tu Voz Entre Otras Mil mostrava com muitas gamas de cinza e, portanto, como alguém complexo, muito mais interessante do que um retrato em branco e preto.

No caso do filme Kurt Cobain: Montage of Heck, que estreou recentemente no festival de Tribeca, foi a própria Courtney Love, esposa do falecido cantor do Nirvana, que entregou ao diretor Brett Morgen todo tipo de material íntimo, o que lhe permitiu realizar um retrato “expressionista” (segundo os críticos) do artista, mas no qual a própria Love aparece muito bem como parceira amorosa do músico. Não é de estranhar, portanto, que compareça para apoiar o filme em todas as estreias. Isso não ocorreu com outros filmes, como Kurt and Courtney, de Nick Broomfield, cuja estreia Love tentou impedir em 1997 porque era mostrada como “a bruxa” da vida do cantor e ele, como um homem torturado e farto da esposa.

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