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Alta da gasolina é a vilã da inflação, que chega a 7,7% em 12 meses

Aumento da tarifa, que estava congelada para cumprir a meta inflacionária do ano passado, representa um quarto do índice de preços em fevereiro.

A gasolina, sozinha, pesou 25% na alta do IPCA.
A gasolina, sozinha, pesou 25% na alta do IPCA. Rafael Neddermeyer (Fotos Públicas)

A inflação já está cobrando a conta do ajuste fiscal, como revela o índice oficial de fevereiro, medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A média dos preços subiu 1,22% no mês, com forte influência da alta dos impostos que incidem sobre a gasolina (PIS/Cofins), que passou a valer desde o início de fevereiro. É o mais alto índice em 12 meses, desde maio de 2005. A gasolina, sozinha, pesou 25% na alta do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador utilizado pelo Banco Central para estabelecer o regime de metas de inflação brasileiro. A meta é de 4,5%, mas com tolerância de dois pontos porcentuais para cima ou para baixo. Assim, o teto da meta é de 6,5%. Mas, em 12 meses, a alta já é de 7,7%, ou seja, a inflação começa o ano com um estouro do teto, que pode se confirmar até o final do ano.

O aumento dos impostos sobre os combustíveis, que incluiu também o etanol e o diesel,  foi anunciado no dia 19 de janeiro, como uma medida do Governo para aumentar a arrecadação e equilibrar as contas públicas, que fecharam 2014 com um dos piores resultados dos últimos anos. A alta fez parte da estratégia da equipe econômica de fechar o buraco dos gastos do Governo aumentando receitas, via arrecadação, e reduzindo despesas, via corte de gastos, alguns, inclusive, que precisam ainda ser aprovados pelo Congresso.

Desde cortar o cabelo até tomar um cafezinho, a maioria dos serviços é dependente da energia e sofrerá com essa alta André Braz, economista do Instituto Brasileiro de Economia

O IPCA é calculado com base no comportamento de nove grupos de produtos ou serviços. A alta dos combustíveis fez o grupo Transportes subir 2,2% em fevereiro, contra 1,83% em janeiro. A alta das mensalidades escolares também pesou no grupo Educação, que subiu 5,88% (0,31% em janeiro).

Para reduzir o ímpeto do dragão inflacionário, o Banco Central subiu os juros novamente, depois da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), nesta quarta-feira. A taxa Selic, referência para a economia, passou de 12,25% para 12,75%. Foi a quarta alta consecutiva depois da eleição de Dilma Rousseff, o que tem custado críticas pesadas à presidenta, pois os juros estavam congelados ao longo de 2014, um ano eleitoral. Ou seja, o Governo estaria reagindo tardiamente aos problemas que se acumulavam já no ano passado.

Conta de luz é a próxima vilã

A inflação de fevereiro também foi influenciada, ainda que em menor escala, pelo aumento da luz, principalmente em São Paulo, que passou a vigorar em janeiro deste ano. Essa influência será ainda maior nos índices dos próximos meses, avaliam especialistas, uma vez que a energia elétrica teve novos reajustes que começaram a valer nesta semana. Assim, a inflação deste ano será influenciada principalmente pelo aumento dos preços monitorados pelo Governo no primeiro trimestre. Depois de um ano eleitoral, em que foram evitados aumentos de impostos e acertos nas tarifas, os consumidores sentirão no bolso a alta do valor do transporte, da gasolina, gás e energia. Mas,a próxima vilã do IPCA será mesmo a conta da luz.

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O economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia (FGV/IBRE), estima que somente a  luz mais cara deve ser responsável por um impacto de 1,51 ponto percentual no IPCA deste ano. “Por conta de toda essa crise hídrica que estamos vivendo mais o reajuste já previsto, a conta pode ficar 50% mais cara até o fim do ano. É uma despesa que onera, em média, cerca de 3% do orçamento familiar. Pesa muito e é um efeito permanente”, explica Braz.

No início desta semana, passaram a ser aplicados ajustes extraordinários sobre distribuidoras de energia de todo o país e um acréscimo para o sistema de bandeiras de tarifas. As duas medidas vão resultar em um aumento de até 48% no preço da luz.

O especialista alerta também para os possíveis efeitos indiretos dessa alta que recairá sobre os preços dos serviços. “Desde cortar o cabelo até tomar um cafezinho, a maioria dos serviços é dependente da energia e sofrerá com essa alta. E esses prestadores de serviço podem acabar tendo que repassar os valores ao consumidor”.

O Governo coloca suas fichas nas altas de juros promovidas pelo BC para domar o dragão. “A taxa de juros encarece o crédito, diminui o consumo, e enfraquece a demanda, o que pode baixar os preços. O real desvalorizado também é repassado como um custo para o consumidor que fica mais retraído. Estamos vivendo um momento ruim, mas a perspectiva é de evolução de preços em um ritmo mais tranquilo no resto do ano”, afirma Heron do Carmo, professor de economia da USP.

A inflação deve dar uma trégua após o primeiro trimestre com um mercado menos aquecido e com um impacto menor do aumento das tarifas, explicam os especialistas. Do Carmo projeta que a taxa esperada pelo mercado, depois de abril, deve ser mantida em 0,5% ao mês. Ela chegou a 1,5% em janeiro. No entanto, para o professor, essa projeção e a do próximo ano também dependerão do andamento do ajuste de contas do Governo. “Caso seja mantida essa política econômica há uma possibilidade de uma redução da inflação para 2016 perto do centro da meta, de cerca de 5,5%”, conclui.

Uma pesquisa feita com mais de 100 bancos e instituições financeiras prevê que  o IPCA termine o ano em 7,27%, porém projeções mais pessimistas já falam em uma taxa entre 7,5% e 8%.

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