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Qual é a graça, Alexandre Frota?

Ator narra, na TV, suposto estupro cometido por ele e é criticado por apologia ao crime

Marina Rossi
Alexandre Frota, em uma foto de 2011.
Alexandre Frota, em uma foto de 2011.Luiza Sigulem (Folhapress)

Em rede nacional, o ex-ator pornô Alexandre Frota, 50 anos, anunciou que dividiria com os telespectadores da Band parte de seu show stand up comedy, composto "de várias histórias que aconteceram na minha vida", ele explicou. Dentre outras coisas, Frota narrou um suposto estupro que cometeu. Encenou o que ocorrera durante uma consulta com uma mãe de santo. Afirmou que “de tanto apertá-la, ela chegou a desmaiar”, e que, ainda assim, ele finalizou o ato. Chegou a fazer parte da cena com uma garota da plateia. Que riu.

Foi na quinta-feira passada, durante o Agora é Tarde, programa de TV do apresentador Rafinha Bastos, que pediu palmas da plateia. Bastos foi o mesmo que declarou, há alguns anos, que “toda mulher que reclama que foi estuprada é feia” e que “homem que cometeu o ato merece um abraço invés de cadeia”, durante um stand up.

As declarações provocaram imediata reações nas redes sociais – e o mais surpreendente é que se tratava de uma reprise: o relato de Frota foi ao ar pela primeira vez em maio de 2014. O coletivo Mariach  publicou em sua página no Facebook um longo texto de repúdio à história de Frota. “Um crime hediondo foi confessado e aplaudido em rede nacional. Como isso é possível? Ora, num país onde uma mulher é estuprada a cada 12 segundos, não é difícil compreender que uma estatística alarmante como essa é produto de uma cultura que valoriza e cotidianiza a violência sexual”, dizia o texto.

O site feminista Think Olga também criticou a entrevista, por meio de sua página oficial no Facebook. "Estaria a mídia abrindo mão do público feminino? Até quando vamos ler artigos que ridicularizam mulheres (alô, Revista Veja) e homens sendo ovacionados ao admitir estupros em rede nacional? Está na hora dos veículos de comunicação assumirem sua responsabilidade como patrocinadores da violência contra a mulher. Isso NÃO É ENTRETENIMENTO", dizia o texto. A referência à Veja ocorreu porque reportagem veiculada pela revista neste final de semana ironiza o discurso da atriz Patricia Arquette por paridade salarial ao ganhar o Oscar

Maria do Rosário, deputada federal e ex-secretária de Direitos Humanos, também se pronunciou, por meio de sua conta no Twitter: "A vontade de chorar que muitas de nós mulheres sentimos diante desse aplauso ao crime de estupro deve virar força e luta", escreveu.

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Ao portal Ig, Frota disse, nesta segunda-feira, que a história era piada. “É a segunda vez que reprisam essa entrevista. No inédito, quando passou [pela primeira vez] ninguém reclamou e nenhum ativista apareceu”, disse ao portal de notícias. “A mãe de santo é fictícia, por isso não menciono o nome, porque ela não existe. A história faz parte do meu stand up, no ano passado. É uma história contada em forma de piada, com humor”, disse.

Ele ainda afirmou que não se desculparia, já que não fez nada de errado. “Temos liberdade de criar e roteirizar. Respeito as mulheres, sou muito bem casado e essa onda é falta do que fazer”, afirmou. Há muito o que se fazer, na verdade. A pena para crimes de estupro no Brasil, por exemplo, é de seis a dez anos de prisão.

Em sua conta no Twitter, Rafinha Bastos saiu em defesa do ator. "Aquilo nunca aconteceu. Se tivesse acontecido, ele estava na cadeia. Foi uma história inventada", escreveu.

Embates na mídia

A “história inventada” entra para uma lista recente de episódios envolvendo mídia e ofensas de gênero. No início do mês, o Ministério da Justiça veiculou uma campanha ligava o consumo de álcool por mulheres a possíveis agressões, o que foi fortemente criticado. O Ministério acabou por se desculpar publicamente e tirou a peça do ar.

Poucos dias depois, a cervejaria Skol espalhou pela cidade de São Paulo uma campanha direcionada ao Carnaval. As peças diziam “Esqueci o 'não' em casa”, “Topo antes de saber a pergunta” e “Tô na sua mesmo sem saber qual é a sua”. Uma nova enxurrada de críticas tomou conta das redes sociais, criticando a propaganda em um momento em que se discute o assédio às mulheres nas ruas. A companhia retirou as peças da cidade e se retratou. Poucos dias depois, a Ambev, dona da marca, anunciou a substituição do seu diretor de marketing, Pedro Henrique Sá Earp.

Os ativistas argumentam que não se trata de controle ou de censura. Explicam que, se para o controle de conteúdo ofensivo ou inadequado na publicidade existe o Conar, para os programas de TV não há nada do gênero: quase tudo pode. A resposta usual tem sido pressão da opinião pública e, depois, a Justiça.

No passado, Rafinha Bastos teve que deixar o programa CQC e responder por uma ação judicial porque resolveu dizer à cantora Wanessa Camargo que “comeria ela e o filho”, na época em que a artista estava grávida.

Mesmo antes de Rafinha, o Agora é Tarde já tinha tido problemas. O antigo apresentador Danilo Gentili foi processado em 2013 por danos morais por ter ridicularizado Michele Maximino, a maior doadora de leite materno do mundo. O apresentador comparou Maximino com o ator pornô Kid Bengala. A audiência que julgará o caso está marcada para esta quarta-feira, no Tribunal de Olinda, segundo informou o Diário de Pernambuco.

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